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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Como um carrinho por trás em Tevez mudou a carreira de Gustavo Gómez

Carrinho por trás de Gómez em Tevez em um Lanús x Boca de 2015 - Reprodução TV
Carrinho por trás de Gómez em Tevez em um Lanús x Boca de 2015 Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

08/03/2021 12h00

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Era sexta-feira, 23 de outubro de 2015, e Boca Juniors e Lanús jogavam a semifinal da Copa Argentina em San Juan. Aos 35 do segundo tempo, com o Boca vencendo por 2 a 0, o hoje palmeirense Gustavo Gómez, defendendo o Lanús, levantou Carlitos Tevez por trás e levou o cartão vermelho direto.

Ir para o chuveiro mais cedo não foi nada perto da chuva de críticas. Tevez acabara de trocar a Juventus pelo Boca, e o carrinho de Gómez virou um símbolo da violência que esperaria Carlitos na Argentina. "Se caçam desse jeito o grande ídolo do clube mais popular, o que fazemos?", era a pergunta.

Gómez tinha só 22 anos, e a repercussão da patada mudou sua carreira. "Foi ali que aprendi a colocar 'freio no caminhão'. Quis antecipar, e Carlitos saltou", contou em 2016 à revista El Gráfico, quando o Lanús foi campeão argentino e Gustavo começou a ser chamado de Mariscal ("Marechal"), apelido dado só a defensores de muito peso no país como Roberto Perfumo e Daniel Passarella.

"Foi uma jogada inesquecível, e meus dois técnicos [Guillermo Barros Schelotto no Lanús e Ramón Díaz na seleção] falaram muito comigo. Aprendi demais a me posicionar, a me concentrar, a dosar minhas forças. Sempre dá para aprender, e com dois treinadores tão especiais, muito mais fácil."

De "grandão desajeitado", Gómez logo passou a ser "potente e preciso", e ninguém se surpreendeu quando ele deixou o Lanús rumo ao Milan em 2016. O Boca comandado por Schelotto tentou sua contratação de todas as formas em 2018, e não são poucos os torcedores xeneizes que atribuem a derrota para o River Plate naquela Libertadores apenas à sua ausência na defesa.

O amadurecimento argentino do ídolo palmeirense ocorreu também fora das quatro linhas. Gómez era presença fácil na imprensa para incentivar a leitura de livros - seus preferidos eram os ensaios políticos, "mas não falo muito para não morder qualquer anzol", repetia, embora não fugisse da dividida ao revelar o gosto pelas músicas contestadoras das desigualdades sociais das bandas Callejeros e Calle 13. Quem via seu corpanzil de 85 quilos distribuídos por 1,85 metro custava a acreditar que o defensor paraguaio era também fã da tranquilidade do reggae do cantor Dread Mar I, o preferido de Lionel Messi.