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Ídolos do esporte usam arma de Wallace para dar tiro no próprio pé

Tom Pennington/Getty Images
Imagem: Tom Pennington/Getty Images

17/04/2023 13h00

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A Comissão de Atletas (CA) do Comitê Olímpico do Brasil (COB) encaminhou ao Conselho de Ética da entidade a seguinte denúncia: uma pessoa ligada a uma confederação praticou violência contra um atleta fora do "âmbito da atividade esportiva". Mas, dias depois, a mesma comissão veio a público e defendeu posição oposta — o que acontece fora do ambiente esportivo não é passível de punição pelo conselho (e, na prática, por ninguém).

A postura, que tinha como objetivo colocar a CACOB ao lado de Wallace, do vôlei, foi explicitada em um post no Instagram publicado na sexta-feira (14)à noite. Depois da ladainha de que o grupo "não compactua" com comportamentos que possam gerar violência, a Comissão declarou que "não cabe ao conselho julgar casos que aconteçam fora do âmbito da atividade esportiva". E alertou: "o desrespeito à jurisdição e ao próprio Código de Conduta Ética do COB poderá abrir precedentes extremamente prejudiciais ao movimento olímpico".

A CACOB não poderia estar mais errada. O que abre precedente extremamente prejudicial (e não só ao movimento olímpico) é atletas defenderem a ideia de que o esporte não pode punir o que acontece fora do "ambiente esportivo". A carta branca é ótima para o opressor e péssima para os oprimidos. E não é preciso nem dizer que os oprimidos são, em 99% das vezes, os próprios atletas.

É como se um grupo de mulheres viesse a público para dizer: "a gente acha que violência doméstica deve ser discutida dentro de quatro paredes, jamais pela Justiça".

Se essa postura tivesse partido do grupo de WhatsApp dos jogadores olímpicos de vôlei, formado principalmente por ex-atletas, que já não estão mais na figura de oprimidos, eu até entenderia — lá também se defendia a passada de pano para Wallace. Mas ela veio de um grupo que foi eleito para tentar equilibrar (ou deixar menos desequilibrada) a balança do poder no esporte olímpico brasileiro. Mas o que fez a CACOB? Saiu do prato dos atletas e foi fazer peso para o lado dos opressores.

A carta não teve apoio da maioria dos atletas e, não por coincidência, só foi publicada depois que Diogo Silva deixou formalmente a comissão — ele é assessor e braço-direito da ministra Ana Moser. Mas a CACOB combinou de funcionar na base do centralismo democrático. Ou seja, todos adotam a postura defendida pela maioria — Emerson Duarte, do tiro, foi o grande incentivador.

Concordando ou não com o teor, assinam a carta nomes como Yane Marques, Adriana Aparecida da Silva, Ana Sátila, Bárbara Seixas, Baby Futuro, Clodoaldo do Carmo, Duda Amorim, Chico Barretto, Grummy, Hortência, Iziane, Poliana Okimoto, Rodrigão e Thiagus Petrus.

A assinatura deles é um incentivo para a impunidade, não só no caso de Wallace. Até porque o oposto já cumpriu 15 partidas de suspensão e, mesmo se conseguir jogar a semifinal da Superliga na quarta-feira (19), terá sido punido de forma significativa.

A impunidade, entretanto, poderá vir por culpa desses "ídolos", em benefício de cartolas, técnicos e diretores que usam de sua posição de comando para, fora do "âmbito da atividade esportiva", prejudicar atletas.

Mas, ainda sobre o caso Wallace, gostaria de destacar quatro pontos:

  • A ideia de que o Conselho de Ética do COB não é a instância apta a julgar infrações éticas, como a de Wallace, só surgiu como subterfúgio para permitir ao oposto participar de partidas que, sem ele, o Sada/Cruzeiro pode perder. O processo já corre há dois meses e meio, e isso nunca havia surgido. Nem ao se defender no CECOB Wallace alegou isso.
  • Nada disso estaria acontecendo se a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) tivesse criado antes seu próprio Código de Ética. O documento foi aprovado na última assembleia da entidade, e diz claramente que um atleta não pode incitar violência no Instagram, mesmo em situações fora de competição. Estivesse em vigor o código da CBV, Wallace seria punido pela confederação, não pelo COB, ficaria fora da Superliga, e não haveria questionamentos.
  • Os advogados do esporte que participam dos STJDs e TJDs o fazem de forma voluntária, mas naturalmente ganham notoriedade por isso. Já os Conselhos de Ética, que tendem a ser formados nas confederações e federações, contam com a participação de outros tipos de profissionais. A disputa CECOB x STJD do vôlei é também uma disputa corporativista, por mercado. Muitos dos membros do STJD são de um mesmo grupo, e quem deixa de ser membro vira advogado que atua no órgão. Se o STJD perder espaço, eles também perdem.
  • O bolsonarismo manchou a carreira de Wallace. O craque da seleção de vôlei merecia um fim de carreira melhor do que o proporcionado pelo cidadão de extrema-direita.

