Ninguém para trás

Desmatar é ruim, também, para a economia. Manter a floresta em pé é semear um futuro possível - para todos.

Bárbara Forte e Janaina Garcia De Ecoa, em São Paulo Flavio Moraes/UOL

Maria do Carmo e Marlene acordam cedo para cultivar o que, para elas, é muito mais do que alimento: é poder econômico, inclusão, respeito ao meio ambiente e... amor. As duas são produtoras de orgânicos no estado de São Paulo - uma em Santo Antônio de Posse, no interior paulista, e a outra na capital, na região de Parelheiros, zona sul da cidade.

Em comum, as mulheres não têm apenas a agricultura, mas também uma mudança drástica no modo de vida. Em pequena escala, elas descobriram que não só é possível aliar a lavoura à preservação do meio ambiente, mas também é o único caminho para que filhos e netos continuem na profissão que mantém suas famílias.

E em larga escala, é possível um desenvolvimento sustentável, ou seja, com combate à concentração de renda, considerando a natureza como parte do sistema econômico e com garantia de direitos sociais e humanos?

A cultura de exploração da rica biodiversidade do Brasil sem cuidados para sua preservação nos levou a consumir desenfreadamente, gerar cada vez mais lixo e basear toda nossa indústria (do arroz e feijão ao combustível do ônibus) em um sistema insustentável de emissão dos gases do efeito estufa, intensificando as mudanças climáticas.

O efeito disso é um grande estrago não só em qualidade de vida, mas na economia: só as chuvas intensas do Sudeste nos primeiros meses do ano provocaram um prejuízo de R$ 203 milhões ao comércio da região, segundo levantamento da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Eventos causados pelo aquecimento global ficarão cada vez mais recorrentes, causando impactos negativos para todos, e principalmente para as nações mais pobres.

Porém, há caminhos, como o escolhido por Maria do Carmo e Marlene, que podem ser replicados em maior dimensão.

Flavio Moraes/UOL

O desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades

Relatório Nosso Futuro Comum, 1987

O mundo ouviu pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável em 1987, por meio de um relatório da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas). Apesar de terem se passado 33 anos desde então, o climatologista Carlos Nobre garante que esta ainda é melhor definição: "Naquele momento foi mostrado que o desenvolvimento sustentável depende de três pilares — o crescimento econômico, aliado à inclusão social e proteção ambiental. Os três estão interligados, não há um sem o outro".

O texto afirma, ainda, que "um mundo onde a pobreza e a desigualdade são endêmicas estará sempre propenso a crises ecológicas, entre outras, e o desenvolvimento sustentável requer que as sociedades atendam às necessidades humanas tanto pelo aumento do potencial produtivo como pela garantia de oportunidades iguais para todos".

Para Regina Cavini, oficial sênior de programas da ONU Meio Ambiente, compreender o sentido de "necessidades humanas" implica abraçar a máxima do "não deixar ninguém para trás".

Agricultor Moises Machado com produção de agrofloresta em Jaguariúna (SP) | Crédito: Flavio Moraes/UOL Agricultor Moises Machado com produção de agrofloresta em Jaguariúna (SP) | Crédito: Flavio Moraes/UOL

O crescimento econômico não necessariamente diminui a pobreza, e uma variável importante que leva a esse cenário é a desigualdade no poder: hoje temos uma população excluída do processo de tomada de decisão, e seus interesses não estão garantidos

Regina Cavini, oficial sênior de programas da ONU Meio Ambiente

Juliana Caro / UOL Juliana Caro / UOL
Área recuperada com agrofloresta em Jaguariúna (SP) | Crédito: Flavio Moraes/UOL

Potência minada

Para não deixar ninguém para trás, é preciso entender o que prejudica o meio ambiente e, como consequência, a vida das pessoas. No Brasil, 25% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) vêm da agropecuária e 21% da produção de energia. Pará, Mato Grosso e São Paulo são os estados que mais poluem.

O aumento da temperatura do mundo causado pelas emissões tem impactos distintos em diferentes cantos do mundo, apontou uma pesquisa da Universidade de Stanford, na Califórnia (EUA). No último século, o abismo entre o crescimento dos países mais pobres e das nações mais ricas é 25% maior do que seria sem o aquecimento global. Se em países africanos, como Mauritânia e Níger, o PIB (Produto Interno Bruto) chega a ser 40% menor do que se as temperaturas não estivessem aumentando, no Brasil — a nona maior economia do mundo — o crescimento ficou 25% menor do que seu potencial.

