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Após mudar regras, federação mundial de atletismo é acusada de racismo

A bicampeã olímpica Caster Semenya, afetada pelas novas regras da IAAF - Ivan Alvarado/Reuters
A bicampeã olímpica Caster Semenya, afetada pelas novas regras da IAAF Imagem: Ivan Alvarado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

28/04/2018 12h02

A Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, sigla em inglês) foi acusada de cometer “racismo flagrante” por mudar regras sobre os níveis de testosterona para competições femininas. As novas regulamentações valem para as provas que percorrem distâncias entre 400 metros e um quilômetro.

A acusação partiu do partido que está no governo federal da África do Sul, o Congresso Nacional Africano. As novas regras afetarão a campeã mundial e medalhista olímpica do país Caster Semenya.

A atleta, ouro nos Jogos do Rio-2016, terá que ingerir remédios para que o nível do hormônio no seu sangue atinja os patamares agora determinados pela IAAF.

O ministro sul-africano do Esporte e porta-voz do partido, Tokozile Xasa, afirmou, após a publicação das normas na quinta-feira (26), que a exigência foi feita para prejudicar a carreira de Semenya. Ele comparou as regras com a política de segregação racial durante o regime do apartheid.

“Essas regulamentações são uma lembrança dolorosa de um passado em que um governo ilegítimo promulgava leis específicas contra aqueles que lutavam contra um sistema injusto”, disse. “A IAAF usa a mesma tática para excluir aqueles que foram campeões e se tornaram ídolos nos seus países.”

O ministro ainda declarou que o governo da África do Sul questionará a decisão da entidade mundial do atletismo na corte internacional do esporte.

Críticas de cientistas

A acusação por parte dos políticos sul-africanos acontece, em paralelo, a uma série de questionamentos, no meio científico, aos estudos que a IAAF usou para determinar as novas regras. A entidade se fundamentou nas pesquisas dos médicos Stéphane Bermon e Pierre-Yves Garnier, conduzidas durante os Mundiais de 2011 e 2013.

Segundo as observações dos dois especialistas, “em certos eventos, as atletas mulheres com alto nível de testosterona no sangue tiveram uma vantagem de 1,8% a 4,5% sobre as atletas com nível menor do hormônio”.

A metodologia e a validade de todo o estudo utilizado pela federação, no entanto, estão recebendo críticas. Em um artigo, no “British Journal of Sports Medicine”, três acadêmicos, Simon Franklin, Jonathan Ospina Betancurt e Silvia Camporesi escreveram que “ao contrário do que a IAAF alega, a ciência não está ao lado deles”.

“A IAAF escolheu a dedo alguns eventos em que houve uma correlação estatística significativa no estudo original de Bermon e Garnier e aplicou as restrições sobre os atletas apenas com base nestes eventos. Isso constitui uma séria aplicação equivocada de descobertas científicas.” Os três acadêmicos também acreditam que as novas regras “visavam atingir Caster Semenya”.

O presidente da federação de atletismo, Sebastian Coe, declarou ao site da entidade que as mudanças melhoram a competição. “Nós queremos que os atletas tenham incentivo para assumir o compromisso e os sacrifícios necessários para ter excelência no esporte, e para inspirar novas gerações a competir e atingir o mesmo nível de habilidade”, afirmou.