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André Rocha

Internacional desaba no campo, nas escolhas e explicações

Lucca Claro comemora gol pelo Fluminense contra o Inter, em jogo do Brasileirão - Fernando Alves/AGIF
Lucca Claro comemora gol pelo Fluminense contra o Inter, em jogo do Brasileirão Imagem: Fernando Alves/AGIF

Colunista do UOL Esporte

23/11/2020 08h47

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O Internacional escolheu se desgastar com Eduardo Coudet. Via de regra, no Brasil o dirigente gosta do treinador que o protege, não o que cobra, mesmo que seja o melhor para o time. Era possível contornar os pedidos de contratações com diálogo e ao menos tentativas no mercado.

O Atlético Mineiro, por exemplo, não atende às constantes e histriônicas exigências de Jorge Sampaoli, mas vai levando o argentino com um mimo aqui, outro ali. Coudet não queria muito, apenas um elenco encorpado, justamente para atender as muitas demandas de dirigentes e torcedores: ser competitivo em três frentes e não perder mais o Gre-Nal.

Coudet não teve reforços, muito menos respaldo. Preferiu se arriscar na Europa, comandando um Celta de Vigo lutando contra o rebaixamento, com elenco longe de ser estelar e salário que não é exatamente "padrão euro". Talvez não dure muito por lá, mas o argentino claramente perdeu a paciência com a insanidade da primeira experiência no futebol brasileiro. Difícil imaginá-lo por aqui de novo.

Na busca pelo tão desejado escudo, a direção escolheu Abel Braga. Campeão da Libertadores e Mundial em 2006, ídolo eterno, carinhoso com o Colorado até quando comanda outros times. A receita era manter o que havia de bom no trabalho do antecessor e apaziguar os ânimos, necessidade em um ano eleitoral.

Mas o futebol é cada vez mais complexo e as soluções simplistas de outrora dificilmente funcionam agora. No caso do Internacional, nem a motivação do "fato novo", a chacoalhada no vestiário com outro comando fizeram efeito. Até porque o choque para os jogadores na diferença abissal entre as metodologias de treinamento deve ter sido grande.

Para piorar, o "paizão" que costuma cercar seu grupo de elogios já chegou reclamando: "falta drible". Como se jogadas individuais pudessem compensar os muitos problemas coletivos gerados pela ruptura no modelo de jogo. Antes podia funcionar, agora fica bem mais difícil. O Flamengo está aí para provar.

O resultado em campo é uma equipe espaçada, sem intensidade e que compete muito menos. Os gols de Thiago Galhardo, por consequência, também ficaram mais raros. Como única referência, sem um companheiro para fazer dupla e dividir a marcação, o atacante rende menos. Sem o volume de antes, com a bola na frente mais frequente e "limpa", as dificuldades aumentam.

Ninguém pode acusar Abel de não tentar, mas o desmonte do 4-1-3-2 de Coudet foi rápido demais. Agora um 4-2-3-1 que primeiro teve D'Alessandro como meia central e, na derrota por 2 a 1 em casa para o Fluminense que encerrou a invencibilidade da equipe no Beira-Rio, a tentativa com Maurício, ex-Cruzeiro, pela direita, Nonato por dentro e o jovem Caio Vidal, de 20 anos, pela esquerda. Este último na tentativa de ter a vitória pessoal pelo flanco.

Os mecanismos, porém, foram deixados para trás. O Internacional joga uma ou duas rotações abaixo e não se impõe. Sem intensidade na transição defensiva desde os atacantes, a retaguarda fica exposta e sofre. O saldo é de eliminação na Copa do Brasil para o América de Lisca e derrotas para Santos e Fluminense em quatro jogos.

Pior que os reveses e o desempenho em campo são as explicações. Abel já disse que não conhecia alguns jogadores, como João Peglow, e que não sabia que o América cobrava escanteio curto. Em 2020, com scout e obsessão dos treinadores por todos os detalhes é inadmissível. Assim como Leomir, o eterno auxiliar que ficou à beira do campo para substituir o treinador com Covid-19, dizendo que se soubesse onde está o problema já teria resolvido. Está bem claro que ele e o chefe estão perdidos.

Mais desorientado está o diretor executivo Rodrigo Caetano. Logo após a última derrota, declarou que o elenco foi montado para o modelo de Coudet e que, com a saída dele, a missão fica mais complicada. Ora, por que, então, não buscou um treinador com estilo ao menos semelhante? Culpar o argentino pela escolha populista e desastrada do sucessor chega a ser piada.

O Internacional desaba na temporada e não pode culpar ninguém além das próprias escolhas. Com a tabela achatada do Brasileiro ainda é possível reagir. Menos provável é sobreviver ao Boca Juniors nos próximos dez dias pela Libertadores.

Já se fala em nova troca de treinador, talvez outro "tampão", como foi Zé Ricardo no final de 2019. Mas ali havia algum sentido, para esperar por Coudet. Agora a esperança é um milagre para salvar um 2020 que parecia promissor.