Fagner abre o jogo: tatuagens, pai herói e infância em bairro violento
Fagner não tinha nem 10 anos quando chegou ao Corinthians e havia acabado de completar 17 quando virou profissional. Antes de tudo isso, e de ser um dos mais jogadores referenciais da equipe na atualidade, já tinha driblado muito. Já havia passado por cima de obstáculos importantes. E era apenas um menino.
Nessa altura, tinha driblado a violência no Jardim Capelinha, um dos mais violentos bairros de São Paulo e onde cresceu. Também driblou uma cirurgia de emergência no braço, aos 6 anos, por um corte profundo enquanto brincava com os amigos. Desse episódio, tirou uma lição importante com o pai: fazer tudo pelos filhos.
Na época, para pagar a cirurgia, Calixto vendeu o carro para pagar a cirurgia de Fagner, que hoje se orgulha de uma coisa em especial. O lateral do Corinthians, campeão brasileiro de 2015 e cotado para ir à seleção, sorri mesmo é pelos filhos Henrique (6 anos) e Lucca (1 ano) e por dar a eles a certeza de um bom futuro. Ao UOL Esporte, nesta entrevista exclusiva, o camisa 23 conta sobre isso e mais.
UM DOS PROTAGONISTAS DA EQUIPE
Fagner - Fico feliz, né? Ao mesmo tempo tenho que deixar as coisas bem naturais. Deixar as coisas acontecerem, procuro estar sempre ajudando, procuro estar evoluindo de alguma forma, para que eu possa estar ajudando meus companheiros e eles estarem me ajudando também. Quanto a esse papel de protagonista, isso eu deixo para vocês de imprensa, da torcida. Como eu te falei, procuro ser mais um, procuro ajudar, para que a gente consiga a vitória e sempre o melhor dentro de campo.
EVOLUÇÃO NA VOLTA AO CORINTHIANS É CONSTANTE
Fagner - Eu acho que é o querer aprender, querer evoluir. O jogador, o atleta, quando acha que está bom, entra numa zona de conforto, né? Eu me cobro muito, procurando estar sempre evoluindo. Se eu, em jogo eu vejo que eu fui de uma maneira ou outra, não tão bem como eu deveria, eu já me cobro, exijo de mim mesmo que as coisas melhorem no próximo e já procuro trabalhar mais. Procuro ouvir bastante também, trocar ideias com auxiliares, com o Fábio (Carille), o Fernando (Lázaro), para estar evoluindo, estar aprendendo. Isso tem me ajudado bastante.
TRABALHOS PARA MARCAR MELHOR
Fagner - Também (são importantes), acho que sim. Uma grande característica que tinha era de avançar bastante e, quando eu vim para cá, você tem que entender bem o conceito da linha de quatro, de defender. Você também vai tendo o amadurecimento da idade, da vivência de jogos, e isso vai fazendo você evoluir também.
MENOS OFENSIVO COM CRISTÓVÃO
Fagner - Depende… às vezes pelo posicionamento, o atleta que está jogando na sua frente, isso faz com que você tenha que sair um pouco menos. Então hoje estamos jogando com Romero e Luciano. O Romero (pela ponta direita) é um atacante de ofício, então ele não tem a mesma característica do Marquinhos ou do Giovanni (Augusto) de flutuar, de abrir espaço. Então às vezes você tem que se resguardar e sair com a bola mais dominada, então isso vai mudando um pouquinho o jeito. Você tem que ler o jogo de uma maneira diferente também.
OS ACERTOS DO NOVO TREINADOR
Fagner - Acho que a conversa, né? Tem passado umas coisas que ele queria que a gente fizesse em termos de conversa, até porque nós não tivemos tempo para trabalhar, por estar tendo um jogo atrás do outro. Então acho que as conversas, os ajustes, acho que os atletas também entenderem isso. É trocar ideias para um bem maior, que é o clube. Então acho que isso (fazer poucas mudanças na chegada) foi importante para que a gente conseguisse se manter lá em cima da tabela.
