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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flamengo será um "estranho pioneiro" nas finais únicas de Libertadores

Everton Cebolinha, do Flamengo, comemora gol contra o América-MG pelo Brasileirão -  Gilson Junio/AGIF
Everton Cebolinha, do Flamengo, comemora gol contra o América-MG pelo Brasileirão Imagem: Gilson Junio/AGIF

Colunista do UOL Esporte

23/10/2022 08h01

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O time reserva, ou "do Brasileiro", cumpriu sua melhor atuação desde os 4 a 1 sobre o Atlético-GO. O Flamengo venceu o América no Independência e os 2 a 1 saíram baratos para os mineiros diante dos muitos contragolpes desperdiçados pelos rubro-negros, especialmente no segundo tempo.

Mas os gols da joia Matheus França e de um Everton Cebolinha cada vez mais aceso, ambos no primeiro tempo, encaminharam a vitória de um time leve, solto e tranquilo por jogar as últimas rodadas sem maiores responsabilidades, já que o clube, com o título da Copa do Brasil, está garantido na fase de grupos da próxima Libertadores.

Na coletiva pós-jogo, imaginava-se que Dorival Júnior pudesse anunciar a preservação não só de titulares, mas também de alguns reservas, como o próprio Cebolinha, para o jogo contra o Santos, na terça (25), no Maracanã. A quatro dias da grande final sul-americana.

O treinador, porém, surpreendeu ao acenar com a possibilidade de escalar "de quatro a cinco titulares" na próxima partida. Segundo Dorival, os jogadores foram consultados e alguns não gostariam de ficar dez dias sem atuar até a decisão.

Poderia até fazer algum sentido, mas o último jogo foi uma final. Com enorme desgaste físico e emocional, ressaltado pelo próprio técnico na mesma entrevista. Escalar João Gomes contra o América era compreensível, porque aí seriam 14 dias entre o último jogo do meio-campista, contra o Atlético-MG, e o confronto com o Athletico em Guayaquil.

Mas arriscar titulares tão próximo do grande jogo da temporada seria algo inédito na história das finais em jogo único do torneio continental. Em 2019, Jorge Jesus escalou apenas Diego Alves, Arrascaeta e Gabigol na vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio, em Porto Alegre, a seis dias da decisão em Lima. O River Plate venceu a semifinal da Copa Argentina, contra o Estudiantes, nove dias antes.

Na edição 2020, com jogos já no ano seguinte pelo calendário durante a pandemia, o Palmeiras escalou titulares na derrota por 2 a 0 para o Flamengo no dia 21 de janeiro e Abel Ferreira preservou a maioria absoluta nos dois jogos seguintes - derrota por 2 a 1 para o Ceará (24), empate por 1 a 1 com o Vasco (26) - antes de vencer o Santos, no Maracanã, por 1 a 0 no dia 30.

Vale lembrar também que o Palmeiras, campeão da Copa do Brasil naquela temporada, só começou a decidir o torneio com o Grêmio depois do Brasileiro. O Santos escalou time misto na derrota por 4 a 3 para o Goiás no dia 24 e apenas reservas no revés para o Atlético-MG por 2 a 0, dois dias depois.

No ano seguinte, o Flamengo utilizou a base titular nos 2 a 1 sobre o Internacional no Beira-Rio no sábado, dia 20 de novembro. Depois só reservas, colocando Arrascaeta vindo de longo período lesionado para jogar alguns minutos, nos 2 a 2 com o Grêmio, também em Porto Alegre, no dia 24, três dias antes da final em Montevidéu.

Já o Palmeiras usou titulares na derrota para o Fortaleza por 1 a 0 no dia 20 e reservas no dia 23, quando empatou com o Atlético-MG por 2 a 2. Isso depois de tratar todo o período desde a classificação para a final como preparação, sem tentar ser competitivo no Brasileiro e lutar pelo título com Galo e Flamengo.

O Athletico, adversário do Flamengo em Guayaquil, utilizou titulares na derrota por 4 a 2 fora de casa para o Bragantino. Está em uma situação desconfortável no G-6, enfrenta o virtual campeão Palmeiras em casa na terça, mas a tendência é que Felipão escale apenas reservas, mesmo atuando na Arena da Baixada.

Ou seja, se o time carioca escalar titulares na terça será um "estranho pioneiro" nas finais únicas de Libertadores. Na prática, será mais uma prova da exagerada ascendência das lideranças do elenco sobre a direção do clube e, por consequência, da comissão técnica.

Para um elenco que vai bater 77 jogos, o número máximo no ano, ainda que dentro de um revezamento que já dura três meses, é um risco totalmente desnecessário.