OPINIÃO
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Galo faz história na Libertadores, mas time controla menos os jogos
André Rocha
André Rocha é jornalista, carioca e colunista do UOL. Trabalhou também para Globoesporte.com, Lance, ESPN Brasil, Esporte Interativo e Editora Grande Área. Coautor dos livros "1981" e "É Tetra". Acredita que futebol é mais que um jogo, mas o que acontece no campo é o que pauta todo o resto. Contato: anunesrocha@gmail.com
Colunista do UOL Esporte
20/05/2022 07h05
Hulk desequilibrando para o Atlético no Mineirão já é roteiro conhecido. Com dois belos gols, um em cada tempo, descomplicou tudo nos 3 a 1 sobre o Independiente Del Valle.
O melhor atacante em atividade no futebol brasileiro chegou a dez gols na Libertadores pelo clube e ficou a um de Jô, ainda o maior artilheiro do Galo na competição. Questão de tempo para fazer história. Já o time bateu o recorde de invencibilidade no torneio: 18 partidas, incluindo a campanha sem derrotas até a semifinal no ano passado.
Mas a equipe agora comandada por Antonio "Turco" Mohamed ainda não demonstra a segurança dos tempos de Cuca, mesmo com a manutenção do elenco - inclusive o zagueiro Junior Alonso, que bateu e voltou da Rússia por conta da guerra - e o reforço de Ademir, opção de velocidade e drible pela direita.
Apesar de ter sido o comandante do "Galo Doido" campeão da Libertadores 2013, Cuca montou uma equipe mais segura e dominante no ano passado. Controlando os jogos pela posse de bola ou ocupando bem os espaços e definindo em rápidas transições ofensivas.
O time de Mohamed oscila mais durante os jogos e frequentemente parte para a "trocação", baixando intensidade e deixando espaços, mas também aproveitando a empolgação do adversário e, quando Hulk está inspirado, derrubando com golpes letais.
A opção por Eduardo Sasha fazendo dupla de ataque com o craque do time dá liberdade a Hulk, mas encaixota o resto do time em um 4-4-2 com Nacho Fernández muito aberto pela esquerda. Ganha com Allan participando mais das ações de ataque, e o volante acertou dois passes primorosos para os gols de Hulk, porém deixa brechas entre o meio e a defesa que eram mais raros em 2021.
Mohamed tenta compensar prendendo mais Guga pela direita e liberando Guilherme Arana do lado oposto. Mesmo assim não se livrou do passe de Sornoza para Billy Arce, que chutou na trave. A mais perigosa finalização do time equatoriano no primeiro tempo. Em um total de nove finalizações dos visitantes, duas no alvo.
Incluindo o gol de William Vargas, em novo passe de Sornoza, que sinalizou uma pressão no final, mas o golaço do jovem Savinho resolveu a parada. O Galo finalizou 15 vezes, sete na direção da meta de Wellington Ramírez. Foi superior o tempo todo, inclusive explorando uma velha falha do Del Valle, desde os tempos de Miguel Àngel Ramírez: os generosos espaços à frente da defesa, mesmo com linha de cinco atrás, cedidos pelo veterano Cristian Pellerano, meio-campista de 40 anos.
Mas o Galo pode dominar mais e sofrer menos. Perdeu pontos preciosos que poderiam construir novamente a melhor campanha na fase de grupos. Também tropeçou mais que o esperado dentro de uma tabela bem acessível no início do Brasileiro. Era a chance de disparar já no início, mas perdeu para o América e empatou com Goiás, Coritiba e Bragantino em sete rodadas.
Não dá para viver apenas das individualidades, especialmente Hulk, e correr riscos em jogos que entram no modo "briga de rua", como nos tempos de Levir Culpi. Essa fase já passou e o time atual já mostrou que pode bem mais no trabalho coletivo.
(Estatísticas: SofaScore)
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