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Opinião

Ex-vilão, Chael Sonnen se tornou o "convidado de honra" de Anderson Silva

No final do mês que vem, a primeira luta de MMA entre Anderson Silva e Chael Sonnen, realizada em 2010, entrará para o Hall da Fama do UFC. Duas semanas antes, porém, os veteranos, hoje próximos de completar 50 anos, se enfrentarão mais uma vez, agora nas regras do boxe, em um confronto que faz mais sentido fora do ringue do que dentro dele.

E essa conta é simples de se fazer. Dono do recorde de defesa de títulos na divisão dos pesos médios (84 kg) do UFC, Anderson se apresenta regularmente nos ringues desde que se desligou do evento, no final de 2020. De lá para cá, o atleta acumulou vitórias sobre Julio César Chávez Jr. e Tito Ortiz, além de um empate em uma luta de exibição contra Bruno Azeredo e uma derrota por pontos contra Jake Paul.

Sonnen, porém, nunca competiu no boxe profissional. Mas mesmo com tamanha disparidade entre os atletas na luta em pé, a disputa é garantia de sucesso midiático. Nos anos em que se apresentou no MMA, Sonnen, além de mostrar grandes habilidades na luta agarrada, também se destacou com o microfone na mão. Rápido com as palavras, provocador e irônico, o americano irritou diversos de seus oponentes, ao mesmo tempo em que atraiu a atenção dos fãs.

A postura polêmica aumentou sua base de seguidores, inflou seu poder de vendas e lhe garantiu oportunidades que seu currículo não alcançaria por si só. Inclusive, vejam só, garantiu a chance de estrear no boxe justamente na luta que marca a despedida de Anderson Silva em competições realizadas no Brasil.

É até engraçado lembrar que o americano foi, por anos, uma espécie de inimigo público número um dos fãs de MMA no Brasil. Grande rival de Anderson no octógono, ele ainda cruzou caminhos com Wanderlei Silva, Lyoto Machida e Maurício Shogun. Mas, com o passar dos anos, seu bom humor e carisma o ajudaram a reverter essa imagem.

Em 2022, ele foi o mestre de cerimônias de uma coletiva de imprensa entre Anderson Silva e Jake Paul, que se enfrentariam dias depois. Sorridente, o brasileiro brincou com o ex-rival, colocou panos quentes nas polêmicas passadas e abriu portas para que eles fizessem ações promocionais juntos. E, ao que parece, uma espécie de amizade surgiu entre eles.

Por outro lado, parte dos fãs esperava por um rival à altura das habilidades do Spider na nobre arte. Nas horas que antecederam ao anúncio oficial, o nome de Vitor Belfort foi repetido nas redes sociais, em uma espécie de clamor de alguns torcedores que queriam ver algum adversário com a capacidade de extrair o máximo de Anderson nos ringues. E este não será o caso com Sonnen.

Isso porque o objetivo da ação comercial (o evento é patrocinado por uma marca de cerveja que dá nome ao show) é enaltecer a carreira de Anderson. Talvez, imagino eu, uma disputa contra Vitor Belfort, por exemplo, exigiria mais tanto das habilidades dos atletas envolvidos quanto de seus lados emocionais. Ex-parceiros de treino, os brasileiros se enfrentaram no UFC em 2011 e sempre mantiveram um clima mais hostil do que amigável, mesmo que de forma velada.

Aos 49 anos, Anderson, que levou a melhor no primeiro confronto, não precisaria passar por isso de novo (e nem dar a chance ao azar). Como mencionei anteriormente, o formato do evento me parece claro em querer enaltecer o Spider e fazer uma grande festa em torno de seu nome. E para esta grande festa, o convidado de honra, quem diria, é o grande ex-rival.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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