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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

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Lewis Hamilton no pódio de Sochi após comemorar sua centésima vitória na F-1  - Fórmula 1
Lewis Hamilton no pódio de Sochi após comemorar sua centésima vitória na F-1 Imagem: Fórmula 1

Colunista do UOL

27/09/2021 08h29

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Hamilton ignorou a primeira chamada da Mercedes para os intermediários. Só entrou na volta seguinte, quando a pista estava ficando impraticável e ouviu uma bronca do engenheiro pelo rádio. O curioso é que o parâmetro usado pela equipe alemã para chamá-lo aos boxes com tanta ênfase foi o rival pelo título e não o adversário na corrida. "É uma situação delicada quando o líder não para nos boxes. Mas estávamos correndo contra Verstappen, não contra Norris", explicou Wolff. Verstappen parou na volta 48. Hamilton, na volta 49;

É por isso que, ao longo desta temporada, tenho usado tanto a expressão "jogo de marcação" nos relatos dos GPs. São 20 pilotos no grid, mas Hamilton e sua equipe só têm olhos para Verstappen e vice-versa. O que importa, sempre, é entender o que o rival pretende fazer e trabalhar para anulá-lo. Entre outros atrativos, o Mundial está sendo uma aula de estratégia;

O gráfico abaixo, produzido pela Fórmula 1, ilustra bem o que foram as seis últimas voltas do GP da Rússia. Ninguém conseguiu manter a posição, tudo mudou, e quem parou antes se deu melhor. Russell, Bottas e Raikkonen estavam no grupo que parou primeiro, na 47ª volta. O finlandês da Alfa Romeo pulou de 13º para 8º. Seu compatriota da Mercedes saiu de 14º para 5º. O inglês foi de 11º para 10º. E a Aston Martin? Estava pontuando com seus dois pilotos, comeu mosca, dançou. Stroll entrou na 48ª. Vettel, só na 50ª;

Em termos de pontuação, de estratégia para o campeonato e de satisfação pessoal, ninguém saiu mais vencedor dessa confusa janela de pits do que Verstappen. Até a chuva cair em Sochi, o holandês imaginava terminar a corrida 11 pontos atrás de Hamilton. A diferença caiu para apenas 2. Ele agora tem uma unidade de potência nova para as sete etapas finais do campeonato e sabe que o rival, em algum momento, provavelmente terá que trocar o motor e largar do fundo do grid. A tabela do Mundial mostra Hamilton na frente, mas o momento é todo de Verstappen;

O maior perdedor, claro, foi Norris. "Foi decisão minha, baseado nas informações que eu recebi da equipe, e juntos vamos ter que entender como poderíamos ter trabalhado melhor", disse o inglês, obviamente desolado, em entrevista em Sochi. Nas redes sociais, ele se abriu mais. "Dói muito. Dói por mim e dói pela equipe. Perdemos juntos. Sinto-me muito mal, isso vai durar algum tempo. Mas vamos voltar mais fortes e melhores, sei disso";

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Lewis Hamilton e Lando Norris após o GP da Rússia
Imagem: Yuri Kochetkov - Pool/Getty Images

Norris errou feio. Só entrou na 51ª volta, quando a pista estava tomada por água _aliás, a porcaria de drenagem de Sochi ficou evidente ao longo da semana e nada foi feito. Mas quem, aos 21 anos, no primeiro emprego da vida, nunca errou feio? O inglês vai remoer este GP por dias e noites, vai relembrar cada segundo e cada diálogo, vai assimilar. Vai voltar melhor. O mais importante ele tem de sobra: talento. Falta experiência, que muitas vezes vem acompanhada de dor. Em pouco tempo, Norris terá o pacote completo;

Em tempo: todas as equipes recebem exatamente as mesmas informações de meteorologia. No passado, cada time contratava seu próprio serviço. Desde 2017 há um fornecedor único para a categoria, a Meteo France. Saber ler os mapas faz diferença;

Não dá para não falar da McLaren. A equipe inglesa ontem passou perto de sua segunda vitória seguida, o que não acontece desde 2012. O que era uma desconfiança no começo do ano já é certeza agora: a McLaren voltou. Não, ainda não é a potência do passado. Mas está mais perto das primeiras filas do que do fundo do grid. Estrategistas de Mercedes e Red Bull ganharam mais um elemento para se preocupar na hora de traçarem seus planos para as próximas corridas. Não é mais no mano a mano. Há uma intrusa à espreita;

Com o terceiro lugar em Sochi, Sainz superou Leclerc e hoje é o ferrarista mais bem colocado no campeonato. Nada mal para quem começou a semana dizendo não querer ser um mero escudeiro na equipe italiana;

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Integrantes da Mercedes comemoram, em Sochi, a 100ª vitória de Lewis Hamilton na F-1
Imagem: Fórmula 1

Quando comecei a acompanhar F-1, nos anos 80, o recordista de vitórias era Stewart: 27. Parecia uma marca mítica, inalcançável. Pois Prost superou o escocês em 1987 e ampliou o recorde para 51. Em 2001, Schumacher bateu o francês. Quando pendurou o capacete, tinha 91 vitórias. Agora, Hamilton chega a 100, com mais dois anos de contrato com a Mercedes. Onde o inglês vai parar? Mais: alguém um dia vai bater este recorde? É impossível, até alguém ir lá e fazer. E este é um dos fascínios do esporte.