Topo

Mobilidade ativa é boa para o meio ambiente e a vida na cidade; entenda

Alfribeiro/iStock
Imagem: Alfribeiro/iStock

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

02/04/2022 06h00

Em São Paulo, o hábito de se deslocar a pé pela cidade se fortaleceu com a pandemia. O percentual de pessoas que apontou esse como o seu meio de locomoção mais usado cresceu 14 pontos percentuais entre 2019 e 2021: foi de 6% para 20%, de acordo com o último estudo Viver em São Paulo: Mobilidade Urbana (Rede Nossa São Paulo).

Esse tipo de mobilidade é conhecido como sustentável ou ativa, e pode contribuir para a melhora não só da qualidade de vida de quem a pratica, mas também da vida na cidade como um todo. Ecoa conversou com especialistas no tema para trazer mais informações.

O que é mobilidade ativa?

"A mobilidade ativa é o caminhar, o deslocamento de bicicleta ou outras formas em que a pessoa é protagonista do movimento e não se usa combustíveis fósseis. É, assim, um tipo de mobilidade sustentável", explica Mariana Malufe Spignardi, especialista em Conforto Ambiental e Conservação de Energia (USP) e parte do Conselho Gestor da Secretaria Estadual de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Spignardi explica, porém, que a mobilidade sustentável não necessariamente implica que ela seja ativa. "Por exemplo, pode-se ter a mobilidade em um carro elétrico, que é sustentável, mas não é ativo", completa. Para que seja ativa, a mobilidade não deve ser motorizada.

Qual a importância da mobilidade ativa para o meio ambiente?

Para Denise Duarte, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e Membro da Coalizão Ciência e Sociedade, a adoção da mobilidade ativa é essencial para amenizar as mudanças climáticas que estão acontecendo no planeta.

"É fundamental prover amenidades urbanas, incluindo condições microclimáticas de conforto lado a lado com as estratégias de mobilidade ativa. Isso se dá, por exemplo, tratando os caminhos para pedestres e as ciclovias como espaços prioritários para o conforto térmico, além de todas as demais questões envolvidas, como acessibilidade e segurança", afirma.

O estudo apresentado no começo desta matéria revela que, apesar do aumento dos deslocamentos a pé nos últimos anos, o ônibus municipal ainda é o meio de transporte mais usado entre os paulistanos. E parte dessa frota motorizada (que, só em São Paulo, conta com mais de 15 mil ônibus) lança grande quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera.

"Ainda temos muitos transportes pesados movidos a diesel, como ônibus e caminhões. Se o país aderir às formas de combustíveis mais limpos e transportes motorizados elétricos, teremos um ganho em escala bastante expressivo para o planeta", analisa Duarte.

A mobilidade ativa pode gerar outros benefícios para as cidades?

Para Spignardi, a mobilidade ativa traz um ganho que vai além da sustentabilidade ao otimizar o uso de recursos naturais, não emitir gases do efeito estufa e trazer benefícios à saúde de quem está se locomovendo.

Estudos apontam que apenas 30 minutos de caminhada por dia podem diminuir o risco de doenças cardíacas em até 19%, além de reduzir os níveis de açúcar no sangue.

Além disso, de acordo com a especialista, esse tipo de mobilidade 'ativa a cidade', trazendo retornos para comércios que estejam no entorno. "Por exemplo, ao caminhar perto de uma cafeteria, há mais chances de entrar comparado a quando se passa de carro na frente do comércio. Com isso, há uma ativação econômica e comercial desses estabelecimentos", explica.

Ela também ressalta que a mobilidade ativa é uma ativadora do espaço público, já que a partir desse tipo de atividade as pessoas têm a maior chance de ocupar esses locais. "Se a pessoa está atravessando um parque, ela pode parar e comer um lanche, por exemplo", exemplifica.

Qual a relação da mobilidade ativa com o planejamento das cidades?

No entanto, Spignardi lembra que o planejamento das cidades é um obstáculo que impede a mobilidade ativa de ser uma realidade para grande parcela da população. Isso é facilmente observável na capital paulista, em que há uma grande concentração populacional no extremo sul e no extremo leste - regiões em que a oferta de trabalho é menor em relação às áreas centrais.

"Muitas pessoas necessariamente precisam se deslocar por horas até chegarem aos seus trabalhos. Para esses casos, a mobilidade ativa não é uma realidade", ressalta.

A pesquisa divulgada pela Rede Nossa São Paulo ainda revela que a cidade não é tão receptiva para quem deseja optar pelo transporte coletivo em vez dos carros. Em 2021, o tempo médio de deslocamento do paulistano foi de 1h42 por dia para quem usa o transporte coletivo. Já os que usam carro poupam pelo menos 18 minutos diariamente.

Para Spignardi, a saída está no planejamento das áreas urbanas, que precisam encontrar um equilíbrio entre os tipos de mobilidade disponíveis: "A mobilidade ativa é um caminho para termos cidades mais equilibradas. Em muitas delas, quase um terço das áreas são destinadas à locomoção de carros. Então, converter essas áreas é muito importante", afirma.

Ela acredita que modelos híbridos podem ser uma saída para quem pode optar pela mobilidade ativa. "Uma boa ideia, por exemplo, é ir trabalhar a pé e voltar de ônibus. O que torna o processo mais rígido é o transporte individual, como ir de carro, pois isso significa que a pessoa necessariamente terá de voltar de carro".