O que explica maritacas 'comerem' prédio no Tatuapé diariamente?

No Tatuapé, na zona leste de São Paulo, moradores começam e terminam o dia com um barulho de vizinhos inusitados —as maritacas, da espécie periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus).

As aves se reúnem no paredão do edifício localizado na Rua Aguapeí e tornam a estrutura antes alaranjada em esverdeada. Os animais bicam os tijolinhos que compõem a fachada e se concentram sempre em grandes grupos.

A reunião das aves verdes e berradoras acontece há alguns anos na região. Mas o que pode explicar esse hábito de bicar tijolo? Acompanhe a seguir algumas possibilidades, que podem explicar o fenômeno.

"Afiar" a moela

O biólogo e professor Kayron Passos explica que a rotina das aves pode estar associada à necessidade de "afiar a moela".

Afiar músculo que faz parte do processo digestivo das maritacas é uma das possíveis explicações
Afiar músculo que faz parte do processo digestivo das maritacas é uma das possíveis explicações Imagem: Alberto Loose/Arquivo pessoal

"Não é apenas a maritaca que faz isso. Existem diversas aves que comem terra e pedrinhas, e elas fazem isso para deixar a moela durinha. Diferente de nós, elas não mastigam os alimentos e esse órgão delas é responsável por moer a comida que ingerem", explica Passos.

A moela faz parte do sistema digestório dos pássaros e, de acordo com o biólogo, o músculo comprime o alimento contra as rochinhas ingeridas para deixá-lo menor, colaborando para que a comida fique menos tempo no estômago das aves.

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É comum encontrar maritacas por todo o bairro, mas não na mesma concentração que no prédio da Rua Aguapeí
É comum encontrar maritacas por todo o bairro, mas não na mesma concentração que no prédio da Rua Aguapeí Imagem: Alberto Loose/Arquivo pessoal

Um hábito social

Outra hipótese é que esse seja um hábito social das aves, que têm seus ninhos próximos ao edifício. A presença delas é comum pelo bairro todo.

O cartunista Alberto Loose, 44, que reside a uma quadra do prédio, diz que é comum encontrar as aves em árvores do local e na janela de seu prédio.

"No meu prédio não tem tijolos como esses. Por aqui, as maritacas de vez em quando se agarram nas telas de proteção das sacadas. Se colocamos frutas, elas vêm. Nos sete anos que moro no bairro, percebo que elas se multiplicam muito", diz Loose.

A analista de RH Janaína Esteves, 34, que também é moradora do bairro, afirma receber a visita das aves em seu apartamento com alguma frequência. "Elas aparecem pela manhã na área da lavanderia", conta.

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O cartunista Alberto Loose coloca suportes com água e fruta para aves de diversas espécies que vivem na região
O cartunista Alberto Loose coloca suportes com água e fruta para aves de diversas espécies que vivem na região Imagem: Alberto Loose/Arquivo pessoal

Para Loose, a presença das aves melhora o seu dia e ele tem sido receptivo, não só com as maritacas, mas também com outros pássaros que habitam a região.

"Coloquei suporte nas janelas do apartamento com água e frutas. Fui criado em Embu das Artes [região metropolitana de São Paulo] e as aves sempre fizeram parte do meu quintal. Quando me mudei para o Tatuapé, já adulto, senti falta desse contato com a natureza. Então coloquei bebedouros e frutas na janela e muitas aparecem", conta o cartunista.

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