Arthur Nory é o principal destaque do Troféu Brasil de ginástica artística

Arthur Nory disputou o Troféu Brasil de ginástica artística, em Aracaju (SE) - Ricardo Bufolin/Panamerica Press/CBG - Ricardo Bufolin/Panamerica Press/CBG
Arthur Nory disputou o Troféu Brasil de ginástica artística, em Aracaju (SE)
Imagem: Ricardo Bufolin/Panamerica Press/CBG

Cerca de 6 mil pessoas acompanharam o último dia do Troféu Brasil de ginástica artística, em Aracaju (SE). Ótimo público. Mesmo sem Rebeca Andrade, e com Flavia Saraiva e Jade Barbosa competindo apenas nas assimétricas, a competição teve alguns bons destaques individuais.

Usando como referência o Campeonato Europeu, que aconteceu no mesmo fim de semana: o melhor desempenho foi de Arthur Nory, que seria o terceiro no solo (14,500) — as notas não são totalmente equiparáveis, já que no Troféu Brasil há bonificação de 0,1 para quem crava a saída, mas vale a tentativa.

No salto, todos os três primeiros do Troféu Brasil tiveram nota para ficar entre os quatro do Europeu: Yuri Guimarães (14,583), Diogo Soares (14,517) e Caio Souza (14,516). Nas argolas, Arthur Zanetti seria sexto (14,500) e Caio Souza, o sétimo (14,433). Na barra fixa, Patrick Correa (13,633) e Lucas Bitencourt (13,600) teriam vaga na final.

No cavalo, foram quatro notas na casa de 13 pontos na final, o que é bom para o nível do Brasil. Mas a melhor delas daria o 17º lugar no Europeu, o que é ruim para brigar por coisas grandes por equipe. Sem Nory, bronze no último Mundial, o desempenho na barra fixa foi bem fraco.

No feminino, Julia Soares foi o destaque. Ela ganhou na trave com nota 13,100, que valeria o sexto lugar do Europeu, longe da disputa por medalha, e no solo (13,067) com apresentação para ser 10ª da Europa. Em ambas as provas, houve uma distância enorme para as rivais do Troféu Brasil. Lorrane Oliveira ganhou nas assimétricas, com 13,500, resultado que ajudaria a equipe no Mundial Pré-Olímpico, mas daria só 15ª posição no Europeu. No salto, ganhou Luiza Abel, com 12,500, desempenho que valeria o 12º lugar.

Não há dúvidas de que, com Rebeca, Flávia, Lorrane, Julia e Jade à disposição, o Brasil é candidato a bons resultados na ginástica feminina. Mas é preocupante a distância delas para as demais atletas, e o Troféu Brasil reforçou isso. No masculino, há mais opções para se montar uma equipe com nível para seguir disputando finais. Além de Nory, Caio, Diogo, Zanetti e Yuri, a comissão técnica tem Tomás Florencio, Bernardo Actos Miranda, Lucas Bitencourt e Patrick Correa buscando espaço.

Hideo Yamamoto deixa o comando do tênis de mesa feminino

Muito estranha a troca de comando da seleção feminina de tênis de mesa. Hideo Yamamoto fazia bom trabalho e foi demitido enquanto fazia um camping de treinamentos com algumas das principais jogadoras do país em Portugal. Toda a equipe se mobilizou para tentar convencer a direção da CBTM a voltar atrás, mas a confederação disse que a decisão já estava tomada.

"Ficamos sem chão com a notícia de que o melhor técnico que já tivemos não estaria mais trabalhando com a gente. E eu, particularmente, ainda estou sem chão", escreveu Luca Kumahara. Jorge Fanck assumiu no lugar dele.

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