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José Trajano

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ô sorte ter visto toda a carreira de Pelé!

Pelé em ação pelo Santos em 1973 - Bettmann Archive
Pelé em ação pelo Santos em 1973 Imagem: Bettmann Archive

Colunista do UOL

09/12/2022 04h00

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Envelhecer é uma merda, falou o grande Oscar Niemeyer ao completar 100 anos.

Na verdade, ele disse "alcançar essa idade é uma merda, mas é bom".

Ainda bem distante dos 100 anos, posso pegar o lado bom. E, viajando no tempo, lembro do Pelé. Do Pelé jogador, o maior craque de todos os tempos, o craque-café, o craque do século, o rei do futebol, o Rei, o homem dos mil e tantos gols...

Que privilégio poder acompanhar Pelé em memoráveis jornadas! Pra início de conversa, reproduzo um trechinho do meu livro "Os Beneditinos", quando narro a primeira vez que o vi de perto. Era estagiário da seção de esportes do "Jornal do Brasil" e o acontecido se deu na véspera da primeira partida decisiva contra o Milan pelo Mundial de Clubes, em novembro de 1963.

Fui com Oldemário Touguinhó ao Hotel Novo Mundo, onde o Santos se concentrava. Oldemário, grande repórter e muito amigo de Pelé, me apresentou: o menino aqui começou a trabalhar com a gente. Parece que terá futuro e trouxe para ir se acostumando. Abobalhado, não consegui dizer nada além de muito prazer. Foi até ali o encontro mais emocionante da minha vida, estava diante do maior jogador do planeta, podia examiná-lo com calma dos pés à cabeça e ainda por cima ouvir a conversa. Imaginava-o mais alto, não tão forte e não tão jovem. Na despedida, passou a mão na minha cabeça e desejou sorte na profissão. Ouvi ainda o que disse ao Oldemário antes de irmos embora: Não vai dar para amanhã, não consigo nem andar direito. Uma pena! No dia seguinte, o Jornal do Brasil deu de manchete: Pelé não jogará a decisão. Furo do Oldemário."

Vi ao vivo muitas vezes Pelé jogar no Maracanã. Mas não esqueço dele fazendo contra o Fluminense o fantástico gol de placa em 5 de março de 1961; os dois gols na vitória histórica de 3 a 2 sobre o Benfica, na primeira partida do Mundial de Clubes de 1962; e outros dois golaços no Botafogo em abril de 1963, o maior clássico da época.

Como cereja no bolo, eu estava dentro do campo, atrás do gol, cobrindo o milésimo gol, em 19 de novembro de 1969. Quando ele fez de pênalti o gol tão esperado, sou um daqueles repórteres que invadem o gramado para ouvi-lo.

Acompanhei no México, como repórter do extinto Correio da Manhã, os lances geniais que não foram gols na gloriosa campanha do tricampeonato: o chute do meio-campo contra a Tchecoslováquia, o cabeceio que parou no inglês Banks e o drible de corpo sobre o goleiro uruguaio Mazurkiewicz. Nem vou falar dos gols e dos passes sensacionais.

Aos 76 anos é uma dádiva lembrar desses momentos vividos. É o lado bom da velhice. Torço para que Pelé volte rápido para casa restabelecido e em paz.

Como diria o saudoso Wilson das Neves:

Ô sorte ter visto tudo isso.

Valeu, Pelé!

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