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André Rocha

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Galo de Cuca pode desafiar Flamengo e Palmeiras?

Cuca em 2013, pelo Atlético-MG - AP
Cuca em 2013, pelo Atlético-MG Imagem: AP

Colunista do UOL Esporte

08/03/2021 08h03

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Cuca foi anunciado novo treinador do Atlético Mineiro, sucedendo Jorge Sampaoli que foi para o Olympique de Marselha. Depois da negativa de Renato Gaúcho, a diretoria foi atrás do vice-campeão sul-americano com ótimo trabalho.

Contratação cercada de polêmica e protestos. Enfim o técnico foi questionado pelo escândalo sexual na Suíça em 1987, quando jogava no Grêmio. Um avanço em nossa sociedade, sem dúvidas. Mas bastou Cuca explicar-se minimamente para o assunto ser tratado como "superado". O Brasil é complexo mesmo.

O fato é que o técnico campeão da Libertadores em 2013 está de volta a Belo Horizonte. O pai do "Galo Doido" que virou uma espécie de referência para a torcida durante muito tempo. Mas o Cuca que chega é mais maduro, apesar das bobagens na decisão da Libertadores no Maracanã - além da tola expulsão que desconcentrou o Santos no final do jogo, a opção inicial por um time mais pragmático e defensivo, descaracterizando a proposta de jogo que encantou contra Grêmio e Boca Juniors.

O repertório mais amplo pode ser muito útil na Cidade do Galo. Cuca recebe um elenco vasto e homogêneo, agora com a esperança de ter em Hulk e Nacho Fernández a capacidade de desequilibrar que faltou com Sampaoli em vários momentos.

Assim como aconteceu no Santos, porém com mais talento em Marinho e Soteldo na comparação com Savarino e Keno, Cuca deve manter a herança do jogo focado nos pontas bem abertos. Ou optar pela força de Hulk partindo da direita para dentro trabalhando com o pé esquerdo. Como Marinho, no alvinegro praiano. Foi assim na estreia do novo camisa sete, nos 4 a 0 sobre o Uberlândia no Mineirão pelo estadual.

A tendência é que Nacho, contratado ao River Plate, seja utilizado como meia central num 4-2-3-1. Mais talento na função que foi de Hyoran e Nathan em 2020. Matias Zaracho é outro meia de qualidade buscando afirmação no futebol brasileiro. Diego Tardelli, campeão com Cuca em 2013, está de volta à equipe aos 35 anos. É mais uma opção no ataque que não tem o centroavante inquestionável, apesar da crença em Vargas, agora mais adaptado ao clube.

Assim como no Santos, Cuca deve dar oportunidades aos mais jovens. Até para seguir a tendência do Palmeiras, que viveu a temporada mais vencedora justamente quando trocou o elenco repleto de medalhões pela geração vencedora nas divisões de base. Calebe, Echaporã e Júlio César têm potencial para colaborar e oxigenar o time dentro do calendário ainda mais insano em 2021.

A defesa deve ser mais rápida, com Gabriel e Junior Alonso na zaga. Réver é outro campeão de 2013 que pode colaborar com a experiência. Cuca manteve no Santos a ideia de laterais atacando por dentro para os pontas abrirem o campo. Guga e Guilherme Arana têm as características para darem essa opção também ao novo treinador. Trabalhando com Allan e/ou Jair (ou Alan Franco) na construção do jogo de trás.

É elenco equilibrado como o do Palmeiras, porém sem o talento do Flamengo. A dúvida é se terá capacidade competitiva em todas as frentes, especialmente na Libertadores e também no Brasileiro, para dar fim ao jejum de 50 anos. Cuca foi bem-sucedido em 2013, mas tinha Ronaldinho. E os principais concorrentes não eram dominantes como agora. Há oito anos, o grande time brasileiro era o Corinthians de Tite, que viveu a "ressaca" das conquistas e deu um tiro no pé ao apostar em Alexandre Pato como a estrela que faria a equipe se reinventar.

Cuca se consagrou ao ganhar a América, mas saiu pelos fundos, seduzido pela oferta do Shandong Luneng e derrotado na semifinal do Mundial de Clubes pelo Raja Casablanca. Volta agora para transformar os altíssimos investimentos do clube em grandes conquistas. Um desafio do tamanho de sua história no Atlético Mineiro. Sobre isso não há controvérsia.