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Sucesso do Cruzeiro em campo não ajuda presidente a se eleger deputado

Dionizio Oliveira e Bernardo Lacerda

Do UOL, em Belo Horizonte

07/10/2014 06h00

 O título brasileiro de 2013 e a liderança folgada do Brasileirão não foram suficientes para ajudar o presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, a se eleger deputado estadual em Minas Gerais. Com 38.400 votos (0,37% do total), o dirigente ficou na 94ª posição entre os deputados estaduais mais votados e não conseguiu uma das 77 cadeiras na Assembleia Legislativa mineira.

Na coligação Minas Avança, que englobava o PDT e o PV, partido de Gilvan, oito candidatos foram eleitos, sendo quatro de cada agremiação. Vice-prefeito de Belo Horizonte e uma das lideranças do Partido Verde em Minas, Délio Malheiros, ficou surpreso pela não eleição do mandatário celeste e considerou baixo o número de votos do dirigente.

Ele culpou a pouca divulgação pelo fracasso nas urnas e acredita que a imagem de Gilvan foi mal explorada, já que tem boa gestão à frente do Cruzeiro, clube que atravessa ótimo momento dentro das quatro linhas e que tem possibilidade de 97,5% de ser campeão brasileiro, de acordo com o site Chance de Gol. “Foi uma surpresa negativa, dessas pegadinhas que acontecem em eleição. Acredito que possa ter sido um erro na divulgação, pois é um candidato excepcional e que foi mal divulgado”, afirmou Délio Malheiros.

O político revela que cobrou do dirigente uma atuação maior nas propagandas e que sua campanha fosse mais associada ao clube de futebol. “Acho que faltou informação de que ele era candidato, a ligação como presidente do Cruzeiro. Faltou informar ao eleitor quem ele era. Já tinha reclamado com ele que não estava vendo a campanha da forma que tinha que ser”, contou.

Gilvan foi mais um caso entre esportistas mal sucedidos em Minas Gerais. Nessa eleição, outros nomes ligados ao futebol e ao esporte em geral acabaram fracassando, como o ex-goleiro cruzeirense Raul Plassmann e Giovane Gávio, ex-craque do vôlei, que não conseguiram se eleger deputados federais. Já os ex-atacantes Marques e Reinaldo, ainda ídolos do Atlético-MG, fracassaram nas tentativas de chegarem à Assembleia Legislativa.

“Tivemos exemplos em todo o país de pessoas ligadas ao esporte que não tiveram sucesso. O Dinamite (Roberto Dinamite, presidente do Vasco) é um exemplo, o Gilvan outro. Mas ainda acho cedo para falar que o cenário da pessoa ligada ao esporte esteja ruim para a política. Acho que é o resultado de uma eleição ainda, que não dá para considerar como uma nova realidade no cenário político e esportivo”, disse Paulo Roberto Leal, cientista político e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Ele lembra o exemplo do ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez, que foi eleito deputado com uma “votação expressiva”. Para o cientista político, ainda que Gilvan não tenha sido eleito, a eleição de presidentes de clubes de futebol ainda está relacionada diretamente ao momento da equipe e também da aceitação do trabalho dele no time. “No futebol, ainda se tem a imagem do presidente que é personalista, depende do trabalho dele e dos resultados no clube. Acaba que uma coisa está ligada a outra”, observou Leal.

Atritos com torcidas organizadas

Gilvan Tavares cortou laços com as torcidas organizadas do Cruzeiro, ao retirar alguns benefícios, como dinheiro para ônibus, venda especial de ingressos, entre outros, desde que assumiu o clube. Na diretoria, há um consenso de que a torcida vem prejudicando propositalmente a equipe com brigas em campo, especialmente a Máfia Azul e a Pavilhão Independente, para forçar a perda de mando de campo como retaliação às medidas tomadas pela nova administração.

Procurados pelo UOL Esporte, membros da Máfia Azul, principal organizada do clube, e que não quiseram se identificar, informaram que se colocaram à disposição do presidente celeste para apoiá-lo durante a eleição, mas não foram procurados por Gilvan Tavares. Por isso, não fizeram campanha. Internamente, a organizada avalia que com 23 mil integrantes, a torcida organizada poderia ajudar o presidente celeste a se eleger deputado estadual. Juntamente com a Pavilhão Independente, e a Galoucura, do Atlético, a Máfia Azul está suspensa por seis meses em todos os estádios brasileiros.

Erros na campanha do mandatário do Cruzeiro - Rodrigo Lima/UOL - Rodrigo Lima/UOL
Vice-prefeito Délio Malheiros (com o prefeito Márcio Lacerda) revela falhas de divulgação na candidatura de Gilvan Tavares pelo PV
Imagem: Rodrigo Lima/UOL

O cientista político Paulo Roberto Leal crê que o desentendimento entre Gilvan e algumas torcidas organizadas do Cruzeiro pode ter refletido no resultado da votação do candidato a deputado estadual. “Acho que pode sim ter influenciado, mas acho que é um caso em específico e que não é possível inserir em uma análise geral em cima de toda a eleição”, ressaltou.

Délio Malheiros não acredita que as declarações contra essas organizações possa ter influenciado negativamente nos demais torcedores cruzeirenses. “Não acredito, porque as organizadas representam pouca gente”, explica.

Nesta quinta-feira, Gilvan de Pinho Tavares deverá ser reeleito presidente do Cruzeiro, por aclamação, já que há apenas a chapa oficial registrada. O UOL Esporte tentou entrar em contato com o mandatário cruzeirense por meio da assessoria de comunicação do clube estrelado, mas não obteve resposta.