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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Audi anuncia compra de parte da Sauber, mas faltou graxa no comunicado

Projeção divulgada pela Audi de um carro de F1 com as suas cores - Audi
Projeção divulgada pela Audi de um carro de F1 com as suas cores Imagem: Audi

Colunista do UOL

26/10/2022 07h53

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O segredo mais mal guardado da F1 veio à tona nesta quarta-feira: a Audi usará a estrutura da Sauber para sua equipe na categoria, a partir de 2026.

Mas a divulgação oficial da parceria trouxe novidades, nuances e implicações curiosas.

A novidade mais importante: a montadora alemã vai comprar uma parte do time suíço. O anúncio está logo no início do comunicado distribuído à imprensa.

"Mais um marco na caminhada rumo à F1 foi alcançado: a Audi selecionou a Sauber como parceira estratégica para o projeto e planeja comprar uma participação no Grupo Sauber."

É uma relação diferente, portanto, da que a Sauber tem hoje com a Alfa Romeo. Desde 2018, a marca italiana aluga a estrutura da equipe, num contrato semelhante ao de um patrocínio.

O despejo da Alfa Romeo já tem data marcada: fim de 2023. Assim, a Sauber viverá duas temporadas de transição, em 2024 e 2025, nas quais continuará usando motor Ferrari.

Não é a primeira vez que alemães compram a Sauber. A BMW, concorrente histórica da Audi, controlou a equipe entre 2006 e 2009. Os resultados foram ótimos. O time sagrou-se vice-campeão de Construtores em 2007 _beneficiado pela desclassificação da McLaren_ e venceu uma corrida em 2008 com Kubica, que, pasmem, chegou a liderar o Mundial de Pilotos.

No fim de 2009, em meio a um desempenho ruim e à crise econômica global, a BMW resolveu revender a equipe para a Sauber, que desde então nunca mais obteve resultados tão bons.

A julgar pelas promessas no comunicado desta quarta-feira, o jejum está com dias contados.

Segundo os alemães, 120 funcionários já estão trabalhando no projeto do novo motor na fábrica de Neuburg, onde as unidades de potência serão produzidas. Essa área será reformada e ampliada em 2023. Os primeiros testes num carro de F1 acontecerão em 2025.

As duas empresas são velhas conhecidas e já têm histórias de sucesso. As sedes da Audi e da Sauber estão a apenas quatro horas de estrada, e a montadora usou o túnel de vento da equipe suíça nos seus projetos para Le Mans e para o DTM, o Turismo alemão.

audi11 - Audi - Audi
Detalhe da parte traseira do carro-conceito divulgado pela Audi para sua entrada na Fórmula 1
Imagem: Audi

"Estamos empolgados por trazer tanta competência e experiência para nosso projeto de F1. Conhecemos bem a tecnologia de ponta da fábrica da Sauber e estamos convencidos de que, juntos, podemos formar um time forte", disse Oliver Hoffmann, da área de Desenvolvimento Técnico, que esteve à frente nas negociações com a FIA para o regulamento pós-2025.

Há duas ausências no comunicado.

A primeira, esperada: não há nenhuma dica sobre a entrada da Porsche, outra montadora do Grupo Volkswagen, na F1. Depois que o namoro com a Red Bull implodiu, no início do mês passado, pouco se sabe sobre os planos da marca de Stuttgart para entrar na categoria.

A segunda ausência: Peter Sauber. O garagista que criou a equipe de F1 e que até hoje batiza os carros que saem de Hinwill com a sigla C, em homenagem à mulher, Christiane, não é nem sequer citado no comunicado. Quem fala em nome da Sauber é Finn Rausing, bilionário sueco, herdeiro de uma gigante do ramo de embalagens e que lidera o fundo de investimento que hoje controla o time.

Não deve saber o que é um virabrequim, nunca deve ter sujado a mão de graxa. Sinal dos tempos. E uma enorme pena.