Cuca como aliado: acreditarei vendo
Não aguento mais falar de Cuca. De Daniel Alves. De Robinho.
Não sei se todos os homens se dão conta de que tocar nesses assuntos é futucar diariamente a ferida do estupro. Que é muito profunda.
Mas Cuca se pronunciou ontem e precisamos reconhecer o avanço. Ele disse que redigiu o texto com a ajuda da mulher e das filhas, e que o leria para não errar sobre um tema tão sério.
Desde o começo, não buscávamos jogá-lo na cadeia. Essa opção nunca esteve na mesa — ao contrário dos casos de Robinho e Alves. Queríamos declarações, compromissos, reconhecimentos, atitudes concretas. Não queríamos o silêncio que diz: vocês não importam, fiquem quietas e nos deixem dominar em paz.
Cuca afirmou que sua luta pelos direitos das mulheres se dará por meio de ações, com educação e influência sobre os jovens que, segundo ele, são levados a acreditar que podem tudo. Inclusive desrespeitar mulheres. Cuca disse que homens como ele têm de rever seu passado, aprender e mudar. Não chegou a admitir seu crime, mas já entendeu que é parte do problema e deve ser também da solução.
Acreditarei vendo.
O que ainda vejo é uma Arena da Baixada recebendo-o de braços abertos antes da declaração. O que vejo são torcedoras do próprio Athletico-PR ameaçadas de estupro por se mostrarem contrárias à sua contratação. O que vejo são homens debatendo o tema nos programas esportivos. O que vejo me traz pouca esperança.
Aprendi com a minha amiga, colega e musa inspiradora Milly Lacombe que precisamos ter esperança. Esperança na ruptura de um discurso que resulta, literalmente, na nossa morte. Esperança de que passos na direção certa possam significar uma mudança real de caminho. Um caminho longo e tortuoso, com uma luzinha acesa lá longe.
Minha esperança ainda não flameja. Mas ela existe. Até porque muitos homens que não ouvem quando a gente grita talvez deem bola quando Cuca falar baixinho.
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