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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gomes: Estilos opostos dos técnicos podem explicar fases de Real e Atlético

11/12/2021 05h07

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São estilos completamente diferentes. Carlo Ancelotti, um verdadeiro gentleman, um lord, um cara de fala calma, tranquila, sempre muito respeitosa. Diego Simeone, um bruto, sempre pilhado, emoções o tempo todo à flor da pele, um cara elétrico e intenso.

Os técnicos de Real Madrid e Atlético de Madrid se enfrentam amanhã em um dérbi que já é tratado como uma oportunidade para o time de Ancelotti "matar" a Liga espanhola. Não existe só uma fórmula de lidar com o jogo e as estrelas que jogam, mas o fato é que o "modelo" Ancelotti está parecendo muito mais eficiente do que o de seu rival no momento.

Sim, ainda é cedo. Mas o Real Madrid já tem 10 pontos de vantagem para o Atleti, que podem virar 13. Entre eles, os dois times de Sevilha na classificação: o Sevilla e o Bétis. O Barcelona, em reconstrução e sem qualquer chance de título, já ficou lá para trás. O clássico de amanhã é mesmo importantíssimo, pois o Atlético precisa se manter vivo no campeonato.

Simeone completará ainda neste mês dez anos de Atlético. Junto com os donos e com os investimentos feitos, o argentino transformou o clube. Era coadjuvante até mesmo na Espanha, virou protagonista na Europa. Mas, com tanto material em mãos, parece que "El Cholo" não sabe o que fazer. Ou melhor, faz quase sempre o mesmo. Um jogo defensivo, sólido, consistente, mas sem muito brilho e criatividade com a bola. Está manjado.

Há quem diga que os jogadores contratados são muita areia para o caminhão dele. Também se fala muito em problemas de vestiário, jogadores que não aguentam mais a ultracompetitividade, a obsessão de Simeone por todos os detalhes, a tensão constante, a falta de diálogo e alegria. Saúl pediu para ir embora, agora é João Félix que parece não querer ficar.

Os jogadores dão o sangue quando vão a campo porque sabem, também, que Simeone hoje é uma espécie de dono do Atlético. Manda e desmanda, nunca será demitido, ficará lá até quando quiser. Querer derrubá-lo é pura perda de tempo.

Ninguém nega a importância de Simeone para a história do Atlético. A questão é que, talvez, haja um esgarçamento das relações. O vestiário sente falta de alguém mais "light" junto ao técnico, o papel que exercia Mono Burgos - como explicou o jornalista Fernando Kallás no Podcast Futebol Sem Fronteiras desta semana.

O Real Madrid nunca teria um técnico ou um jogador que fosse "dono" do clube. É outro tipo de instituição, muito maior do que quem está nela no momento. Ancelotti tem um perfil perfeito para o Real, pois é muito tático, tem vivência e tato com os jogadores. Sabe respeitar o gosto da torcida e, o principal, cultivar o DNA competitivo e vencedor.

Técnico de "La Décima" - o título da Champions conquistado de forma dramática justamente em cima do Atlético, em 2014 -, o italiano percebeu que precisava ter um time titular e dar toda a confiança do mundo para Vinícius Júnior. Acertou em cheio, fez do brasileiro o principal jogador do clube na temporada e um dos maiores destaques do futebol europeu. A única preocupação talvez seja um possível excesso de jogos do time principal - pode estourar, como estourou em 2014/2015 nas mãos do próprio italiano. Benzema é a primeira baixa importante, está lesionado e não jogará o dérbi.

A estabilidade que traz Ancelotti, além, óbvio, de seu vasto conhecimento, fazem do Real Madrid um líder com cara de campeão. Já a explosão emocional de Simeone parece estar cansando os alléticos e não ajuda mais a coisa a funcionar.

Na terça, pela Champions League, o Atlético conseguiu uma classificação heróica no Porto. Um momento de comunhão com a torcida, em um jogo em que o Atlético reencontrou sua alma. O jeito de ser está lá. Falta reencontrar o futebol, porque esse sumiu já faz quase um ano.