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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

CBF adia jogos e torce, literalmente, contra os clubes brasileiros

Gabigol celebra com Éverton Ribeiro gol marcado pelo Flamengo diante do Fluminense - Thiago Ribeiro/AGIF
Gabigol celebra com Éverton Ribeiro gol marcado pelo Flamengo diante do Fluminense Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL Esporte

14/08/2021 07h43

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Logo após Tite anunciar as convocações de Daniel Alves, Guilherme Arana, Weverton, Everton Ribeiro e Gabigol, a CBF comunicou o adiamento dos jogos das quartas e da semifinal da Copa do Brasil e também as partidas da 19ª rodada do Brasileiro envolvendo os times que vão ceder atletas à entidade: São Paulo, Atlético Mineiro, Palmeiras e Flamengo.

Diminuiu a covardia com os clubes, mas, na prática, é apenas um paliativo. Até porque há distorções nesse manejo durante as datas Fifa. A CBF encaixa jogos no dia seguinte à segunda partida da seleção, o que praticamente inviabiliza a presença do convocado, a menos que ele se submeta a uma maratona de viagem logo após o jogo direto para a concentração e atue menos de 24h depois.

Tudo isso, sabemos, para manter o calendário inchado por jogos inúteis de estaduais - a grande maioria, com a "ilusão" de sempre na reta final, com clássicos que alimentam rivalidades locais e criam uma narrativa falsa de algo "cultural" e que simplesmente "não pode mudar".

A grande questão é que jogos adiados sem datas disponíveis só têm uma solução prática: os times envolvidos em três competições precisam ser eliminados em pelo menos uma delas para abrir brechas. Ou seja, para cumprir com sua obrigação a CBF precisa literalmente torcer contra os clubes brasileiros.

Tomemos o exemplo mais complexo: o Flamengo já tem dois jogos adiados, contra Grêmio e Athletico fora de casa, justamente por conta de jogadores convocados em data Fifa - Everton Ribeiro e Gabigol, que nem são titulares da equipe de Tite... Agora também a partida contra o Atlético-GO, pela 19ª rodada. Se avançar na Libertadores e na Copa do Brasil, joga quando?

Se enfiar um terceiro jogo na semana rubro-negra, como fica a tal "isonomia" e o "equilíbrio técnico" citado na nota da entidade? O fato é que a CBF praticamente inviabiliza qualquer agremiação de buscar a "tríplice coroa" real, vencendo Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil.

O Palmeiras foi obrigado a descartar a busca do título brasileiro do ano passado na semana de janeiro em que perdeu para o Flamengo em Brasília no dia 21 e precisou realizar duas partidas, contra Ceará (24) e Vasco (26), antes da final da Libertadores no dia 30. No total, perdeu oito pontos de nove disputados. Mas venceu o torneio sul-americano.

Para se enfiar em outra maratona em fevereiro, por conta da disputa do Mundial de Clubes. Teve que enfrentar, posteriormente, o Coritiba no dia 17 e São Paulo dois dias depois. Perdeu mais cinco pontos. Na sequência, empate com o Atlético-GO e derrota para o Galo, na última rodada, dia 25. Terminou na sétima colocação e, três dias depois, começou a decidir a Copa do Brasil com o Grêmio em Porto Alegre.

Agora, a final do mata-mata nacional foi transferida para depois do Brasileiro. Dias 8 e 12 de dezembro. Em tese, dentro do período de férias dos atletas. Se algum time repetir o Palmeiras, vencendo Libertadores e chegando à final da Copa do Brasil, pode gerar um conflito com o Mundial de Clubes - ainda sem data definida, mas que deve ocorrer entre 9 e 19 do último mês de 2021.

Um absurdo, mas a CBF já tem uma solução: "secar" muito os principais times do país. Aqueles que quase sempre são punidos pela própria competência.