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Treinadora mais jovem que Jade ganha espaço na seleção de ginástica

Beatriz Fragoso, técnica da seleção de ginástica artística - Ricardo Bufolin/CBG
Beatriz Fragoso, técnica da seleção de ginástica artística Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

Colunista do UOL

01/08/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (1/8) da newsletter Olhar Olímpico, que traz um perfil da técnica Beatriz Fragoso, além de informações sobre os Mundiais de canoagem e do fim precoce da dupla Evandro e Álvaro Filho. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui. Para receber outros boletins exclusivos, assine o UOL.

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Na foto da equipe feminina de ginástica artística que conquistou o título pan-americano há duas semanas estão oito mulheres. Seis estavam entre as inscritas para competir, e ganharam medalha. A sétima é Jade Barbosa, espécie de capitã do time, que vem sendo poupada. E a oitava é Beatriz Fragoso, que, apesar de ter a mesma idade de Jade — é poucos meses mais nova —, ocupa o cargo de treinadora.

Quem vê Bia com o time pode confundi-la com uma atleta, mas essa primeira impressão engana. Aos 31 anos, a jovem treinadora já está há cinco anos com a seleção e, recentemente, assumiu um dos cargos mais importantes da ginástica brasileira: é técnica principal do time feminino do Pinheiros.

"Enxergo isso como sendo o resultado do meu trabalho, me deixou muito orgulhosa", diz Bia. "Eu fui ginasta, tinha coisas que eu não gostava como aconteciam, e eu quis ter uma forma diferente de trabalhar. Meu sucesso é relacionado a isso. A forma como eu acho que tenho que trabalhar, a forma como olho para minhas ginastas, a forma como eu quero que elas sejam tratadas", continua.

Beatriz Fragoso, à esquerda, ao lado de Jade: na comissão técnica da seleção campeã pan-americana - Ricardo Bufolin/CBG - Ricardo Bufolin/CBG
Beatriz Fragoso, à esquerda, ao lado de Jade: na comissão técnica da seleção campeã pan-americana
Imagem: Ricardo Bufolin/CBG

Na ginástica, o padrão é atleta e treinador crescerem juntos. Marcos Goto virou treinador chefe da seleção masculina na esteira do sucesso do trabalho que fez com Arthur Zanetti, dono de duas medalhas olímpicas e quatro em Mundiais. No feminino, este posto hoje é de Francisco Porath, que começou a trabalhar com Rebeca Andrade quando ela ainda era criança, e agora é o técnico de uma campeã olímpica.

Bia, que foi formada como ginasta no Centro Olímpico, trabalhava como técnica da estrutura da prefeitura de São Paulo desde 2012, depois que parou de competir. Lá, recebeu a oportunidade de treinar um grupo de crianças, no qual estava Christal Bezerra — aos 10 anos, a ginasta chegou pela primeira vez a uma seleção brasileira. Agora, aos 17 anos, Christal era uma das integrantes da seleção que venceu o Pan no Rio, em julho.

O trabalho com Chris, como Bia chama a pupila, tem servido de respaldo para voos maiores.

Quando tem resultado, não tem muito o que falar. Comecei com a Chris, ela ia para competição, ganhava, ficava em segundo, e isso começou a me dar tranquilidade. Quando o (Valeri) Liukin (casaque naturalizado americano que foi consultor da seleção brasileira) veio, ele me ajudou demais e sempre dizia que eles tinham que investir em mim porque ele via alguma coisa diferente. Ele me passou muitas coisas, como me portar, como falar com as meninas. A partir daí, enxergaram potencial em mim."

A treinadora ganhou mais espaço na seleção a partir de 2020, quando passou três meses com a equipe em Portugal, na Missão Europa, um camping para dar ritmo às ginastas no auge do primeiro ano da pandemia de covid-19.

"O Chico me deu uma abertura muito legal e eu fiz o que eu sabia, que era dar treino de ginástica. Elas gostaram muito da minha forma de conversar, de entendê-las. Eu sei que em alguns momentos não é corpo mole, é que aquilo (que foi pedido) não rola", explica.

Na comissão técnica da seleção de ginástica, Bia chama atenção não só pela juventude, mas também pelo fato de ser negra. Mas ela não vê isso com um fator relevante.

"Eu não enxergo como barreira. Minha vida inteira eu me senti como todo mundo", diz ela, que também não vê nada demais no fato de ser uma treinadora negra em um clube que recentemente foi acusado de racismo por um ex-ginasta da seleção. "Sou uma pessoa como qualquer outra."

Na mudança para o Pinheiros, Bia levou com ela cinco ginastas do Centro Olímpico, incluindo Christal. No clube da elite paulistana, ela também treina Thais Fidélis, outra atleta que frequentemente é convocada para a seleção, e Gabriela Barbosa, destaque da seleção juvenil. Já Chico, no Flamengo, comanda Rebeca, Flávia Saraiva, Jade Barbosa e Lorraine Oliveira. A ucraniana Irina Ilyashenko trabalha, na Cegin, de Curitiba, com Julia Soares, Carolyne Pedro e Ana Luiza Lima.

Bia sabe que um bom trabalho no novo clube pode abrir ainda mais portas. "Fui lá com essa intenção, brigar com as melhores. Acho que em um aninho, dois aninhos, a gente está brigando na ponta", aposta.

