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Por que foi tão importante para a seleção de basquete jogar em Franca?

Guilherme Deodato, da seleção brasileira, em vitória do Brasil sobre a Colômbia em Franca - Marcos Limonti/SFB
Guilherme Deodato, da seleção brasileira, em vitória do Brasil sobre a Colômbia em Franca Imagem: Marcos Limonti/SFB
Gustavinho Lima

02/03/2022 18h39

Foram anos sem jogar em solo brasileiro em jogos oficiais. A seleção brasileira de basquete não entrava em quadra com o apoio do seu torcedor desde 2017. E a volta foi justamente no Carnaval.

Nos dias 25 e 28 de fevereiro, o Brasil jogou pelas eliminatórias da Copa do Mundo FIBA 2023. O palco não podia ser melhor: Franca, a capital do basquete, que não recebia um jogo oficial da seleção desde a década de 1980.

Foi uma linda festa para receber a equipe do treinador Gustavinho de Conti, também técnico do Flamengo, atual campeão Mundial de Clubes, e de seu assistente (e prata da casa), Hélinho Rubens Garcia, que dirige o Franca, atual líder do NBB (Novo Basquete Brasil).

Ginásio Pedrocão completamente lotado, atmosfera contagiante e duas ótimas vitórias. 85 a 66 sobre o Uruguai e 119 a 73 contra a Colômbia. Muitos foram os atributos do Brasil em quadra, mas o que fez os olhos dos torcedores brilharem foi a vontade de vencer da equipe, traduzida em muita disposição qualquer que fosse o quinteto escalado, com grande rotatividade do banco sem perder a intensidade.

O que se viu foi um time versátil, podendo atuar com diferentes formações, e extremamente atlético, defendendo muito forte no 1 contra 1, correndo muito bem a quadra e chutando muitas bolas de três pontos —sem deixar de competir no rebote ofensivo.

A torcida se empolgou com o quinteto inicial na partida contra a Celeste, com três jogadores de Franca, Georginho, Lucas Dias e Lucas Mariano, e mais dois que já vestiram a camisa francana (e que atualmente jogam na fortíssima liga espanhola), Vitor Benite (San Pablo Burgos) e Léo Meindl (Fuenlabrada) —o último, nativo da capital da bola laranja.

Ligeiro, o armador Yago já foi algoz de Franca algumas vezes atuando pelo Flamengo, mas arrancou gritos e aplausos das arquibancadas com suas arrancadas, passes ousados e chutes de três no contra-ataque. Foram 11 pontos, 7 assistências e 3 bolas de três no primeiro jogo e oito assistências no segundo. O "capeta em forma de guri", como narrou Rômulo Mendonça na sempre simpática transmissão nos canais ESPN.

Ao seu do lado, o sempre bem-informado Guilherme Giovannoni, que depois de vestir amarelinha por quase 20 anos estava visivelmente emocionado por acompanhar a seleção na beira da quadra. Ele frisou a importância do apoio e contou que a única vez que a sua geração atuou com torcida brasileira foi justamente no Rio 2016.

A criação dos ídolos passa por esse tipo de iniciativa, por contar com o torcedor gritando os nomes dos atletas e se identificando com o estilo de jogo de cada um. Para o atleta, sentir o carinho e o reconhecimento vindo da plateia talvez seja um dos melhores termômetros.

Nessa janela, 11 dos 14 convocados atuavam no NBB, o que aproxima ainda mais o público do time e demonstra a força do campeonato nacional. E, se o brasileiro apaixonado por esportes por vezes sofre com a retranca do futebol, no basquete nacional isso definitivamente não é um problema. O jogo proposto por Gustavinho é um basquete totalmente moderno, com ritmo muito acelerado e muitos chutes de três pontos.

Pelas eliminatórias, nos quatro jogos sob seu comando (dois contra o Chile, um contra Uruguai e Colômbia), teve 100% de aproveitamento. O Brasil anotou 90,5 pontos de média, sendo 41,4 desses pontos vindos de arremessos de 3, com 37,8% de aproveitamento. Atento a um dos fundamentos mais importantes do basquete, o time compete no rebote de maneira feroz. Pega mais de 44 por jogo, contra 26 dos seus adversários, sendo 10,8 no ataque, proporcionando em maior número valiosas segundas chances de cesta.

De volta à temática carnavalesca, a torcida brasileira aplaudiu de pé, com uma coreografia afinada, a seleção classificada para a segunda fase das Eliminatórias do Mundial —que será em 2023, com jogos nas Filipinas, no Japão e na Indonésia. Entre junho e julho, o Brasil fecha a primeira fase com jogos no Uruguai e na Colômbia.

Eu diria que o Brasil caminha para retomar o papel de potência do basquetebol das Américas ao lado de Estados Unidos e Argentina. Ou melhor: com o tanto que a seleção está correndo em quadra, seria uma heresia dizer que estão só caminhando...

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