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Endrick Kong: agora os racistas definem como negros podem celebrar?

Ontem, Endrick imitou o King Kong na comemoração do seu gol de cabeça pelo Palmeiras, na vitória por 5 a 0 sobre o Liverpool. Mais um gol do garoto de 17 anos. Mais uma meta batida no contrato com o Real Madrid: a cada cinco tentos, 2,5 milhões de euros (quase 14 mi de reais) na conta. A Cria da Academia já alcançou 11,25 milhões dos 12,5 milhões possíveis no acerto com o clube europeu.

Mas parece que o problema é ele celebrar como o gorila mais famoso de Hollywood. Porque é provocação. Porque podem usar contra ele. Porque em breve ele vai atuar ao lado de Vini Jr. e ser vidraça de racista na Espanha. Porque é melhor evitar, né? Para que isso?

Era só o que faltava. É o poste mijando no cachorro.

Quem inventou de comparar pessoas negras com primatas foram os brancos. Quem é capaz de fazer a conexão entre um garoto batendo no peito e algo nocivo são os racistas. E agora vamos usar racistas para balizar o que pode ou não virar comemoração? Vai ter sommelier de celebração?

Para isso, existem as regras. Não podem objetos (Luiz Henrique escapou na sorte com sua linda máscara do Pantera Negra), não podem mensagens políticas, não pode tirar a camisa, não pode subir na arquibancada, essas coisas estão no regulamento. Bobeou, toma cartão. Endrick não só não fez nada disso, como fez de tudo para escapar da confusão que se seguiu ao seu gol. Mesmo empurrado, possivelmente xingado, cobrado, ele saiu de perto. Até pediu desculpas.

Acabou tomando amarelo. Supostamente por provocar a escassa torcida local ou os atletas adversários, ao imitar um personagem do filme que ele adorou, só porque calhou de ser um gorila. É de cair o queixo do maxilar — para não dizer o outra coisa.

E se ele tivesse apontado para cima, replicando o famoso "para o alto e avante" do branquinho e inofensivo Super-Homem? Aí tudo bem?

Santa Paciência, Batman.

Vão se ocupar de identificar os racistas que não se cansam de desafiar a Conmebol. Vão se letrar na luta antirracista. Vão lá assistir a "Godzilla e King Kong", ou qualquer outra coisa que não seja tão cretina quanto implicar pessoas negras no problema do qual elas são vítimas, e não causa.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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