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Zaidan: A importante convocação de Tite para amistosos fora de hora

Tite comanda a seleção brasileira na final da Copa América contra o Peru - Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images
Tite comanda a seleção brasileira na final da Copa América contra o Peru Imagem: Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images

17/08/2019 11h18

O título na Copa América concede ao Tite algum sossego. E sossego, no futebol, é quase sempre efêmero. De todo modo, se o Brasil não tivesse levantado a taça continental, dificilmente a CBF suportaria a pressão da crônica e do público por mudanças no comando da seleção.

Com a conquista, que manteve a escrita de o Brasil sempre vencer a Copa América quando a recepciona, Tite superou o primeiro grande obstáculo à sua manutenção no cargo até o Mundial no Catar. No meio do caminho ainda há outra Copa América e, é claro, o classificatório para a Copa de 22, mas o primeiro passo importante foi dado.

O certo é que, agora, Tite se sente mais à vontade para algumas renovações e mudanças, ainda que paulatinas. A lista para os amistosos de setembro já indica esse processo. A principal surpresa foi a convocação de Samir, zagueiro da Udinese. Mesmo sem anúncio oficial, é dado como certo que Miranda despediu-se da seleção, abrindo automaticamente disputa por uma vaga na defesa.

Samir, que era do Flamengo antes de partir para a Itália, joga pelo lado esquerdo da zaga e é o primeiro a ter oportunidade de ganhar esse espaço, como reserva de Thiago Silva. Outra novidade é Jorge. O lateral do Santos apoia bem, tem boa técnica no drible e no passe, e joga em uma posição onde há dúvidas consideráveis sobre quem estará no Catar.

Filipe Luís não está fora da disputa; tampouco Marcelo, que não foi chamado para a Copa América, mas que pode tornar sua convocação inevitável se, pelo Real Madrid, voltar a jogar em seu melhor nível (com Zidane no comando do time madrilenho, essa possibilidade aumenta). Jorge tem futebol para se manter no elenco ou mesmo para deixar Alex Sandro no banco.

É óbvio, no entanto, que Tite também está de olho em Arana e, principalmente, Renan Lodi, que foram chamados para a seleção sub-23. Arana nem sabe se continuará no Sevilla, que contratou Reguilón e quer negociar o brasileiro. Muito diferente é a situação de Lodi, que começou a temporada jogando muito bem pelo Atlético de Madrid.

Aliás, Tite errou ao não convocar Lodi para a Copa América; o lateral já deveria ter sido chamado pelo que mostrou no Athletico Paranaense. O título na Copa América não esconde outro erro daquela convocação: a ausência de Fabinho, campeão europeu pelo Liverpool. Agora, finalmente, Fabinho volta à seleção e poderá, em pouco tempo, ganhar um lugar no meio-campo, desde que, é óbvio, Tite lhe dê oportunidade suficiente e saiba utilizar suas qualidades tão bem quanto Klopp.

A suspensão de Gabriel Jesus, punido pela Conmebol, abriu uma porta para Bruno Henrique, que, muitas vezes, tem jogado como centroavante pelo Flamengo, mas cujas características são diferentes das do atacante do City.

Bruno Henrique tem feito gols e mostra muita disposição para ajudar seu time em outras funções, inclusive na marcação; se aproveitar a chance, poderá, mesmo quando Gabriel Jesus voltar, entrar na disputa com Richarlison e com Pedro (o centroavante do Fluminense está contundido outra vez e perdeu a chance de ser chamado, mas já foi elogiado por Tite e deverá ter oportunidade, até porque tem modo de jogar distinto de todos os outros atacantes que têm jogado na seleção.).

Vinicius Junior, outro que faltou na lista para a Copa América, ainda precisa melhorar seus passes e finalizações, mas, por outro lado, tem qualidades especiais, principalmente o drible e a capacidade de, em alta velocidade, mudar de direção sem perder o controle da bola, o que costuma desnortear o marcador. Pode se aproveitar da ausência de Everton, que só não foi convocado porque o Grêmio está nas semifinais da Copa do Brasil.

Também há novidade entre os goleiros: Ivan, que tem defendido muito no gol da Ponte Preta. Tite gosta de incluir um goleiro mais jovem no elenco formado para amistosos, mas o caso de Ivan é diferente, pois ele é titular de seu time e desperta, há tempos, interesse de outros clubes brasileiros; a Ponte, no entanto, não parece disposta a negociá-lo no mercado interno.

É provável que Tite, nos dias anteriores à convocação, tenha convivido com uma dúvida: chamar ou não o Coutinho, que passou as últimas semanas tentando descobrir por qual time jogará a temporada que está começando. Feitas as contas, Tite decidiu, corretamente, que circunstâncias de mercado não deveriam ser consideradas. Horas depois da convocação, o Bayern anunciou a contratação de Coutinho, emprestado pelo Barcelona.

E Neymar? Houve especulações de que a comissão técnica estava ponderando se valeria a pena chamá-lo. Acho que essa dúvida não existiu. Ganhar a Copa América não fez Tite acreditar que Neymar é prescindível na Copa do Mundo ou mesmo nos jogos mais difíceis do classificatório. Sim, na opinião pública nacional, há considerável rejeição ao Neymar; sim, as relações conturbadas, clube após clube, não ajudam a mudar a impressão geral de que sua carreira, apesar dos muitos títulos, é menor que seu talento.

Mas Tite considera que exatamente esse talento é que pode decidir o que a seleção brasileira conseguirá no Catar. É possível, além de tudo isso, que a presença de Neymar seja uma das exigências estabelecidas no contrato entre a CBF e os organizadores desses jogos de setembro. Há um excesso de datas para os amistosos entre seleções. No Brasil, isso é problema recorrente para os clubes e, portanto, para os torcedores, que continuam fora do círculo de preocupações da CBF. Tite, porém, não tem poder para mudar tais coisas.

Só lhe resta aproveitar cada jogo, ainda que fora de hora, para continuar tentando formar um time capaz de ser campeão do mundo.

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