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ES reserva leitos de hospitais privados para pacientes do SUS

Hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, é único que oferece na rede pública da cidade leitos de UTI  - DIVULGAÇÃO/PAULA FRÓES/GOVBA
Hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, é único que oferece na rede pública da cidade leitos de UTI Imagem: DIVULGAÇÃO/PAULA FRÓES/GOVBA

Carina Martins

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

28/04/2020 19h22

É difícil ignorar a ideia de história cíclica quando ela passa rolando por cima de nossas cabeças. No ápice do questionamento de Estados-nação, numa forte onda liberal e de negação do bem-estar social, uma pandemia reorganiza prioridades. E neste momento não questionamos se o Estado deve intervir; o que se pergunta é cadê os R$ 600? Não se pede Estado Mínimo, discute-se o uso de recursos privados para emergências públicas.

Hoje (28) o governo do Estado do Espírito Santo publicou uma portaria que inclui a reserva de leitos de hospitais privados para, se necessário, serem usados por pacientes do setor público infectados com a Covid-19. Chamado de "Leitos para Todos", o programa é parte da estratégia de políticas públicas capixabas para evitar um colapso no sistema hospitalar. A taxa de ocupação atual de UTIs para esses pacientes hoje está em 70%. O programa prevê uma divisão dos leitos, preservando vagas para outros atendimentos na rede pública e a utilização normal de planos de saúde na privada, mas aumentando quase que imediatamente o número de leitos de UTI dedicados ao coronavírus de 184 para 353.

Em busca da fila única

A decisão do governo capixaba está alinhada com a recomendação feita pelo Conselho Nacional de Saúde de que as administrações públicas solicitem e usem leitos ociosos na rede particular de saúde enquanto durar a pandemia de Covid-19. A recomendação acontece por causa do potencial impacto do coronavírus sobre as redes hospitalares, uma de suas mais marcantes e graves características. Além de citar experiências bem-sucedidas de outros países que tomaram essa medida durante a pandemia, o documento destaca a vantagem brasileira pela expertise que tem na fila única do transplante de órgãos.

Duas campanhas - uma iniciada por juristas, outra, por profissionais da saúde - se juntaram para incentivar iniciativas e políticas públicas nesse sentido. A campanha Vidas Iguais + Leitos para Todos buscam "garantir o acesso universal e igualitário a todos os pacientes com casos graves da doença que necessitem de leitos de internação e terapia intensiva por meio do Sistema Único de Saúde (SUS)."

Vidas iguais

Um grupo de médicos e sanitaristas que participaram do UOL Debate de hoje mostrou que há pouca discordância sobre a necessidade da adoção desse sistema. A conversa fica mesmo por conta de sua regulação e implantação. "Dói, mas tem que fazer. Senão, brasileiros pobres vão morrer e brasileiros ricos vão se salvar. Não tem cabimento isso", afirmou o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto. Ricardo Nicolau, diretor do Hospital de Campanha de Manaus, concorda. "Sem dúvidas que temos que unir tudo, todos os leitos disponíveis, privados e públicos para atender a população". Assista abaixo ao debate completo.

Auxílio para o auxílio

Mas quem ainda quiser reclamar dos excessos estatais que poderiam ser evitados pode estar descansado, que uma coisa não exclui a outra. Todos os evitáveis problemas no sistema de distribuição do auxílio emergencial federal estão causando não apenas angústias nas famílias necessitadas, como também a necessidade de mais ações. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura abrirá a partir de amanhã nove unidades do Cate (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo) para ajudar quem precisa, e não consegue, habilitar o seguro-desemprego ou acessar o auxílio emergencial do governo federal. No Recife, a mesma coisa: o Instituto JCPM de Compromisso Social montou atendimento na unidade do RioMar Recife para ajudar mais de 300 pessoas que não conseguiam completar o cadastro do auxílio.

Diariamente, Ecoa selecionará boas notícias para nos ajudar a enfrentar a nova rotina e nos manter orientados sobre a Covid-19. Até amanhã.