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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Campeão da Fórmula 2, Drugovich abrirá portas da F1 com seu talento

Felipe Drugovich com os troféus que conquistou na rodada dupla da Fórmula 2 em Barcelona, em maio - Divulgação
Felipe Drugovich com os troféus que conquistou na rodada dupla da Fórmula 2 em Barcelona, em maio Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

10/09/2022 13h40

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Felipe Drugovich era um bebê de 3 meses na última vez em que um brasileiro havia conquistado a categoria imediatamente abaixo da F1.

Foi em 2000, no fim de agosto. O campeonato, à época, chamava F-3000. Bruno Junqueira, piloto mineiro, garantiu o título na última etapa, na Bélgica. E a história do que aconteceu com ele a partir de então mostra que algumas coisas não mudaram no acesso à categoria principal.

A tabela daquele campeonato aponta o brasileiro campeão com 48 pontos. O vice foi o francês Nicolas Minassian, 45, tido como um jovem promissor. Os pilotos a seguir ficaram muito distantes na pontuação: Mark Webber, com 21, e Fernando Alonso, com 17.

Junqueira nunca correu na F1. Minassian também não. Alonso estreou no ano seguinte, foi bicampeão e segue até hoje. Webber chegou à F1 em 2002 e por lá ficou até 2013.

O que explica os caminhos de uns e de outros? O trabalho nos bastidores.

Alonso e Webber tinham empresário forte. O mesmo, aliás: Briatore, que era dono de parte da Minardi. Não por coincidência, ambos estrearam na F1 pela nanica equipe italiana que em 2006 virou Toro Rosso e que há três temporadas atende pelo nome de AlphaTauri.

Sem espaço na F1, Junqueira e Minassian cruzaram o Atlântico e foram correr na Champ Cars e na IRL. O brasileiro se deu melhor: venceu oito corridas e foi três vezes vice-campeão.

A F-3000 virou GP2 em 2005. Em 2017 a FIA resgatou a marca Fórmula 2.

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Felipe Drugovich em Spa-Francorchamps nesta temporada da Fórmula 2
Imagem: Alex Pantling - Formula 1/Formula Motorsport Limited via G

Mudaram as nomenclaturas, mas métodos e caminhos não mudaram. Sim, houve o advento das "academias de desenvolvimento". Mas se o piloto não teve a benção de ser escolhido no berço por uma equipe de F1, precisa de duas coisas: dinheiro e contatos.

Lembro de uma conversa com Pizzonia naquele mesmo 2000. O "Jungle Boy" havia sido campeão da F-Renault no ano anterior e estava batendo todos os recordes da F-3 inglesa.

A F1 já flertava com ele. Especificamente, um certo Briatore estava louco para contratá-lo.

Pizzonia não assinou com ele. Disse, à época, que o contrato oferecido era "leonino demais". Só chegou à F1 em 2003, pela Jaguar, correu nove GPs pela Williams em 2004 e mais nada.

Paranaense de Maringá, 22 anos, Drugovich cumpriu muito bem sua carreira até aqui, com direito a uma deliciosa cereja no bolo: o título no mesmo circuito em que Emerson Fittipaldi conquistou o primeiro Mundial de F1 para o Brasil, exatamente 50 anos atrás.

A vantagem construída foi tão boa que ele garantiu o título mesmo abandonando a prova deste sábado —o francês Theo Pouchaire, seu único adversário na luta pelo campeonato, não passou do 16º lugar.

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O paranaense Felipe Drugovich, campeão da Fórmula 2, nos tempos de kart
Imagem: Erno Drehmer/Divulgação

Nesta temporada, em 25 corridas, conseguiu cinco vitórias, quatro poles e quatro melhores voltas. Mesmo pilotando para uma equipe mediana, a MP Motorsports, soube controlar o campeonato desde o início. Mostrou equilíbrio emocional quando as coisas não estavam bem, foi arrojado quando precisava, voltou a andar na frente no momento decisivo do campeonato.

"Melhorei muito na parte mental. Foquei em ser constante neste ano. E a partir do momento em que você começa a ser constante, fica mais fácil mudar de degrau", explicou o piloto, numa conversa que tive com ele para um perfil publicado em junho aqui no UOL.

(Se você quiser saber mais sobre o novo campeão da F2, está tudo aqui: como ele começou a correr, a preparação para as corridas, a relação com a mãe e com os tios, a vida na Itália...)

Na entrevista, Drugovich mostrou ter pés no chão, diferentemente da pachecada que certamente invadirá as redes nos próximos dias exigindo por uma vaga urgente de primeiro piloto na Mercedes ou na Red Bull.

Ele sabe que são mínimas as chances de correr em 2023. Hoje, as únicas equipes com vagas abertas são Haas, Williams, AlphaTauri, Alpine e Alfa Romeo, todas já com pilotos engatilhados, só esperando os próximos movimentos.

O plano para o ano que vem é ser piloto reserva. E, nos últimos dias, ele conversou com duas equipes: AlphaTauri e Aston Martin.

Dinheiro e contatos, lembra?

O apoio financeiro da XP Investimentos deve ajudar na primeira parte.

Sobre os contatos, Drugovich pode ser orgulhar. Seus bons resultados abriram portas da F1 que estavam fechadas meses atrás. A categoria principal hoje sabe muito bem quem ele é. E o mérito foi todo dele.