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Alicia Klein

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por que é tão importante inflar o Flamengo, mesmo quando não joga bem

Filipe Luis, do Flamengo, posa com a taça da Copa do Brasil; ao lado, um homem de "O Máscara" - Gilvan de Souza / Flamengo
Filipe Luis, do Flamengo, posa com a taça da Copa do Brasil; ao lado, um homem de 'O Máscara' Imagem: Gilvan de Souza / Flamengo

20/10/2022 15h07

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Por pouco o Flamengo não perdeu a Copa do Brasil dentro do Maracanã, ontem, para o Corinthians.

O Rubro-negro criou chances claras com a mesma velocidade em que as desperdiçou, enquanto abria uma avenida para o Timão devolver na mesma moeda.

O que se viu foi um jogo divertido, especialmente para quem não tinha nada com isso. Ao final, um Corinthians com a sensação de que podia ter perdido, mas não como foi. De que dava para ter ganho do bicho-papão da Gávea, o elenco que poucos pensavam que Vítor Pereira poderia superar.

Já a torcida flamenguista talvez tenha ido para casa um pouco mais preocupada com o dia 29. O talento de alguns jogadores mascara deficiências técnicas mais sérias de outros e, acima de tudo, uma deficiência tática defensiva que não se resolve desde 2019.

Fiquei imaginando Felipão assistindo à partida de ontem e indo dormir um pouco menos tenso. Claro, final de Libertadores em jogo único pode dar qualquer coisa. Inclusive, uma goleada do Flamengo, afinal chances sempre aparecem. Mas uma defesa frágil contra um adversário de contra-ataque perigosíssimo? apenas digo que é motivo para tirar o sono.

O que sempre me chama a atenção é o quanto, ao vencer, mesmo sem convencer, o Flamengo é rapidamente alçado a um patamar quase só seu. Fui dormir à 1h da manhã e a Globo (Rio e Brasília) ainda transmitia ao vivo a festa rubro-negra, na TV aberta. Mostrava torcedores por todos os bairros do Rio, celebrando. A adensada festa no gramado. Tudo. Cada detalhe.

Logo havia rankings publicados mostrando como o Flamengo igualara o Palmeiras em títulos nacionais. Rankings que, incompreensivelmente, incluem o jogo comemorativo que é a Supercopa, equiparando-o ao Brasileirão e à Copa do Brasil.

Textos e tuítes exaltando o feito, ainda que meio mal feito.

Enfim, é inegável o destaque maior dado ao Rubro-negro. A boa vontade maior. O tempo maior. A cobertura infinita.

É, também, compreensível. Por mais que irrite os rivais e, muitas vezes, passe longe da isonomia e isenção que (ilusoriamente) se espera da imprensa, é perfeitamente compreensível.

Imagine que você tivesse uma loja, com consumidores de dezenas de perfis diferentes, espalhados por todo o Brasil. Imagine que um desses grupos representasse mais de 20% do total. Um quinto de toda a sua clientela. Você os trataria da mesma forma que os demais, mesmo sabendo que certo favorecimento aborreceria quem também compra de você? Muito provavelmente.

Além da simples lógica capitalista, há também a estatística. Se há mais flamenguistas no país, há mais jornalistas, editores, produtores, chefes flamenguistas. E, minhas amigas e meus amigos, se já é loucura esperar imparcialidade de qualquer ser humano/jornalista, fazê-lo no futebol é, no mínimo, ingenuidade.

Agora é esperar dia 29. E dia 30.