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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O inesperado pode derrubar Tite de novo

Tite, técnico da seleção brasileira, na partida contra Camarões pela Copa do Mundo - Pablo Morano/BSR Agency/Getty Images
Tite, técnico da seleção brasileira, na partida contra Camarões pela Copa do Mundo Imagem: Pablo Morano/BSR Agency/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

03/12/2022 01h17

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Deu tudo errado para Tite e os reservas da seleção brasileira contra Camarões. Derrota, encerrando invencibilidade de 17 partidas, desempenho apenas razoável com impressionante deficiência nas finalizações: 21, sete no alvo, todas defendidas pelo inspirado Devis Epassy.

O contestado Daniel Alves defendeu mal, como de costume, e foi burocrático como lateral construtor, servindo apenas um passe para Martinelli finalizar com perigo. O atacante do Arsenal foi o destaque brasileiro, apresentando-se como opção. Mas pouco útil em uma análise para efeito mais imediato, já que o titular na ponta esquerda é Vinicius Júnior.

Pior que o resultado e a atuação decepcionante foi a expressão quase de pânico de Tite nos últimos instantes, entre o gol de Aboubakar e o apito final. De quem não esperava a derrota e imaginava um melhor desfecho, com o Brasil sendo o único com 100% de aproveitamento ou, ao menos, a manutenção da série invicta.

Tite é um treinador detalhista, daqueles que tentam diminuir ao máximo a aleatoriedade do jogo. Ter o controle. Mas quando algo escapa do roteiro esperado ele costuma sair do prumo.

Foi assim em 2018. Primeiro na reação a Casemiro suspenso para o jogo contra a Bélgica. Fernandinho era o substituto natural, mas faltou sensibilidade para perceber que, sem o pilar à frente da retaguarda, era melhor guardar o lado esquerdo, com Filipe Luís no lugar de Marcelo. O técnico preferiu manter o titular. Um equívoco, ao menos na parte defensiva.

Depois o claro incômodo ao constatar a inversão de De Bruyne com Lukaku, com este jogando mais à direita. Não afetou objetivamente, já que o primeiro gol foi contra, de Fernandinho em um escanteio, e o segundo com Lukaku arrancando por dentro no rebote de um escanteio e De Bruyne recebendo livre pela direita para bater forte e cruzado vencendo Alisson.

Agora, Tite sabe que criou um problema para si com essa derrota. Pressão, crise, cobranças. Se o brasileiro, inclusive boa parte da imprensa, vê as zebras comendo soltas na Copa e um equilíbrio de forças nunca visto, isso não vale para o pentacampeão mundial. Primeira derrota na história para africanos? Apenas três gols marcados nesta edição do torneio? Vexame.

O brasileiro agora ainda exige sete vitórias, para repetir 2002. Perder como em 1998 já mancha a campanha. Como se na pior jornada dos últimos 40 anos, em 1990, na Itália, as três vitórias na fase de grupos tivessem valido alguma coisa depois que Maradona serviu Caniggia, que mandou o time de Lazaroni para casa.

Só há uma resposta possível: vencer na segunda-feira, dia 5, a Coreia do Sul nas oitavas. O problema agora é a surpresa das lesões. Danilo, Alex Sandro e Neymar em recuperação, Alex Telles e Gabriel Jesus novas preocupações. Como Tite vai lidar?

Ele claramente reagiu mal ao surpreendente Camarões. E se a seleção de Heung-min Son sair na frente e criar resistências? Ou arriscar uma surpresa tática? Impossível saber como o treinador brasileiro reagirá.

A única certeza é que ele atraiu a ira e a histeria de muitos. Agora é desatar os nós para retomar o caminho. Aprendendo com os erros e corrigindo. Sem desespero. Para o inesperado não derrubar novamente.

(Estatísticas: SofaScore)

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