Os Mundiais não param: agora é a vez da canoagem, com Isaquias Queiroz

Isaquias Queiroz é o atual campeão olímpico do C1 1.000 m - Jonne Roriz/COB - Jonne Roriz/COB
Isaquias Queiroz é o atual campeão olímpico do C1 1.000 m
Imagem: Jonne Roriz/COB

Começa na quarta-feira, em Halifax, no Canadá, o Campeonato Mundial de canoagem velocidade. Dono de seis medalhas de ouro e 12 no total neste tipo de evento, Isaquias Queiroz é candidato a ir ao pódio mais duas vezes, mas só em provas individuais.

Por estratégia da comissão técnica, liderada pelo técnico Lauro de Souza Júnior, o Pinda, Isaquias não vai remar o C2, prova em dupla na qual foi medalhista de prata na Rio-2016 com Erlon Souza e quarto colocado com Jacky Godmann em Tóquio-2020. Erlon, seu companheiro habitual, está de volta a uma convocação depois de lesão no quadril que o tirou da Olimpíada e exigiu cirurgia, mas vai competir no C2 com outro parceiro.

Desde que Jesus Morlán chegou ao Brasil para cuidar da seleção permanente, os principais canoístas do país competem pouco. Isaquias costuma disputar os Mundiais, as Olimpíadas, o Pan e uma etapa de Copa do Mundo por ano, só. Agora, será poupado até no C2. Vai dar lugar a Filipe Vinicius, garoto de 21 anos também de Ubaitaba (BA), conterrâneo de Isaquias, que foi bronze na prova individual no Pan Júnior de Cali, ano passado.

Isaquias compete no C1 1.000 m, prova olímpica, e no C1 500 m, que já venceu três vezes no Mundial. A programação é: C2 1.000 m na quinta (eliminatórias), sexta (semifinal) e domingo (final); C1 500 m quarta, sexta e sábado (final) e C1 1.000 m com eliminatórias na quinta, semifinal na sexta e final do no domingo.

O Brasil não levou ao Mundial nenhuma mulher e nenhum atleta de caiaque. A CBCa, confederação da modalidade, está quebrada financeiramente, e por isso optou por uma delegação só com quem tem chance de medalha. Vagner Souta, Edson Isaias, Ana Paula Vergutz e Valdenice Conceição, porém, viajam a Halifax com uma semana de atraso para, junto com os outros três baianos, disputarem o Campeonato Pan-Americano.

Brasil ficou perto de medalha na canoagem slalom

Na semana passada, a canoagem organizou outro Mundial, mas de slalom. O Brasil não ganhou medalha por pouco. Ana Sátila chegou à final do C1 extreme, prova em que quatro atletas descem juntos o canal e vence quem chegar na frente, mas acabou cometendo uma infração e terminou a decisão no quarto lugar, ficando fora do pódio. Como agora o C1 extreme é prova olímpica, o resultado empolga para Paris-2024.

De resto, o Mundial foi aquém do esperado para os atletas brasileiros. Ana Sátila e sua irmã Omira Estácia pararam na semifinal do K1, no 12º e no 16º lugares, respectivamente. No C1, prova em que já ganhou etapas de Copa do Mundo, Ana Sátila perdeu uma porta na semifinal, foi punida, e acabou fora da final, em 27º.

No K1 masculino, Mathieu Desno, companheiro de Ana Sátila e francês naturalizado, ficou em 23º — Pepê Gonçalves, que se recuperou de covid-19 às vésperas da estreia, acabou em uma modesta 32ª colocação. No C1, prova que historicamente é a mais fraca do país, Kauã da Silva, estreante, terminou em 52º, eliminado ainda nas eliminatórias. E, no K1 extreme, Pepê foi mal na tomada de tempo e nem passou para as fases eliminatórias. Ele foi bronze na etapa de Praga da Copa do Mundo, em junho.

A semana teve outros dois Mundiais. No de BMX, em Nantes (França), Bruno Cogo foi até a semifinal masculina, terminando no 11º lugar, o que é um bom resultado dado o atual nível da modalidade no Brasil. No feminino, Paôla Reis, que era a principal esperança do país, se machucou em um treino na véspera do Mundial e não competiu. Pedro Vinícius de Queiroz, Guilherme Ribeiro, Priscilla Stevaux e Maitê Naves foram eliminados nas primeiras baterias.

Já no pentatlo moderno, William Muinhos foi 34º no Mundial disputado em Alexandria, no Egito. Só os 18 primeiros passavam para a final.

Após 10 meses, Evandro e Álvaro Filho anunciam o fim da dupla

Evandro e Álvaro Filho anunciaram o rompimento da dupla que tinha apenas 10 meses e algum sucesso. Juntos eles ganharam o Circuito Brasileiro disputado no primeiro semestre e, ontem, venceram a etapa de Campo Grande. Mas falharam em se classificar para o Mundial, que foi disputado em junho.

A movimentação de dois atletas que estiveram na última Olimpíada (Evandro com Bruno Schmidt e Álvaro Filho com Alison) deve forçar outras duplas a também "abrirem". Resta saber quem. Renato e Vitor Felipe foram vice-campeões mundiais na Itália, enquanto André e George ganharam bronze. Guto vem jogando com Vinicius desde o fim da dupla com Alison (que está afastado do esporte, segundo ele por lesão) e Bruno Schmidt forma dupla com Saymon.