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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pílulas do Dia Seguinte: Verstappen não precisa mais vencer pra ser campeão

Red Bull comemora vitória de Max Verstappen no GP da França, a 7ª em 12 etapas nesta temporada - Peter Fox/Getty Images
Red Bull comemora vitória de Max Verstappen no GP da França, a 7ª em 12 etapas nesta temporada Imagem: Peter Fox/Getty Images

Colunista do UOL

25/07/2022 09h58

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Verstappen não precisa mais vencer nenhum GP neste ano para ser bicampeão. Sim, é uma retórica estatística, um mero exercício com números. Mas é uma verdade matemática. E vale abrir o texto com isso por dois motivos. O primeiro: geralmente esse cenário só é possível mais para o fim de um campeonato, não na metade. O segundo: o cálculo explica o pós-corrida de Leclerc, a expressão desolada, as declarações autopunitivas. A ficha caiu;

Mesmo que o monegasco vença todos os dez GPs que restam e a corrida sprint de Interlagos, Verstappen pode ser campeão chegando sempre em segundo lugar e cravando as melhores voltas. Neste cenário hipotético, o holandês levaria o Mundial com 430 pontos contra 428;

Leclerc não vai vencer dez corridas nem Verstappen ficará na seca até o fim da temporada. Pensando bem, é mais provável que o oposto aconteça. Daí o clima de velório na Ferrari em Paul Ricard;

Outra estatística para deixar os ferraristas de baixo astral na segunda-feira: Leclerc se tornou o piloto do grid atual com pior aproveitamento de poles. Ele já largou 16 vezes na ponta do grid, mas só venceu quatro dessas corridas, ou 25%. Bottas tem 30% (6 de 20);

A média do monegasco, aliás, é uma das mais baixas da história da categoria. Só nove pilotos que conquistaram poles têm números piores, entre eles Montoya (23%) e dois campeões, Piquet (21%) e Farina (20%);

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Mattia Binotto, chefe da Ferrari, e Charles Leclerc depois do GP da França, em Paul Ricard
Imagem: Ferrari

"Não houve nenhum problema com o acelerador. O que houve foi um erro claro de Charles, algo que acontece. Isso não muda nada no fantástico piloto que ele é. Mas foi um erro claro. O que vocês ouviram pelo rádio aconteceu quando ele estava tentando dar a ré para sair da barreira de pneus e não conseguia torque suficiente do motor", disse Binotto, sem poupar o pupilo ferrarista e dando mostras de que já está farto de, GP após GP, ter de dar explicações sobre erros, causas e consequências. Em Paul Ricard, na primeira oportunidade, fez questão de passar a conta para o piloto. Não me parece a atitude de um legítimo líder de equipe;

Leclerc era só autoflagelação: "Eu estava forçando o ritmo e perdi a traseira. Foi um erro. Provavelmente coloquei a roda num ponto sujo. Foi culpa minha. Se eu continuar cometendo erros assim, não merecerei conquistar o campeonato. Estou perdendo muitos pontos. Foram sete em Ímola e 25 hoje, porque tínhamos o carro mais forte. Se eu perder este campeonato por 32 pontos, saberei a razão. É inaceitável. Eu tenho que corrigir isso";

Ele citou que, apesar da pole, sofreu com o equilíbrio do carro durante todo o fim de semana. Disse que gosta de carros mais traseiros, mas que o calor de Paul Ricard tornou a situação muito delicada. Em casos assim, um instante de perda de foco pode ser fatal. Foi este seu erro;

Leclerc foi pressionado por Verstappen por 15 voltas. Pressão forte, com retrovisores cheios, sem espaço para erros. Na 16ª finalmente respirou, vendo o holandês ir para os pits. Na 17ª, escapou da pista e bateu. Parece claro que, ao relaxar, desconcentrou-se. A pista não perdoou;

Em 2007, em sua temporada de estreia na F1, Hamilton viu o título escorrer pelos dedos ao atolar na brita na entrada do pit lane de Xangai. Um erro banal, crasso, de alguém que experimentava pela primeira vez a pressão de lutar por um campeonato. É exatamente o que acontece com Leclerc nesta temporada. O inglês sofreu, amadureceu, deu a volta por cima, venceu o Mundial seguinte. O monegasco vai conseguir?

Verstappen venceu com 10s5 de folga, mas os carros que vieram na sequência foram duas Mercedes. Nas últimas cinco corridas, a equipe alemã marcou mais pontos do que a Ferrari: 136 a 115. "Eles estão se aproximando", resumiu Horner, o chefe da Red Bull;

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George Russell e Lewis Hamilton comemoram o pódio duplo da Mercedes no GP da França
Imagem: LAT Images

O grande mérito da Mercedes foi ter se reinventado. O W13 melhorou, mas ainda não consegue competir com Red Bull e Ferrari. A solução, então, foi apostar na regularidade. A equipe alemã é a única a marcar pontos em todas as 12 etapas. Na França, Hamilton emplacou o quarto pódio consecutivo. Foi, ainda, seu oitavo GP seguido na zona de pontuação. Russell está a um ponto de Sainz. Nos Construtores, a Ferrari está 82 pontos atrás da Red Bull, mas apenas 44 à frente da Mercedes. Se os italianos não se cuidarem...

Pérez alega que um problema no sistema de alertas do safety car virtual causou a perda da terceira posição para Russell no final da prova. A FIA admitiu que o hardware principal teve uma pane e que precisou recorrer ao reserva. Seguiu-se uma confusão enorme nos avisos sobre o momento de reaceleração e, nessa, o mexicano patinou e se deu mal;

"Recebi a mensagem de que o safety car virtual terminaria na curva 9. Não aconteceu, mas continuei recebendo a mensagem de que terminaria. Daí aconteceu na curva 12. É uma pena que isso tenha interferido no resultado da corrida", explicou o mexicano. Faz sentido. Pérez não é exatamente um gênio das pistas, mas aquela bobeada nas últimas voltas foi anormal;

Outro problema de sistema aconteceu na garrafa de água de Hamilton. Parou de funcionar logo no começo da prova, e o inglês disse que perdeu "cerca de 3 quilos". Por isso seu esgotamento na salinha antes do pódio;

A Alpine superou a McLaren e é agora a quarta no Mundial, com 93 pontos. O nome disso é Ricciardo, mas Seidl, chefe do time inglês, disse ontem que o australiano continuará por lá em 2023. Você coloca a mão no fogo por isso?

Fórmula 2

Drugovich conseguiu um terceiro e um quarto lugares nas duas corridas do fim de semana. Chegou a Paul Ricard com 39 pontos de vantagem para Sargeant, saiu com os mesmos 39 para Pourchaire, que reassumiu a segunda posição na tabela. Faltam cinco rodadas duplas na temporada: Budapeste, Spa, Zandvoort, Monza e Abu Dhabi. Está ficando bom pro brasileiro.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, Bottas tem 20 poles na carreira. O erro já foi corrigido

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL