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André Rocha

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bruno Henrique e jogo aéreo desmontam encaixe do São Paulo contra Flamengo

Colunista do UOL Esporte

25/07/2021 18h29

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Os 5 a 1 no Maracanã que encerraram a sequência sem vitórias do Flamengo sobre o São Paulo que vinha desde 2017 (nove jogos), inclusive passando pela Era Jorge Jesus, representam um placar contundente, histórico.

Mas foi uma virada construída com sofrimento, especialmente no primeiro tempo, boa dose de sorte e o talento de uma das estrelas rubro-negras.

Porque o São Paulo dominou um bom pedaço do jogo marcando por encaixe, inclusive com perseguições longas - em determinado momento, Bruno Alves, o terceiro zagueiro pela esquerda, foi atrás de Everton Ribeiro lá no outro lado do campo, o direito da defesa tricolor.

Muita intensidade e concentração na execução da proposta de Hernán Crespo. Bola roubada, velocidade na transição ofensiva, com Marquinhos e Vitor Bueno, mais Gabriel Sara chegando, atacando os espaços às costas de Arão e dos laterais Matheuzinho e Filipe Luis, que saíam para bater com os alas Igor Vinícius e Welington.

Com 15 minutos, o São Paulo finalizou sete vezes contra uma. Inclusive as duas chances desperdiçadas por Bueno. A primeira parando em boa defesa de Diego Alves. Aos poucos o Flamengo, que é um time entrosado e com jogadores talentosos e experientes, foi fazendo a leitura dos problemas impostos pelo rival. A solução era a óbvia contra marcações individuais: movimentação.

Gabigol recuava e MIranda, o seu marcador, mantinha o posicionamento no centro do trio de zaga. Gerou espaços e passou a criar oportunidades. As finalizações, porém, eram fracas e fáceis para Tiago Volpi, outro que costuma crescer contra o Flamengo. Seis em 45 minutos, quatro no alvo. A mais cristalina foi para fora, na cabeçada de Rodrigo Caio. Mas o controle era tricolor, com marcação pesada.

Na volta do segundo tempo, o golpe que em outros tempos seria letal para o Fla: falha na marcação individual em bolas paradas, Arboleda se desmarcou e aproveitou cobrança de escanteio, chegando antes de Gustavo Henrique. Gol que foi ensaiado no primeiro tempo. Aliás, os dois times eram muito perigosos no jogo aéreo.

O Flamengo até sentiu emocionalmente. Parecia mais uma partida de imposição são-paulina diante do bicampeão brasileiro. Era um jogo encaixado até então. Crespo tentou aproveitar para resolver o jogo com Rigoni e Igor Gomes nas vagas de Vitor Bueno e Nestor. Renato apelou para a substituição que mudou o jogo contra o Defensa y Justicia: Michael na vaga de Everton Ribeiro.

A rigor, não funcionou. Michael ficou isolado pela direita, dominado por Bruno Alves. O Fla perdeu articulação e circulação da bola. O São Paulo seguia pressionando, roubando e acelerando.

Até Bruno Henrique, encaixotado por Arboleda até então, despertar forte. Primeiro marcando gol dominando com braço, lance corretamente anulado. Depois aproveitando cobrança rápida de escanteio pela direita que encontrou Arão e o camisa 27 livres na área.

O vacilo defensivo e o empate desarticularam o São Paulo, que tentou reagir com Benítez na vaga de Sara. Mas mentalmente afundou de vez com o golaço de Bruno Henrique, o da virada. Chute espetacular no ângulo, depois de sair da marcação de Igor Vinicius da esquerda para dentro.

O jogo aéreo encaminhou a goleada, com mais um de Bruno Henrique (três em sete minutos) e Gustavo Henrique empurrando para as redes a assistência de Rodrigo Caio. Depois da confusão entre o auxiliar do São Paulo e o médico do Flamengo que parou o jogo, Renato trocou Diego, Arrascaeta e Gabigol por Thiago Maia, Vitinho e Pedro. Com a ordem clara de não tirar o pé.

Deu tempo de fechar a tampa com o gol contra do Welington, em disputa com MIchael. O Flamengo finalizou seis vezes no segundo tempo, quatro no alvo e nas redes.

Placar inusitado, até surreal, para o que foi o jogo. A virtude do Flamengo foi não desistir, o que aconteceu em outros confrontos sob o comando de Domènec Torrent e Rogério Ceni. Aí está o maior mérito de Renato Gaúcho até aqui. O pecado mortal do São Paulo foi desligar depois do empate. Mais uma prova de que pontos corridos não é muito a praia do campeão paulista.

Desfecho inesperado para um dos melhores jogos do Brasileiro. Mesmo atrapalhado pelo gramado sem solução do Maracanã e uma arbitragem, digamos, "egocêntrica", o nível foi bem alto.

(Estatísticas: SofaScore)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL