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Calor extremo, inundações e incêndios florestais são 'novo normal'?

Queima de árvores de Megara, Grécia, em 19 de julho de 2023. Após três dias, os bombeiros ainda estão combatendo as chamas. - NurPhoto via Getty Images
Queima de árvores de Megara, Grécia, em 19 de julho de 2023. Após três dias, os bombeiros ainda estão combatendo as chamas. Imagem: NurPhoto via Getty Images

De Ecoa, em São Paulo (SP)

20/07/2023 04h00

Uma história de calor extremo, inundações mortais e grandes incêndios. Parece um cenário de um filme apocalíptico, mas é o que está vivendo o Hemisfério Norte neste momento.

Cientistas, contudo, alertam que essa pode ser apenas uma prévia do que ainda pode vir. Estamos na metade de julho e uma série de recordes climáticos já foram quebrados.

Uma onda de calor prolongada e implacável queimou grandes partes do sul e sudoeste dos Estados Unidos. As temperaturas em Phoenix, Arizona, atingiram pelo menos 43,3°C por um recorde de 19 dias consecutivos.

Em El Paso, no Texas, as temperaturas ficaram acima de 38°C por 32 dias consecutivos, o recorde anterior era de 26 dias.

Em todo o país, departamentos de emergência registram inúmeras doenças relacionadas ao calor.

Homem salvando duas tartarugas do incêndio na Grécia, em 19 de julho de 2023. Depois de três dias, os bombeiros ainda estão lutando contra as chamas em Nea Zoi - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Homem salvando duas tartarugas do incêndio na Grécia, em 19 de julho de 2023. Depois de três dias, os bombeiros ainda estão lutando contra as chamas em Nea Zoi
Imagem: NurPhoto via Getty Images

Já na Europa, as ondas de calor são as mais extremas já registradas. Há incêndios florestais na Espanha, Suíça e Grécia. Nos arredores de Atenas, a rápida propagação das chamas forçaram autoridades a fechar rodovias.

E na Ásia, as temperaturas ultrapassaram os surpreendentes 50°C na China. Além disso, partes da Coreia do Sul, Japão e norte da Índia estão sofrendo inundações mortais.

Mas seria esse o 'novo normal'? Segundo o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, sim. Mas alguns cientistas discordam.

Tigre de Bengala branco come um bloco de frutas congeladas para se refrescar durante uma onda de calor contínua com temperaturas chegando a 40°C, no Zoológico de Roma, em 19 de julho de 2023. O governo emitiu alertas vermelhos para 16 cidades devido à atual onda de calor. - Antonio Masiello/Getty Images - Antonio Masiello/Getty Images
Tigre de Bengala branco come um bloco de frutas congeladas para se refrescar durante uma onda de calor contínua com temperaturas chegando a 40°C, no Zoológico de Roma, em 19 de julho de 2023. O governo emitiu alertas vermelhos para 16 cidades devido à atual onda de calor.
Imagem: Antonio Masiello/Getty Images

"Quando ouço isso, fico um pouco louca porque não é realmente o novo normal", disse Hannah Cloke, cientista do clima e professora da Universidade de Reading, no Reino Unido.

Contudo, ela pondera: "Até pararmos de lançar gases de efeito estufa na atmosfera, não temos ideia de como será o futuro." Ela é uma das muitas cientistas que alertam que, embora este verão seja muito ruim, é apenas o começo.

Outra expressão que deveria nomear esse clima extremo é "novo anormal", segundo Michael E. Mann, cientista do clima e professor da Universidade da Pensilvânia.

7.jun.2023 - Incêndios florestais no Canadá causa condições nebulosas na cidade de Nova York - 7.jun.2023 - ANGELA WEISS/AFP - 7.jun.2023 - ANGELA WEISS/AFP
7.jun.2023 - Incêndios florestais no Canadá causa condições nebulosas na cidade de Nova York
Imagem: 7.jun.2023 - ANGELA WEISS/AFP

O novo normal "transmite erroneamente a ideia de que simplesmente chegamos a um novo estado climático e que simplesmente temos que nos adaptar a ele", disse ele à CNN.

Os impactos tornam-se cada vez piores à medida que a queima de combustíveis fósseis e o aquecimento continuam. É uma linha de base variável de impactos cada vez mais devastadores enquanto a Terra continuar a aquecer.

Michael E. Mann, cientista do clima e professor da Universidade da Pensilvânia

Para os cientistas, este clima extremo não foi surpreendente. Esperava-se que o desenvolvimento do El Niño, um fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento acima do comum das águas do Oceano Pacífico equatorial.

À medida que a crise climática se acelera, o palco está montado para mais surpresas.

Operação de resgate em andamento na Coreia do Sul, em 15 de julho de 2023, depois que um deslizamento de terra que enterrou cinco casas. Inundações e deslizamentos de terra causados por fortes chuvas mataram pelo menos 32 pessoas em todo o país e deixaram mais de 10 pessoas desaparecidas, enquanto milhares evacuaram suas casas devido aos danos causados pela chuva - NurPhoto via Getty Images - NurPhoto via Getty Images
Operação de resgate em andamento na Coreia do Sul, em 15 de julho de 2023, depois que um deslizamento de terra que enterrou cinco casas. Inundações e deslizamentos de terra causados por fortes chuvas mataram pelo menos 32 pessoas em todo o país e deixaram mais de 10 pessoas desaparecidas, enquanto milhares evacuaram suas casas devido aos danos causados pela chuva
Imagem: NurPhoto via Getty Images

"Os extremos climáticos continuarão a se tornar mais intensos e nossos padrões climáticos podem mudar de maneiras que ainda não podemos prever", disse Peter Stott, pesquisador de atribuição climática do UK Met Office.

Por outro lado, os cientistas acreditam que ainda há tempo para evitar algo pior. A ciência mais recente mostra que o aumento da temperatura global cessaria quase imediatamente após pararmos de queimar combustíveis fósseis.

Quanto mais ações tomarmos, quanto mais cedo agirmos, melhor será nosso futuro.

Hannah Cloke, cientista do clima e professora da Universidade de Reading, no Reino Unido