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Antero Greco: Você sabe o que é um Palmeiras x Corinthians?

Montagem com fotos de Fabio Carille e Felipão, técnicos de Corinthians e Palmeiras - Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians e Daniel Vorley/AGIF
Montagem com fotos de Fabio Carille e Felipão, técnicos de Corinthians e Palmeiras Imagem: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians e Daniel Vorley/AGIF

02/08/2019 04h00

Caro amigo que dedica alguns minutos para ler esta crônica semanal, você pode me chamar de provinciano, não tem problema, mas vou admitir mais uma vez: amo clássicos estaduais. Me amarro nos duelos entre vizinhos. Não há nada mais gostoso do que um Gre-Nal, um Ba-Vi, um Fla-Flu, um Re-Pa, Cruzeiro x Atlético, Atle-Tiba e por aí afora. Acrescente o jogo de sua preferência, e que lhe seja próximo, e pode ter certeza de que concordarei.

Como sou paulista - paulistano do Bom Retiro, bom ressalvar -, fico fascinado por Corinthians x Palmeiras. O Dérbi me encanta desde que me entendo por gente. Garotinho, lá nos jurássicos anos 1960, em semana do clássico ficava ansioso por sete dias. No domingo (porque em geral se enfrentavam no domingo à tarde), acordava, lavava o rosto, escovava os dentes e já ligava o rádio para não perder um detalhe da jornada especial.

Quanta emoção nas narrações de Fiore Gligliotti, um craque do microfone que durante décadas transformou o encontro de alviverdes e alvinegros em momentos épicos do futebol. Assim que dizia "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", pelas ondas da Rádio Bandeirantes, a adrenalina corria solta, como a bola no gramado. Milhões se emocionavam com Fiore.

Os tempos mudaram, tevê, internet, smartphones registram tudo velozmente; talvez, parte da magia tenha se perdido. Porém, atire a primeira pedra quem puder comprovar que Palmeiras x Corinthians não tenha charme peculiar, incomparável. Não há como negar que, força de São Paulo e Santos à parte, o tira-teima entre os dois velhos rivais soa diferente.

Frase que resume o segredo do dérbi foi usada por Lima Duarte, na primeira parte de "Boleiros", filme fantástico de Ugo Giorgetti. No papel de treinador do Palmeiras, ele diz para Marisa Orth, uma "maria chuteira" infiltrada no hotel em que a delegação estava concentrada e que dava em cima dos jogadores. "Minha senhora, a senhora não sabe o que é um Palmeiras e Corinthians."

Os mais de 100 anos de história têm dezenas de episódios marcantes. Se puxar pela memória, cito a vitória do Corinthians no Paulista do Quarto Centenário de São Paulo, decidido no início de 1955. Ou a conquista palestrina em 1974, também no Paulista, gol de Ronaldo e que empurrava o jejum corintiano para 20 anos. Como esquecer o pênalti defendido por Marcos, em chute de Marcelinho, na semifinal da Libertadores de 2000? Ou a festa alvinegra, no Allianz Parque, na final do Paulistão do ano passado? Pesquise e encontrará páginas lindas.

Esse rodeio todo é para constatar que, como manda a tradição, o Corinthians x Palmeiras da noite deste domingo (4 de agosto) não será um joguinho qualquer previsto no calendário do Brasileirão. Serão outros 90 minutos únicos - e importantes para os dois lados. Só para variar, tem muita coisa em disputa, além dos óbvios três pontos.

É partida para afirmação ou perdição. Vamos ver por quê.

Se você pegar a classificação, verá que o Palmeiras é vice-líder do Campeonato Brasileiro, com 27 pontos, oito vitórias, só uma derrota, 20 gols a favor e seis contra. O Corinthians está em 8.º, com 19 pontos, cinco vitórias, duas derrotas, 12 gols marcados e 7 sofridos. A turma de Felipão, portanto, está melhor e é favorita para voltar de Itaquera com três pontos mais na bagagem.

Engano. O Palmeiras vive período de turbulência, que já desembocou em eliminação na Copa do Brasil e em apenas dois pontos nos últimos nove disputados na Série A desde a retomada após a Copa América. O Corinthians ganhou 7 e tem se mostrado mais consistente.

Tropeço verde pode significar distanciamento do líder Santos e aproximação de concorrentes como Flamengo, Atlético-MG, São Paulo e o próprio Corinthians. Além disso, abalaria o favoritismo dado ao Palmeiras desde a largada da competição. Seria a constatação de declínio. Vitória repõe o time no bom caminho. Para o Corinthians, perde pode representar adeus prematuro a qualquer veleidade de brigar pelo título. Empate não muda grande coisa.

Quais alternativas têm os treinadores? Felipão tem optado por rodar o elenco, como em 2018. Carille segue roteiro semelhante. Ambas as equipes jogaram na semana - o Palmeiras um pouco mais descansado porque entrou em campo na terça; o Corinthians esteve no Uruguai na quinta-feira e, portanto, com menos tempo para recompor-se.

Noves fora as avaliações físicas e médicas, não vejo como os "professores" possam fugir do óbvio: apelar para força máxima, ou o mais próximo disso. A hora é de sacrifício e devem levar em conta o peso que tem o resultado do dérbi no humor das respectivas torcidas. Para o Palmeiras é até questão de honra, por ter histórico recente péssimo diante de Carille.

O dérbi tem pinta de que estará carregado de emoção, tensão e... gols. E, se Deus quiser, sem interferência do VAR.

PS. Proponho a corintianos e palmeirenses que contem, aqui, qual a melhor (ou pior) lembrança que têm de Corinthians x Palmeiras. Qual jogo o marcou mais?

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