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Prata no Pan, Matheus treinava na rua até menos de dois anos atrás

Matheus Lima chegou à medalha de prata nos 400m com barreiras dos Jogos Pan-Americanos após uma única temporada com condições adequadas. Até 2021, o cearense treinava na rua, na avenida do Aeroporto Internacional de Fortaleza.

"Era bastante complicado. Tinha carro, pessoas atrapalhando. Por correr na rua, não podia usar sapatilha, sempre tênis", conta Matheus, corredor de apenas 20 anos, que até o ano passado nunca havia tomado um avião ali do lado e deixado o país.

Ponta-esquerda da escolinha que o Juazeiro mantinha em Fortaleza, Matheus sempre foi mais rápido que os marcadores, mas, enquanto garoto, recusava a ideia de fazer um teste no atletismo. Via a molecada correndo na rua de shortinho e regata e dizia que não era para ele.

Até que aceitou a oferta, treinou, gostou, correu, ganhou, e adorou. "Peguei o gosto de ganhar, e isso me fez ficar no atletismo", diz. O ponta promissor virou corredor de 400m e 800m rasos, que só começou a treinar a versão com barreiras no ano passado, quando saiu de Fortaleza para defender o CRB, de Alagoas.

Tinha 18 anos e enfim trocava o asfalto por uma pista... de terra. "Só fui treinar em pista sintética no fim de 2022. Só tem um ano e pouquinho de treino de pista. Em Maceió treinava na terra", lembra. Na época, já tinha pedido uma oportunidade para o técnico Sanderlei Parrella, vice-campeão mundial dos 400m em 2002 e maior nome da história do Brasil na prova.

Mas o Pinheiros, clube de Sanderlei, não tinha vaga para contratá-lo. A situação mudou quando Matheus fez ótima temporada no ano passado, treinando em condições um pouco melhores. Venceu o Brasileiro Sub-20, foi semifinalista do Mundial da categoria, e prata no Sul-Americano Sub-23.

No fim do ano passado, ele enfim foi contratado para treinar sob as orientações de Sanderlei, em Bragança Paulista. Logo na estreia, em março, fez 49s10, uma marca de semifinalista de Mundial adulto. "Eu sei que eu tô com perna para correr 48s, mas entendo os planos de Deus e não é isso que ele quer para mim agora. Infelizmente passei por três lesões seguidas que prejudicaram meu ano. Se não fosse isso, estaria correndo melhor", avalia.

No Pan, não fez uma prova limpa, bateu na última barreira, e mesmo assim ganhou a prata com 49s69, um resultado que o aproxima das Olimpíadas, para a qual Alison 'Piu', que não veio ao Pan, já está classificado. O torneio em Santiago, afinal, vale muitos pontos no ranking olímpico.

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