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André Rocha

Palmeiras e São Paulo têm problemas parecidos, mas "plano B" verde funciona

Vanderlei Luxemburgo comanda Palmeiras contra Santo André - Cesar Greco/Palmeiras
Vanderlei Luxemburgo comanda Palmeiras contra Santo André Imagem: Cesar Greco/Palmeiras

Colunista do UOL Esporte

30/07/2020 09h21

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Palmeiras e São Paulo terminaram seus jogos pelas quartas-de-final do Paulista com 73% de posse de bola. Um número que sempre sugere domínio das ações, mas não diz muito se não vier associado ao volume de jogo.

Chave do sucesso das principais equipes do planeta, como Liverpool e Bayern de Munique, e também, no Brasil, do Flamengo de Jorge Jesus. Movimenta, circula a bola com rapidez, ataca, tenta definir. Se perde, pressiona com intensidade, retoma e inicia um processo que cada vez apela menos para uma longa sequência de passes sem objetividade, com o intuito de controlar o jogo pela posse. Ou se defender com a bola.

Palmeiras e São Paulo ficam com a bola, mas sem saber muito bem o que fazer com ela na hora de definir. E quando perdem, a mudança de chave, a reação para tentar retomá-la não é tão rápida quanto deveria para times que estão instalados no campo adversário. Problemas recorrentes, erros que se repetem.

E aí independe de nomes, especialmente no meio-campo. Setor no imaginário popular responsável pela criação das jogadas. O São Paulo tinha Tche Tche, Daniel Alves, Igor Gomes e ainda a circulação de Vitor Bueno. Hernanes ainda entraria no segundo tempo. Já o Palmeiras contava com Patrick de Paula, Ramires e Gabriel Menino. Depois Bruno Henrique, Zé Rafael, Lucas Lima e Gustavo Scarpa.

Vários dos citados têm as características do "camisa dez", mas agora só isso não basta. Basta olhar novamente para equipes bem-sucedidas. Quem é o "dez" do Liverpool? Roberto Firmino? E o do Bayern? Thomas Muller? No Flamengo pode ser Everton Ribeiro ou De Arrascaeta. Ou mesmo Gabigol, que tem recuado e servido aos companheiros com belas assistências.

Sem espaços, a coordenação é fundamental. Entre quem tem a bola e o que se mexe para dar opção e criar uma linha de passe. Ou iludir um adversário para que este deixe uma brecha para a infiltração de um companheiro. Tudo isso requer conteúdo, leitura de jogo atual.

À distância, Fernando Diniz parece errar no método. Porque suas equipes de Série A - Athletico, Fluminense e agora São Paulo - apresentam problemas semelhantes: circulam a bola com lentidão, muitas vezes preocupadas demais com o acerto do passe e são morosas e desorganizadas na transição defensiva. Ele investe na melhora do jogador, e por isso é tão elogiado, até pelo multicampeão e experiente Daniel Alves, mas o trabalho coletivo não reflete essa possível evolução de cada atleta.

Já Vanderlei Luxemburgo até sabe o que quer, mas mesmo com um auxiliar antenado como Mauricio Copertino, parece ainda agarrado a ideias de seu passado glorioso. Como deixar as decisões no terço final do campo por conta do jogador sem definir diretrizes básicas para furar retrancas. No Palmeiras, que teve Cuca e Felipão em conquistas recentes, isso significa liberar os lançamentos, ligações diretas. É intuitivo para o jogador. Assim como ainda é natural que essa bola longa procure na ponta um Dudu que não está mais lá.

Quando tudo parece desencaixado, costuma entrar em funcionamento nos clubes grandes um "plano B". Ou "modo sufoco". É avançar, cruzar bolas na área e tentar se impor no físico e na camisa, já que o momento não permite a pressão da torcida. Entregar a própria sorte à aleatoriedade.

É nesta hora que o Palmeiras se sai melhor. Pelo costume desde 2016 e, justamente por causa do sucesso em tantos jogos arrancando vitórias a forceps, intimida o adversário de menor investimento. O Santo André foi recuando e a insistência acabou premiada com o gol de Felipe Melo completando escanteio cobrado por Lucas Lima, com o toque ainda desviando na defesa do oponente. O de Marcos Rocha no último ataque foi o nocaute no time do ABC paulista já entregue. Porque sabia que não tinha mais chances.

Eis a diferença para o São Paulo. O Mirassol estava mais desfigurado que o Santo André, perdeu 18 jogadores na volta do Paulista. E teve em Zé Roberto um heroi improvável: chegou para treinar, foi inscrito na terça e no dia seguinte fez dois gols no Morumbi. Nas quatro finalizações do time que venceu por 3 a 2. Todas no alvo. Porque hoje parece mais possível superar o outrora "Soberano". Último título em 2012, tantas eliminações desde então, inclusive para equipes menores. Como não acreditar?

O Santo André finalizou bem mais: 14 vezes, contra 13 do Palmeiras. As mesmas quatro no alvo. Do outro lado, porém, está uma base que venceu um Brasileiro há quase dois anos. Mesmo sem o grande destaque com a camisa sete, isso pesa no aspecto mental. O Palmeiras tem o direito de errar e ainda vencer.

O São Paulo, não. Por isso a obrigação de colocar mais intensidade, entrar mais concentrado. Em qualquer jogo, ainda mais sendo decisivo. Mesmo no estadual que perdeu relevância, mas, hoje, é a chance palpável de encerrar a fase sem conquistas. E o time de Fernando Diniz, sem método, parece também sem "fome".

Paga com um vexame histórico que precisa tremer o chão no Morumbi. Não muro pichado ou jogador apanhando. Internamente, a cobrança por desempenho e resultados precisa ser dura. Até porque o clube já está ficando morno, se acostumando com o papel de coadjuvante. Não adianta, somos latinos. Às vezes a paixão precisa despertar a ira, que é diferente do ódio. É urgente resgatar, nem que seja no grito, o orgulho perdido de representar as três cores de um dos clubes mais vencedores do país.

O Palmeiras ainda carrega essa chama. Por isso o "plano B" funcionou no Allianz Parque. E pode terminar até em título paulista, com mais vitórias no abafa. Mas é pobre demais e dá a impressão de mais tempo perdido com um elenco que, mesmo sem Dudu, pode entregar um futebol melhor.