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Apoio de Chicão e bate-boca com Guerrero: a vida de P. Henrique pós-choro

Vinícius Bacelar

Colaboração para o UOL, em São Paulo

22/08/2016 06h00

O zagueiro corintiano Pedro Henrique, de 20 anos, está de volta. Após lesionar o músculo posterior da coxa esquerda no jogo contra a Chapecoense, no dia 9 de julho, o jogador foi relacionado para a partida contra o Vitória, nesta segunda, às 20h, na Arena Corinthians, pela 21ª rodada do Brasileiro.

O atleta catarinense chegou a ser titular em sete jogos na competição antes de se contundir. Isto porque Felipe foi negociado com o Porto e Yago também ficou afastado por causa de uma lesão.

Entre as partidas em que o jogador foi titular, duas ficaram marcadas para Pedro Henrique: contra Atlético-MG e Flamengo. Diante do time mineiro, o zagueiro falhou no gol de Cazares, o segundo na derrota por 2 a 1. Após o apito final, o jogador chorou no gramado e foi consolado até por rivais. Nos 4 a 0 sobre o Flamengo, o bate-boca com Guerrero.

Nesta entrevista para o UOL Esporte, Pedro Henrique, casado há oito meses com Caroline Ribeiro, falou sobre o choro, o apoio que recebeu dos ex-corintianos Chicão e Gil, as constantes mudanças na equipe do Corinthians, a adaptação à cidade de São Paulo e os planos para o futuro.

Pedro Henrique - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians - Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians
Pedro Henrique e Guerrero disputam bola em jogo na Arena Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr./Ag. Corinthians

Como você chegou ao Corinthians e como foi a adaptação à cidade de São Paulo?

Cheguei aos 17 anos com a minha mãe. Disputei uma competição de base em Santa Catarina e o Agnello Gonçalves [ex-diretor da categoria de base do Corinthians] me trouxe. No começo foi difícil a adaptação. Não vou negar. Eu era muito apegado à minha família. Imagina jogar no clube da cidade [Imbituba]...Ali pertinho era tudo bom, mas vim para São Paulo e sofri com as saudades dos meus pais e meus irmãos. Depois de um tempo me acostumei e ficou tudo bem.

E estrear como profissional pelo Corinthians?

Antes de estrear pelo Corinthians, joguei por seis meses no Bragantino. Mas no dia em que fui escalado pelo Tite [contra o Coritiba, na sexta rodada do Campeonato Brasileiro] fiquei 24 horas pensando em milhares de coisas. Como faria se a bola viesse: tocaria ou daria um bicão? Mas, graças a Deus, os meus companheiros me deram bastante força e o Tite também. Eles me passaram confiança para desempenhar o meu trabalho. Deu tudo certo.

Sobre o jogo contra o Atlético-MG, você falhou no gol do Cazares e chorou depois do jogo. O que passou pela sua cabeça ali?

Aqui é um clube onde se cobra bastante, né? A cobrança da torcida é grande e ali você imagina milhares de coisas, imagina que acabou tudo. Porque subi da base, tem uma oportunidade e falha. Mas graças a Deus, a torcida reagiu da melhor maneira possível. Ela me apoiou. Só tenho a agradecer aos meus companheiros, o professor Cristóvão, que me apoiou no vestiário, e assim consegui dar a volta por cima.

O que chegou a pensar?

Não cheguei a pensar que tinha acabado tudo. Cheguei a pensar só nas críticas. Mas depois do jogo, consegui esfriar a cabeça. As críticas vêm para te fortalecer e para te fazer melhor.

Até os rivais foram falar com você. Robinho é um jogador conhecido por ser carrasco do Corinthians, mas fez questão de conversar contigo. O que ele te disse?

Não só ele, como o Fred, o Cazares, o Dátolo...Falaram que eu estava em um clube grande e que não podia me abalar pelo erro, para eu levantar a cabeça. Disseram que eu tinha um grande potencial e para eu continuar trabalhando.

Você disse que pensou nas críticas. Chegou a temer sair de casa por causa da torcida?

Não, porque no dia seguinte eu recebi muitas mensagens dos torcedores nas redes sociais. Eu acho que uns criticam e outros não, né? Mas isso é normal, né? Críticas vêm para você evoluir, para você aceitar e evoluir.

Além da família, do Cristóvão e dos companheiros, quem mais falou com você sobre o choro?

