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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flamengo ou Palmeiras, campeão no Brasil sempre precisa de uma eliminação

Tiago Maia disputa lance com Zé Rafael, na partida entre Flamengo e Palmeiras, no Maracanã - AGIF
Tiago Maia disputa lance com Zé Rafael, na partida entre Flamengo e Palmeiras, no Maracanã Imagem: AGIF

Colunista do UOL Esporte

04/11/2022 08h50

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Com a confirmação do título brasileiro do Palmeiras e o Flamengo conquistando as outras duas taças mais relevantes na temporada, Libertadores e Copa do Brasil, começa o duelo de narrativas tão comum no Brasil dos últimos anos.

De um lado "o Flamengo deu sorte de não enfrentar o Palmeiras nas copas", do outro "Palmeiras só ganhou o Brasileiro porque o Flamengo escalou reservas em muitos jogos".

Nunca saberemos se os desfechos seriam diferentes, mas uma coisa é certa: no calendário brasileiro, o campeão de uma competição sempre precisa de uma ou mais eliminações, ou do "abandono" dos pontos corridos, para "limpar" a agenda e as pernas dos jogadores aguentarem.

Tomemos como recorte as temporadas de 2018 para cá, quando o domínio de Palmeiras e Flamengo ficou mais nítido.

O Palmeiras de Felipão aproveitou um "vácuo" de poder no Brasileiro, contra os hesitantes Flamengo de Barbieri, Internacional de Hellmann e São Paulo de Aguirre, para assumir a liderança mesmo utilizando time misto em várias rodadas. Mas só com as eliminações dos torneios de mata-mata que priorizou é que conseguiu o "sprint" final para administrar a liderança contra o redivivo Fla comandado por Dorival Júnior.

Em 2019, Jorge Jesus deu a cara final do Flamengo histórico, campeão da Libertadores e recordista de pontos no Brasileiro, justamente nas semanas de setembro em que a Copa do Brasil foi decidida - o time rubro-negro caiu nas quartas, nos pênaltis, justamente para o Athletico de Tiago Nunes, que seria o campeão. O sucesso seria o mesmo sem esse respiro no calendário?

O Palmeiras foi o time de 2020, assim como o Flamengo é o de 2022. Conquistou Libertadores e Copa do Brasil, essa decidida depois do Brasileiro. Mas para isso a principal competição nacional ficou para trás na reta final.

Isso sem um grande desafio no mata-mata nacional, muito pela incompetência dos times de mais tradição: o Santos, que decidiria a Libertadores com o time de Abel Ferreira foi eliminado pelo Ceará, adversário do Alviverde nas quartas. América na semifinal, porque o time mineiro eliminara Corinthians e Internacional.

O Flamengo caíra nas quartas para o São Paulo de Fernando Diniz, então sensação da temporada. Foi eliminado da Libertadores nas oitavas pelo Racing, nos pênaltis. Sem mata-mata, focou no Brasileiro, arrancou no final aproveitando o vacilo do Internacional de Abel Braga e ficou com o bicampeonato brasileiro.

Em 2021, o Palmeiras caiu cedo e vexatoriamente na Copa do Brasil para o CRB. Mesmo assim não conseguiu rivalizar com o Atlético Mineiro no Brasileiro e focou tudo na Libertadores. Meses de preparação e o título em Montevidéu. Antes eliminou no gol "qualificado" o Galo invicto no torneio continental.

O time de Cuca foi o que mais soube lidar com o calendário e ficou por muito pouco da verdadeira tríplice coroa. Ainda assim, houve um respiro relativo no ano: nenhum adversário realmente ameaçador na Copa do Brasil. Remo, Bahia, Fluminense, Fortaleza e Athletico. Assim como em 2020 o Grêmio, com o trabalho de Renato Gaúcho mais que desgastado e que eliminou com duas retrancas o São Paulo ladeira abaixo, não foi páreo para o Palmeiras na decisão.

O Flamengo em 2022 teve duros desafios na mesma competição: Atlético Mineiro, Athletico, São Paulo e Corinthians. Por incrível que possa parecer, os duelos na Libertadores acabaram sendo mais acessíveis; Tolima, um Corinthians em má fase nas quartas, o Vélez que surpreendentemente eliminou o River Plate e, na final, o Athletico, que tirou o bicampeão e favorito Palmeiras.

Ainda assim, precisou fazer escolhas e relegar o Brasileiro à terceira opção, escalando times mistos. Até teve a chance de encostar no líder, mas a equipe de Abel, justamente por não estar mais envolvida na Copa do Brasil, não deu brechas. Depois, sem Libertadores e totalmente focada nos pontos corridos, sobrou mais ainda.

No Brasil é assim. Há estadual ocupando quase um terço do calendário e a copa nacional, pela cultura forte de mata-mata e a gorda premiação, não é uma conquista menos importante, como acontece na Europa. Logo, a margem de manobra dos elencos é quase zero. Então quem cai no mata-mata prioriza o Brasileiro e quem segue deixa os pontos corridos para lá.

Por isso é impossível prever como seria o Flamengo nas copas dando tudo no Brasileiro e o Palmeiras nos pontos corridos se fosse até o fim no mata-mata. Poderiam terminar com as mãos abanando, como aconteceu com os rubro-negros no ano passado.

Nos duelos da temporada, empates. Mas nenhum com o time carioca completo e sob o comando de Dorival Júnior. Os palmeirenses alegarão que, no Allianz Parque, o jogo terminou com o Palmeiras melhor, com as substituições colocando reservas de Abel e titulares de Dorival em campo.

Narrativas. A única certeza é que o calendário da CBF é o grande entrave para uma real hegemonia na temporada. Mas outros dirão que é isso que garante alguma emoção, apesar do domínio da dupla forte na bola e na gestão financeira.