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O Cruzeiro não é exceção

Fred se lamenta durante a partida entre Cruzeiro e Palmeiras - Miguel Schincariol/Getty Images
Fred se lamenta durante a partida entre Cruzeiro e Palmeiras Imagem: Miguel Schincariol/Getty Images

30/12/2019 04h00

Vão aparecendo manchetes, noticias, e fica claro que conhecer a Série B está distante léguas e léguas de ser o principal problema do Cruzeiro. Desapareceram as dúvidas, o falar baixo nas salas dos dirigentes. Os avisos, agora, são públicos, barulhentos, soam feito alarme em campo de guerra. As dívidas, montanhosas, são o desafio primordial a ser encarado; todo o resto, incluindo o que vai acontecer nos campos da segunda divisão, será decorrência desse embate.

Já que os compromissos financeiros não desaparecerão magicamente, o Cruzeiro terá de se embrenhar no caminho estreito, combinando aumento de receita com um corte de despesas à maneira dos estóicos. Tal combinação é o modo racional, óbvio, de lidar com crises financeiras. Mas obviedade nem sempre é sinônimo de facilidade. Governos, empresas, indivíduos, todos têm dificuldade ao tentarem realizar simultaneamente esses dois movimentos: reduzir as despesas ao inevitável e conseguir mais recursos.

Não é moleza. O Cruzeiro percorreu o caminho largo, gastando muito além da conta. A Série B até poderia ter sido evitada; bastava ter vencido o CSA e o Avaí no Mineirão. Mas permanecer na primeira divisão já não seria suficiente para esconder ou contornar as dívidas, nem sequer para adiar o enfrentamento da situação. A crise do clube pode ser resolvida, desde que os dirigentes façam a coisa certa, incluindo ficar dentro dos limites do orçamento inevitavelmente curto para os próximos anos.

Será uma jornada longa por terrenos áridos, ermos. Consumado o rebaixamento, escancarado o colapso financeiro, feitos os expurgos na administração, surgem os informes inapelavelmente reais. Os que tomaram as rédeas dizem que o início da superação da crise não será visto antes de 2023. Mas o Cruzeiro tem torcida muito grande, o que sempre produz interesse da TV, do rádio, dos sites, da imprensa. Interesse público, por sua vez, costuma atrair patrocínio e investimentos.

O clube tem também boa estrutura física, condição indispensável para seguir formando bons jogadores. Sem dinheiro, é preciso plantar talentos, cultivá-los. Principalmente, o Cruzeiro é portador de formidável história, que não paga as contas, mas pode ser decisiva para a reconstrução. Torcida grande, boa estrutura física e história formidável; convenhamos, só administrações muito ruins podem abalar um clube que tem tudo isso.

A gastança irresponsável tornou-se regra no futebol brasileiro. O Cruzeiro, pois, não é exceção. São muitos os clubes brasileiros repletos de história e de dívidas. A popularidade do futebol no Brasil não é ignorada no Congresso Nacional. Futebol dá voto. E vão saindo do forno projetos, programas de socorro, panacéias. Os parlamentares, quando voltarem ao batente, terão pela frente duas propostas de lei para que os clubes possam transferir o controle do futebol para investidores, dentro ou fora do mercado de ações. O projeto que está no Senado parece melhor que o que tramita na Câmara com apoio do Rodrigo Maia.

Talvez saia alguma coisa boa; talvez os legisladores aprovem um texto capaz de piorar a situação. Os dirigentes dos clubes não podem esperar sentados, nem devem olhar apenas para o próprio umbigo. Pelo menos há alguns clubes buscando soluções sérias. Estes, sim, são a exceção. Sair do lugar-comum, da pasmaceira, incomoda os que querem deixar os barcos afundarem sossegadamente. Me lembro de um trecho de Memórias do Cárcere, frase curta de Graciliano Ramos: A exceção nos atrapalha, temos de reformar julgamentos.

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