Topo

Marília Ruiz

Marília Ruiz: O Brasileiro-20 começa canibalizado. E daí, não é mesmo?

08/08/2020 10h48

O Campeonato Brasileiro já foi "canibalizado" pela Libertadores, pela Copa do Brasil e até, em casos pontuais, pela fraquíssima e sem bossa Copa Sul-Americana.

Agora conseguimos o que parecia impensável pelos amantes dos pontos corridos (não é o meu caso): o que era para ser a joia da coroa dos clubes tupiniquins começa ferido pelos moribundos Campeonatos Estaduais.

Só não é mais bizarro e talvez nos choque quase nada, porque estamos anestesiados diante de maior tragédia contemporânea.

Desde que a quarentena do futebol foi decretada no Brasil em março, nada foi feito para preservar o Campeonato Brasileiro. Nada. Meia dúzia de reuniões virtuais de cartolas foram marcadas para desesperadamente manter as 38 rodadas previstas e o dinheiro que estava prometido por elas em contratos (em muitos casos, contratos com verbas já antecipadas em troca da "entrega" desses jogos).

A CBF? Algum bom senso? Algum plano A, B ou Z para enfrentar as dificuldades trazidas pela pandemia?

Em alguma realidade paralela onde habitam seus dirigentes e mandatários, provavelmente um lugar habitado por negacionistas irremediavelmente otimistas, a entidade que administra e manda no Campeonato Brasileiro apenas marcou uma data para a bola voltar a rolar. Sem maiores explicações, com um protocolo de ótima teoria e poucas chances de na prática ser cumprido e fiscalizado à risca, a CBF mandou avisar (por decreto e ofício - claro que não há entrevistas coletivas) que a Série A do seu principal campeonato iria começar em 8 de agosto.

Entretanto a bola, como diria o outro, pune.

Chegamos ao 8 de agosto, dia em que o Brasil completa a constrangedora marca de 100 mil mortes causadas pela Covid-19. Chegamos em 8 de agosto, data em que o imbróglio dos direitos de transmissão do campeonato segue sem solução. Chegamos em 8 de agosto, data em que o clássico de maior rivalidade de SP vai decidir o Paulista e, assim, ofuscar a primeira rodada do que era para ser o debut do futebol pós-quarentena.

Na era da meritocracia tão festejada pela CBF que paga altos salários para seus executivos, não chega a ser um sucesso o plano de retomada do futebol, né?

Ah, sim, para dar aquela ajudada final, já que o movimento de translação da Terra não é flexível como a CBF gostaria, um dia antes do começo do Brasileiro, a entidade resolveu lembrar a todos os seus amados clubes que os jogos agora podem ser marcados a cada 48h (não 66h como antes) para alegria geral... de quem mesmo???