CRESCIMENTO DE CRISTÓVÃO DESDE O VASCO
Fagner - Evoluiu, com certeza. A gente sabe que faz cinco anos desde que a gente trabalhou no Vasco para hoje. Provavelmente ele deve ter estudado, trabalhou em outros lugares também. Então agora a gente está tendo a oportunidade de trabalhar numa semana cheia, de estar mais próximos, de trocar mais ideias, fazer também na prática. Isso tudo ajuda para que no contexto final as coisas comecem a se encaixar cada vez melhor.
FOI CONSULTADO PELA DIREÇÃO SOBRE CRISTÓVÃO
Fagner - É, eles me perguntaram o que era o Cristóvão, como era a pessoa dele, o trabalho, tudo o mais. Eu falei que era uma pessoa, como todo mundo já conhece, bem serena e provavelmente por ter passado por outros lugares, teria evoluído bastante nas questões de campo e extracampo também. Eu fico feliz que ele possa ter vindo e está aqui para nos ajudar.
TITE VAI CONVOCAR FAGNER?
Fagner - Na verdade procuro não pensar, né? Como eu sempre digo minha expectativa maior é no próximo jogo que a gente vai ter aqui, no próximo trabalho, no próximo treino. Porque se eu criar expectativa de uma coisa que eu não tenho e deixar de fazer o meu trabalho aqui, eu acabo não tendo nenhuma das duas coisas. Então eu tenho que estar sempre pensando em evoluir aqui, continuar fazendo meu trabalho, para que se isso acontecer, aconteça de uma maneira natural. (...) Eu procuro não misturar para que as coisas continuem no mesmo nível.
PAIXÃO POR TATUAGENS
Fagner - Eu já perdi as contas. Os dois braços estão fechados, costas quase fechadas, a perna. Na verdade, falta terminar uma fênix que eu estava arrumando, só falta terminar algumas coisas, pintar o peito, que eu estou enrolando um pouquinho. Dói bastante (risos).
TATUAGENS DE FUTEBOL? DE CORINTHIANS? SÓ NO FUTURO
Fagner - Ainda não tenho (nenhuma em homenagem ao Corinthians). É difícil fazer algo em referência com o clube que você está hoje porque nossa carreira é muito dinâmica. O carinho e o respeito existem pelo Corinthians, porque foi o clube que me criou, já estou aqui há mais de 10 anos, contando tudo. Então isso tem que ser feito depois que eu parar de jogar, alguma homenagem, alguma coisa.
PREOCUPAÇÕES COM AS TATUAGENS
Fagner - Que não se confundam as coisas com a torcida e tudo o mais, porque futuramente a gente não sabe o que pode acontecer. É como eu te falei, nossa carreira é muito dinâmica, a gente não sabe o que pode acontecer. Tenho um carinho enorme daqui, para eu sair daqui e ir para outro lugar é difícil, tem que ser uma coisa que para carreira, você possa almejar algo, que te dê aquela faísca, porque é como eu te falei: estou em casa. Faz 10 anos que eu estou aqui, sou de São Paulo, para mim está tudo muito bom.
CHEGOU AO CORINTHIANS HÁ 17 ANOS
Fagner - Eu cheguei em abril de 1999. Vim fazer um teste, uma peneira, e acabei ficando, fui ficando, e fiquei. Quando eu vim fazer teste eu queria ser atacante. Daí foram me colocando em todas as posições até me deixarem na lateral. Fiquei e me acostumei. De tudo que aconteceu, eu fiquei no lugar certo, me adaptei bem, na hora certa. Tudo foi se ajustando de uma tal maneira que eu me sinto bem ali e estou feliz.
COMO FOI PARAR NO CORINTHIANS
Fagner - Estava numa escolinha perto de onde eu morava e o treinador de lá era treinador do Corinthians na época. Aí ele me falou que ia me trazer para fazer um treino e foi que ele me trouxe. Daí eu comecei a vir, o treinador me mandava voltar na outra semana, e fui ficando. E fiquei.