A Melissa, psicóloga da base, mandou uma mensagem, mas como amiga. Por gostar de mim e porque tínhamos uma relação de respeito na base.  Houve outras pessoas do meio do futebol também como o Gil [ex-zagueiro do Corinthians] e o Chicão, que mandou uma mensagem por meio do Alessandro [ex-lateral].

E qual do elenco corintiano mais te ajudou?

Todos me ajudaram a ficar mais tranquilo, mas quem me abraçou mesmo foi o Arana [lateral esquerdo] e o Léo Santos [zagueiro].

E o que o Cristóvão falou para você depois desse jogo?

Ele falou para eu não me abalar, para eu ficar tranquilo, para trabalhar porque tenho um grande potencial e não era aquilo que apagar o que eu tinha feito na partida. Ele disse que eu estava bem na partida e não era um erro que iria apagar tudo que eu tinha feito.  Era para eu continuar firme.

Depois você se saiu bem contra o Flamengo. Como foi a preparação para este jogo? Você iria enfrentar o Guerrero, que tem a sua história escrita no Corinthians, mas hoje não é bem visto pela torcida pela forma como saiu...

Fiquei ansioso. Falava comigo mesmo no meu quarto e conversava até com a minha esposa. Eu precisava fazer um grande jogo contra o Flamengo e não foi diferente, né? Eu, em uma linha de quatro, pude marcá-lo muito bem. Todos o marcaram bem.

Chegou a falar com o Guerrero durante o jogo? Ele é conhecido por ser um jogador chato de ser marcado, não só pela qualidade, mas também por procurar o contato e reclamar muito...

A gente se cumprimentou. Cada um quis defender a sua equipe. Eu defendendo o Corinthians e ele, o Flamengo. Os ânimos se exaltaram um pouquinho. Acabamos tendo um desentendimento. A gente se xingou, o que é normal de jogo, né? O estádio lotado... Acabamos nos xingando ali, mas passou, ficou dentro de campo e fora somos amigos.

Como era a convivência com o Guerrero no Corinthians? Chegava junto nos treinamentos ou aliviava com medo de machucá-lo?

Não tinha receio nenhum. Nós dois chegávamos forte. Os dois queriam mostrar o melhor para o treinador.

Quais são os seus planos para o futuro? Estudos, jogar na Europa...

Todo jogador tem o sonho de jogar na Europa e chegar à seleção brasileira. Eu penso igual. Meu sonho é jogar na Europa, chegar à seleção, mas quero ficar aqui no Corinthians um bom tempo. Sou muito novo ainda. Agora sobre os estudos, eu fiz até o segundo ano do ensino médio, quero terminar o último ano, mas não penso em fazer faculdade por enquanto não.

Pedro Henrique - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians - Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Pedro Henrique reza antes de jogo do Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

Tem algum zagueiro em quem você se inspira?

Eu me inspiro muito no Gil. Não só porque ele era meu companheiro aqui, mas é um cara que trabalha bastante e se dedica bastante. Eu o tenho como ídolo e me inspiro bastante nele.

Qual é o jogador mais difícil de marcar na elite do futebol brasileiro?

Grafite e Guerrero. São caras experientes e que se movimentam muito. Em uma hora, você pensa que eles estão perto, mas dá uma piscada e já não estão mais.

Qual é a principal diferença entre o Cristóvão e o Tite?

Cada um tem sua metodologia. Cristóvão é mais calmo e o Tite é mais enérgico. São dois grandes treinadores. Não é á toa que o Tite está na seleção. Estamos nos adaptando à maneira de trabalhar do Cristóvão da melhor maneira possível.

Tite reagiria diferente se fosse o técnico no jogo contra o Atlético-MG, quando você falhou?

Acho que não. Porque ele tratava a gente como um filho. Todos os jogadores gostavam dele.

 

Por que o Corinthians caiu de produção, não ganha há três jogos e saiu do G4?

A gente pode se doar mais. Todos nós sabemos que faltam alguns detalhes. Eu acho que estamos falhando na última bola, na hora de colocar a bola para dentro. Estamos desperdiçando muitos gols. E não falo só dos atacantes. Zagueiros e volantes também perdem em lances de bola parada. Não é nem por falta de tranquilidade. Estamos com um pouco de azar também.

O Corinthians precisa de reforços?

Todos que estão aqui têm qualidade. Ninguém está aqui por acaso. É um grande elenco, mas claro que se chegar alguma peça, a gente vai receber da melhor maneira possível.