Topo

Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

F1 deveria dar mais atenção a seus palcos tradicionais

Pilotos da F1 antes da largada para o GP de Eifel, no circuito de Nurburgring, em outubro de 2020 - Bryn Lennon/Getty Images
Pilotos da F1 antes da largada para o GP de Eifel, no circuito de Nurburgring, em outubro de 2020 Imagem: Bryn Lennon/Getty Images

Colunista do UOL

05/01/2022 18h02

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Então quer dizer que Domenicali, o homem-forte da F1 na Liberty, lamentou a ausência da Alemanha do calendário da F1 e se declarou "desapontado" com a falta de interesse do país em receber uma etapa do Mundial?

Sim, foi isso mesmo. Em entrevista ao canal alemão Sport1, ele afirmou o seguinte: "Precisamos ter certeza de que os GPs tradicionais estejam no calendário. Acreditem: estou desapontado e triste pelo fato de não termos um GP da Alemanha no momento. Mas, infelizmente, não vejo interesse real do país em voltar para o campeonato".

O italiano disse mais: "É uma pena. Espero que isso mude. Recebemos ofertas de países do mundo todo. Poderíamos correr em 30 circuitos diferentes. É lamentável que ninguém da Alemanha bata à nossa porta".

Ai, ai... Por onde começar?

Talvez pela própria resposta alemã.

"Nós queremos conversar. Nunca deixamos de acreditar que a F1 pode correr aqui. Mas isso depende das condições econômicas", retrucou Alexander Gerhard, diretor de comunicações de Nurburgring.

É este o ponto. Domenicali já tinha dado a letra: Lei da Oferta e Demanda. Muitos países querem a F1. E a Liberty enxerga isso exclusivamente como um negócio, cobrando taxas cada vez mais estratosféricas dos promotores.

dome - Divulgação - Divulgação
Stefano Domenicali, CEO da Fórmula 1
Imagem: Divulgação

Dizer-se "desapontado" com a "falta de interesse real" dos alemães flerta com o cinismo, além de subestimar nossa inteligência. Domenicali sabe que a vontade da Alemanha existe.

E, melhor do que nós, sabe o motivo de a F1 não correr lá.

Teria sido mais honesto e transparente simplesmente dizer que hoje os alemães não conseguem chegar aos preços que a Liberty cobra.

Se a Covid permitir, o Mundial deste ano será o maior da história, com 23 GPs.

A F1 vai correr em países que atropelam os direitos humanos, como Arábia Saudita, Hungria e Emirados Árabes. Haverá duas etapas em circuitos insossos montados em estacionamentos de estádios: Sochi e Miami. Em 2023 o Qatar voltará ao campeonato _por contrato, serão pelo menos mais 10 anos correndo em Losail. Isso para não falar do Vietnã, que estava no calendário do ano passado e que só caiu porque o promotor local se envolveu em mutretas. E a China, que agora tem um piloto titular? Alguém duvida que vai retornar?

Será mesmo que não há espaço para Nurburgring ou Hockenheim?

Sei que "constrangimento" não é uma expressão muito aplicável ao mundo dos grandes negócios, mas será que Domenicali não se sente desconfortável ao lembrar que, quando a F1 precisou, em 2020, Nurburgring abriu seus portões para recebê-la?

Faturar é fundamental, mas respeito aos antigos parceiros também é. A Liberty precisa caprichar mais no equilíbrio entre o autódromo moderno e o traçado antigo, entre o emergente e o tradicional, entre o dinheiro novo e aqueles que a ajudaram a chegar até aqui.