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André Rocha

Versão "toque de bola" do Fla lembra time de 1981, menos na displicência

Calegari, jogador do Fluminense, disputa lance com Arrascaeta, jogador do Flamengo, durante partida válida pelo Campeonato Brasileiro - Thiago Ribeiro/AGIF
Calegari, jogador do Fluminense, disputa lance com Arrascaeta, jogador do Flamengo, durante partida válida pelo Campeonato Brasileiro Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL Esporte

10/09/2020 01h42

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O Flamengo de Domènec Torrent é mutante. Foi reativo na Vila Belmiro, agressivo em Salvador e no Maracanã contra o Fortaleza. Mas no Fla-Flu a ideia do treinador catalão foi tratar bem a bola, de pé em pé.

E o time que venceu o clássico apresentou sua versão "toque de bola". Com Thiago Maia e Gerson mais recuados, Everton Ribeiro, Diego Ribas e De Arrascaeta na linha de meias no 4-2-3-1 com Gabigol na frente para atacar profundidade.

Mas não só ele, também Maurício Isla pela direita buscando o fundo. Ou cruzando para Arrascaeta cabecear e, no rebote de Muriel, Filipe Luís abrir o placar contra um Fluminense tonto e correndo atrás do adversário.

Lembrando no estilo, sem comparações entre jogadores e épocas diferentes, o time rubro-negro de 1981. O lendário esquadrão de Leandro, Júnior, Andrade, Adilio, Zico, Tita, Lico e Nunes. Também cinco meio-campistas de qualidade, mais dois laterais ofensivos e um centroavante buscando os flancos para infiltrar em diagonal. Mas foi no rebote da bola parada que Gabigol marcou seu quinto gol no Brasileiro e 16º na temporada.

Em um primeiro tempo de controle absoluto pela posse de bola, mas também aproveitando um Fluminense confuso sem Evanilson, negociado ao Porto. Recuando Fernando Pacheco e Wellington Silva pelas pontas e isolando Nenê como "falso nove" num 4-1-4-1. Nem sinal do time rápido nas transições ofensivas das finais do Carioca. Com muitas inversões e atacando a última linha defensiva da equipe comandada por Jorge Jesus.

O time de Odair Hellmann foi caindo no ânimo e na intensidade, se sentindo impotente para competir. Aí entrou em campo um defeito rubro-negro que não se via no auge do time de Zico há quase quatro décadas: a displicência. Começou ainda no primeiro tempo com Everton Ribeiro tentando uma firula a mais à frente de Muriel ao receber de Thiago Maia, o melhor em campo, assim como na vitória sobre o Santos.

Segundo tempo de linhas mais recuadas e contragolpes desperdiçados. Menos posse, terminando com 53%, e finalizações - 13 a 18, porém seis no alvo contra apenas três. O Fluminense tentou atacar com Fred na referência, mais Marcos Paulo, Luiz Henrique, Yago Felipe e Caio Paulista. Quem mais tentou, porém, foi Michel Araújo, mesmo sem acertar a direção da meta de Gabriel Batista.

Nos acréscimos, Digão diminuiu o placar que não refletiu a diferença entre os rivais em campo, no duelo mais desigual dos seis na temporada. Poderia ter fugido do padrão de vantagem mínima, mas puniu o relaxamento de um time que vai se acertando mesmo com instabilidades e nenhuma certeza, principalmente nas escalações.

O rodízio deve seguir contra o Ceará em Fortaleza. Talvez com César e Bruno Henrique de volta e outros jogadores descansando. Pela lógica de Domènec, serão novamente quatro dias entre as partidas, então pode preservar 80% da formação anterior. A demanda, porém, pode criar novas necessidades e uma escalação diferente. Como será? Este que escreve não sabe, nem Guto Ferreira imagina. Este tem sido um trunfo na nova fase do campeão brasileiro e sul-americano.

No Fla-Flu adicionou um quê de nostalgia. Mas em 1981 a chance do clássico terminar com goleada seria enorme. Agora sobrou um toque a mais que nem o (ainda) péssimo gramado do Maracanã justifica.

(Estatísticas: SofaScore)