INFÂNCIA NO JARDIM CAPELINHA, BAIRRO VIOLENTO
Fagner - É, tipo...onde eu morava tinham as favelas e eu morava num condomínio de apartamentos que não tinha tanto esse contato (com a parte violenta). Mas você passava perto quando você pegava um ônibus, ou quando você ia andar na rua. Isso era fato. Mas, graças a Deus, nunca tive problema nenhum. Eu, meu pai, meu irmão...nunca fomos de arrumar briga, confusão com ninguém. Sempre tivemos uma boa relação com todo mundo. Então graças a Deus eu não vivi essa parte de violência, esse tipo de problema.
VIOLÊNCIA NO BAIRRO
Fagner - Eu era pequeno, não tinha muito… Como eu ficava mais no prédio, não passei por muita coisa.
SATISFAÇÃO EM DAR CONFORTO AOS FILHOS
Fagner - Primeiro eu fico feliz em dar uma realidade diferente da que eu tive para ele hoje. Isso, qualquer pai se sente orgulhoso e feliz. Ao mesmo tempo, eu vou deixar a escolha dele. O que ele optar por fazer, eu vou apoiar, e isso é o que o pai tem que fazer. Se ele decidir jogar futebol, que ele gosta, eu vou apoiar. Se ele decidir ser médico, vou apoiar igual. Então como ele é muito criança ainda, e ele vê futebol, vive, ele gosta. Tem a escolinha que ele gosta, que ele ele vai, tem os joguinhos dele e quando posso eu vou para incentivar, e ajudar. E se amanhã ele decidir 'não quero jogar futebol', quero ser médico, 'filho, que você seja feliz, que eu vou te apoiar no que eu puder'. É a melhor coisa que, como pai, eu posso oferecer.
FILHO PEQUENO QUER SER JOGADOR
Fagner - Ele vem aqui (CT do Corinthians) direto. A miniatura (é como chamam, por ser muito parecido com Fagner). Agora não (tem ido) mais, porque a escola está exigindo um pouco mais dele, então ele não está conseguindo vir como vinha antes. Mas, sempre que dá, a gente procura trazer, ele está sempre entrando no campo comigo, sempre vai com a minha esposa nos jogos, está sempre acompanhando.
ATACANTE GANHA MAIS
Fagner - Por isso que eu falo para o meu filho 'vai virar atacante que o papai já não tem mais jeito. Papai vai ficar ali (na lateral), quietinho'.
LEÃO NÃO É DURÃO
Fagner - Graças a Deus sempre tive uma relação boa com ele. Foi uma pessoa que me ajudou muito no clube quando eu subi. Me deu confiança, me deu respaldo muito grande para que eu jogasse com 17 anos como se estivesse no júnior, já estando no profissional. Então eu agradeço, sempre agradeci a ele. Subi ao profissional num momento complicado, que o grupo se encontrava... (em má fase). Depende muito. É que, às vezes, a imprensa, um ou outro tem uma pergunta que não agrada muito, e às vezes você está saindo de um jogo de cabeça mais quente e isso acaba afetando um pouco mais. Mas, como pessoa, para mim foi muito boa.
NA HOLANDA AOS 18 ANOS
Fagner - Foi uma experiência boa, não vou dizer que foi ruim porque fez com que eu amadurecesse muitas coisas que talvez eu não tivesse aprendido. Morei boa parte (do tempo na Holanda) sozinho. Era outro país, outra cultura, uma língua diferente, você tendo que se virar , então isso tudo fez com que amadurecesse num todo. Tanto que, quando fui à Alemanha (jogar no Wolfsburg em 2012), muitas coisas já contribuíram. Quando fui com a minha família já sabia como funcionava (viver fora), então isso tudo foi muito mais fácil, isso ajudou.
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