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Empreendedorismo social impactou 622 milhões de pessoas em 20 anos

Segundo o documento, em 20 anos, U$ 6.7 bilhões foram distribuídos entre empreendedores sociais - iStock
Segundo o documento, em 20 anos, U$ 6.7 bilhões foram distribuídos entre empreendedores sociais Imagem: iStock

De Ecoa

Em São Paulo

23/01/2020 04h00

Projetos de empreendedorismo social impactaram positivamente 622 milhões de pessoas ao redor do mundo. O dado faz parte do novo relatório da Fundação Schwab, plataforma global que promove e apoia modelos inovadores nessa área. O documento foi divulgado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, — o evento começou na última terça, dia 21, e vai até sexta, dia 24 — e traz uma análise do trabalho que grupos ligados à Fundação realizaram em 190 países nos últimos 20 anos.

Durante esse período, cerca de U$ 6,7 bilhões foram distribuídos entre produtos e serviços ligados a empreendedorismo social, enquanto pouco mais de 192 milhões de toneladas de CO2 — o gás do efeito estufa que é um dos principais responsáveis pelo aquecimento global — foram mitigadas. É como se mais de 40,7 milhões de carros deixassem de circular.

Para o fundador da entidade, Klaus Schwab, esses números servem para acabar com a ideia de que projetos de inovação social que têm sucesso são casos isolados.

Empreendedores sociais são pioneiros em abordagens mais sustentáveis e inclusivas para modelos de negócios. Essas pessoas têm provado como empregados, clientes, fornecedores, a comunidade e o meio ambiente podem ser beneficiados quando todas as partes interessadas estão envolvidas na criação de valores socioeconômicos.
Klaus Schwab, fundador da Fundação Klaus Schwab

Segundo o relatório, os 10 países com mais projetos nessa área são Brasil, Etiópia, Índia, Quênia, México, Nigéria, África do Sul, Tanzânia, Uganda e Estados Unidos.

Por que o Brasil está nessa lista?

"O Brasil faz parte dessa lista porque é um terreno fértil para empreendedores sociais. É óbvio que esse é um país com muitos problemas no campo socioambiental, mas, especialmente nos anos 1990, uma onda de pessoas começou a aparecer apresentando propostas para solucionar esses problemas", afirma Rachel Añón, diretora de alianças da ponteAponte, empresa que investe na implantação de projetos por meio de conexões entre companhias e organizações sociais. Até 2015, Añón também era uma das avaliadoras do Prêmio Empreendedor Social, que desde 2005 é realizado pela "Folha de S. Paulo" em parceria com a Fundação Schwab.

Ela explica que essa abertura para ações mais propositivas, especialmente realizadas por ONGs, se deu após a Eco-92 . Mais conhecida como Cúpula da Terra, a Conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento reuniu no Rio de Janeiro, em junho de 1992, delegações de 175 países e várias organizações não governamentais. Añón diz que o encontro foi o reconhecimento da importância dessas entidades sociais em decisões políticas e globais.

Rachel Añón - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Rachel Añón foi avaliadora do Prêmio Empreendedor social, hoje é diretora de alianças da ponteAponte
Imagem: Reprodução/Facebook

"Nesse momento, as pessoas e iniciativas que realizavam trabalhos ligados ao, como chamamos hoje, empreendedorismo social, se tornam protagonistas. Nós já tínhamos um grupo de pessoas nessas organizações, especialmente as voltadas para questões ambientais, que passaram a ter ainda mais uma visão de cidadania e da necessidade de propor soluções", afirma.

Assim, segundo Añón, o país passa a ser considerado um celeiro para o empreendedorismo social, especialmente por entidades estrangeiras que começam a investir financeiramente nesse tipo de trabalho.

"Empresas como a Ashoka [organização social americana presente em 90 países], que foi uma das primeiras a identificar quem estava causando impacto positivo no Brasil, sempre investiu muito em empreendedores sociais. Foi uma das primeiras a usar esse termo, inclusive. E, por um tempo, esses investimentos continuaram. Anos depois, nós tivemos a criação do Fundo Amazônia, por exemplo, que hoje está parado, mas tinha Noruega e Alemanha como principais investidoras", afirma.

Como o relatório foi feito

O parâmetro que resultou nas 622 milhões de pessoas impactadas levou em consideração números de organizações voltadas a soluções ecológicas, atividades econômicas, educação, geração de empregos, acesso à energia, inclusão financeira, saúde, habitação, direito à terra, inclusão social e tecnologia.

O setor da educação que mais gerou impacto, segundo o relatório. Ao todo, pouco mais de 226 milhões de pessoas conseguiram auxílio educacional por causa de programas desenvolvidos por empreendedores sociais da área

Direito à terra vem em segundo lugar, tendo impactado 180 milhões, tanto pela promoção direta ao acesso à terra quanto na elaboração de políticas públicas para facilitar a conquista.

O setor tecnológico, porém, aparece em último, contribuindo com a melhoria de vida de 526 mil pessoas por meio de soluções e educação tecnológica.