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"Estou pensando no Brasil", diz Jane Fonda em ação contra crise ambiental

A atriz Jane Fonda foi presa quatro vezes desde outubro - Siphiwe Sibeko/Reuters
A atriz Jane Fonda foi presa quatro vezes desde outubro Imagem: Siphiwe Sibeko/Reuters

Fernanda Ezabella

De Ecoa, em Palm Springs (EUA)

12/12/2019 16h22

A atriz Jane Fonda completa 82 anos neste mês, mas seus planos de aniversário estão longe do glamour: talvez ela passe na prisão, como parte do movimento de desobediência civil que vem liderando na capital norte-americana em defesa do meio ambiente.

Fonda já foi presa quatro vezes desde outubro, quando se mudou para Washington, e teve que passar uma noite na cadeia após realizar protestos pacíficos em prédios públicos com um grupo de ativistas. O movimento vem ganhando cada vez mais adeptos, e ela espera poder inspirar outras cidades do mundo a fazer o mesmo.

"As pessoas precisam se reunir em exércitos para defender o meio ambiente, para tomar as ruas, para fechar governos se necessário. E estou pensando no Brasil nesse momento", disse Fonda no TEDWomen, um evento de palestras que aconteceu em Palm Springs, no sul da Califórnia, EUA, no último dia 5. "Não podemos permitir a queimada das nossas florestas preciosas."

O movimento se chama Fire Drill Fridays, ou "Simulação de Incêndio de Sextas-feiras", em tradução livre. Toda sexta, Fonda se reúne com cidadãos e seus amigos famosos para uma passeata, discursos e ocupação de um prédio público de maneira pacífica. Nas quintas, o site do grupo organiza aulas on-line sobre o assunto.

A atriz Jane Fonda é detida pela polícia norte-americana - Mandel NGAN / AFP - Mandel NGAN / AFP
A atriz Jane Fonda é detida pela polícia norte-americana em novembro de 2019
Imagem: Mandel NGAN / AFP
Fonda contou que a inspiração veio da ativista sueca Greta Thunberg e dos estudantes que realizam greve semanalmente pela mesma causa. "Greta disse que precisamos sair da nossa zona de conforto, se comportar como se nossa casa estivesse em chamas, porque está em chamas", disse Fonda ao público, via vídeo direto da sede do Greenpeace em Washington.

"Os estudantes grevistas falam em nossos protestos, e eu vou lá falar nos protestos deles também. Eles não querem lidar com isso sozinhos, não criaram esse problema. Então eu digo: Vovós unidas!"

Netos presos

Na sexta-feira passada (6), o grupo realizou seu nono protesto. No dia 20 de dezembro, véspera de seu aniversário de 82 anos, ela vai às ruas de novo, sem medo de ser presa, embora com mais cautela porque precisa voltar para Los Angeles em meados de janeiro para assumir compromissos contratuais, como gravar a nova temporada da série "Grace and Frankie".

Jane Fonda - Getty Images - Getty Images
Jane Fonda completará 82 anos no dia 21 de dezembro
Imagem: Getty Images
"Meus netos vieram na semana passada e foram presos. Foi uma experiência transformativa", disse Fonda. "Sinto que isto é o novo normal aqui em Washington. As pessoas querem voltar e fazer de novo. Chegamos a um ponto crítico, e muitas estão dispostas a colocar o corpo na linha de batalha."

Em novembro, na sua quarta prisão, passou uma noite encarcerada, após um protesto que contou com as atrizes Rosanna Arquette e Catherine Keener, também presas. Ela disse à imprensa que passou sete horas sozinha até ser transferida para uma cela com outras mulheres.

"Era só eu e umas baratas", disse à revista "The Hollywood Reporter". "Quando me transferiram, conversei com mulheres e ouvi suas histórias. Muitos casos de abuso doméstico, pobreza, desespero. Foi triste."

Que seja desconfortável

Fonda, ganhadora de dois prêmios Oscar e indicada várias outras vezes, já havia sido presa no passado, em 1970, quando fazia uma turnê de protestos contra a Guerra do Vietnã. Ela também se dedicou às causas dos nativos-americanos, contra a Guerra do Iraque e participa de inúmeras organizações de proteção às mulheres.

Jane Fonda em foto tirada quando foi presa no passado, em 1970 - Reprodução - Reprodução
Jane Fonda em foto tirada quando foi presa no passado, em 1970
Imagem: Reprodução
Para os espectadores do TEDWomen, Fonda disse que os objetivos do movimento são ver a aprovação nos EUA do Green New Deal (um plano para zerar emissões de carbono até 2030) e ter todos os estados norte-americanos interrompendo novas expansões de combustível fóssil.

"Caso contrário, só vai piorar. E tudo o que fizermos com energia solar e eólica não vai adiantar porque nunca será possível alcançar o mesmo patamar", disse, acrescentando que vem recebendo pedidos do mundo todo para iniciar Fire Drill Fridays em outras cidades. Los Angeles deve ser a próxima.

Para quem não tem tempo de participar de passeatas (ou se arriscar em ser preso), ela deu sugestões de como colaborar: votar em quem se importa com o meio ambiente e tem coragem, nunca agir sozinho ("já que em número somos muito mais fortes") e não ter medo de falar sobre o assunto.

"Mesmo que seja desconfortável, converse sobre isso. Talvez seu tio Bob não concorde, mas talvez ele se preocupe com seus netos, ou talvez goste de passarinhos", disse Fonda. "Sempre tem um jeito de entrar e fazê-los se preocupar com as mudanças climáticas."