27 anos do dia em que o Barça perdeu por medo do Inter e nada aconteceu
Nesta semana, para ser mais preciso no dia 15, completa-se 27 anos de uma das maiores vergonhas do esporte em que o protagonista foi o poderoso Barcelona. Ele e o norte-americano Di Bufala jogaram para perder e não esconderam de ninguém. Tudo para não enfrentar o Internacional. Um absurdo, que contraria todos os princípios do jogo, mas que não gerou nenhuma punição aos clubes (hoje traria consequencias), mas o castigo veio em quadra.
Foi no Mundial de Futsal em 1997. O Internacional era o representante brasileiro na competição que aconteceu em Porto Alegre. Por ter jogadores como Manoel Tobias (o melhor do mundo na época) e Ortiz, o time gaúcho era considerado o favorito para levantar a taça.
Barça e Di Bufala estavam no outro grupo e fizeram a última partida da fase de classificação para decidir quem terminaria em primeiro. Acontece, que o Internacional terminou a primeira fase em segundo no seu grupo. Portando, o vencedor do jogo enfrentaria os gaúchos.
A partida seguia igual, 1 a 1, até o finzinho do segundo tempo, quando o absurdo invadiu a quadra. Em uma troca de passes do time catalão, um jogador chuta a bola contra o próprio gol. Em seguida, em um recuo de bola, o goleiro do Barcelona dá um passo para trás e deixa a bola entrar. 3 x 1 Di Bufala.
Com o time espanhol assumindo a atitude antidesportiva, os americanos entraram nesse jogo e o que se viu foram algumas das cenas mais lamentáveis da história do esporte. O time americano chutando contra o próprio gol, e os jogadores do Barça protegendo a meta contrária. Até o goleiro espanhol atravessou a quadra para defender o Di Bufala.
O representante dos Estados Unidos fez um gol contra, anulado pelo juiz que deu cartão amarelo para o jogador. O goleiro tentou jogar a bola contra o próprio gol, e foi expulso. Ninguém do Barça recebeu cartão.
Final, 3 a 1 para o Di Bufala e jogadores do Barcelona comemorando.
Eu trabalhava na época para a RBS TV, afiliada da Rede Globo. Ao final do jogo, fui conversar com os dois treinadores, e eles confirmaram que a ideia era perder para não enfrentar o Inter.
Nenhum clube recebeu punição pelas cenas que desrespeitaram a torcida que lotou o Gigantinho, o ginásio do Internacional que recebeu o Mundial organizado pela FIFA.
Isso não aconteceria nos dias de hoje. O esporte se protegeu.
A graça do esporte está na incerteza do resultado. Se todos soubessem de véspera qual seria o placar de um jogo, o esporte perderia força, e a paixão encolheria.
Por isso vários dos princípios do direito esportivo visam garantir essa imprevisibilidade, como a integridade esportiva, o jogo limpo, e a paridade de armas, que é dar condições iguais aos competidores.
Todos eles visam combater a manipulação de resultado, algo que ficou evidente naquela noite de 15 de março de 1997 em Porto Alegre.
A partida pelo Mundial feriu valores e princípios do futebol.
Os regulamentos esportivos internacionais e nacionais visam proteger a integridade do jogo. O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) traz o artigo 258, que fala e, assumir qualquer conduta contrária à disciplina ou à ética desportiva não tipificadas pelas outras regras.
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Hoje, uma conduta dessas provavelmente eliminaria os clubes da competição.
Mas a Justiça Desportiva à época calou diante de uma das maiores vergonhas da história do Barcelona e do esporte.
A justiça se fez em quadra.
Na semifinal o Internacional venceu os norte-americanos, e na final o time de Ortiz e Tobias ganhou do Barcelona por quatro a dois, conquistou o título do Mundial e levantou mais de 16 mil pessoas que lotaram o Gigantinho.
Aliás, o Barcelona tem um problema histórico com o time gaúcho. Em 1982, Maradona estreava na equipe no Torneio Joan Gamper, O Internacional de Mauro Galvão, Ruben Paz e Cléo venceu o time catalão nos pênaltis em um Comp Nou lotado.
E, em 2006, o time de Fernandão venceu o de Ronaldinho Gaúcho no Japão, e conquistou o mundo também no gramado.
Mas de todas essas derrotas, a daquele jogo em Porto Alegre é a que o Barcelona faz questão de esconder. 15 de marco de 1997, um dia que envergonha um dos maiores clubes do planeta e também o movimento esportivo, que não defendeu princípios fundamentais paro o jogo: a incerteza do resultado e o respeito ao torcedor.
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