Por um lado, os países ricos são os que menos sofrem as consequências da crise climática. Por outro, nações como o Brasil são as que precisam tomar atitudes ainda mais urgentes para conter as emissões. Só em 2018, nós emitimos 1,93 bilhão de toneladas de carbono, de acordo com o SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa).

O índice, segundo o Observatório do Clima, representa uma alta de 0,3% em relação a 2017. Ainda não saiu o resultado de 2019, mas a tendência é a de que o aumento seja ainda maior, devido ao crescente desmatamento na Amazônia - a estimativa é de um aumento da emissão de gases de efeito estufa da ordem de 10% a 20%, em comparação a 2018. E isso mesmo com a pandemia do coronavírus e a consequente paralisação da economia global, que gerou um recuo as emissões em outros países.

"A gente tem nossa rotina baseada numa economia que chamamos de carbono intensivo, em que a maior parte da energia produzida vem de fontes de petróleo. Abastecemos nossos carros com gasolina, os ônibus e caminhões com diesel. A economia de baixo carbono vai na contramão desse uso: com energias renováveis [hidrelétrica, solar e eólica]", detalha Gustavo Pinheiro, coordenador da área de Economia de Baixo Carbono do ICS (Instituto Clima e Sociedade).

A economia de baixo carbono descrita pelo especialista é a principal meta do Acordo de Paris, aquele que 197 países assinaram, comprometendo-se a reduzir as emissões de gases do efeito estufa com o objetivo de manter o aumento da temperatura global bem abaixo de 2ºC. De 2016, quando o acordo entrou em vigor, para cá, 180 nações ainda são participantes. Com o pacto, cada país estabeleceu sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada do Acordo de Paris), e a contribuição prometida pelo Brasil é considerada uma das mais ambiciosas.

"O Brasil tem o que a gente chama de uso da terra. A gente está falando basicamente de desmatamento ilegal e da produção agropecuária, que têm grandes impactos ambientais", pontua Gustavo.

Por isso, a discussão sobre sustentabilidade passa essencialmente por alternativas economicamente viáveis para fazer frente ao desmatamento. Uma delas é o sistema de conservação por agrofloresta que, na prática, equivale a um conjunto de técnicas que reúne agricultura e preservação ou recomposição ecológica. O sistema se vale da dinâmica de sucessão de espécies da flora nativa para trazer aquelas agregam benefícios ao terreno, bem como produtos para o agricultor.

De cada hectare de floresta que desaparece na Amazônia, por exemplo, falamos de 400 a 500 toneladas de gás carbônico que entram na atmosfera. Se você tem uma bioeconomia de floresta em pé, não desmata, ao contrário: você pega áreas desmatadas de floresta e as regenera, tirando gás carbônico da atmosfera. É um serviço enorme prestado ao meio ambiente

Carlos Nobre, climatologista

Pimenta rosa entre bananeiras em área de agrofloresta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL Pimenta rosa entre bananeiras em área de agrofloresta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL

A implementação dos sistemas agroflorestais integra um dos sete programas do Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono do Ministério da Agricultura, um conjunto de ações que objetiva reduzir as emissões de GEE. No mesmo Plano está compreendida também a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área.

"É possível fazer uma pecuária neutra de carbono, várias fazendas a praticam, de modo que 8% dos 1,7 bilhões de hectares de pastagens do Brasil têm hoje sistemas integrados de pecuária, lavoura e floresta. Estamos muito longe de chegar a uma pecuária neutra de carbono, mas é totalmente factível, não custa caro, além de aumentar a fertilidade do solo e diminuir os extremos climáticos", analisa Nobre.

Considerado um dos principais especialistas em Amazônia e em mudanças climáticas do Brasil, ele acredita que a velocidade das mudanças é lenta até por fatores culturais, uma vez que convencer o dono de uma pastagem gigantesca em implementar a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta é mudar a maneira de esse indivíduo trabalhar, já que a iLTF demanda mais acompanhamento.

"O pecuarista das grandes fazendas não é um agricultor do dia a dia, e, na pecuária, são em média até quatro empregados por mil hectares. Essa cultura precisa mudar, porque converter pastagem em lavoura e floresta é até mais lucrativo e não faltam a ela subsídios do governo", diz.

Caixas de abelha para polinização de agrofloresta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL Caixas de abelha para polinização de agrofloresta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL
Jardiel Carvalho/UOL

Mesmo que a agropecuária — aliada ao desmatamento — siga como a maior vilã das emissões dos gases de efeito estufa no Brasil, uma série de iniciativas têm surgido em diferentes regiões do país com uma mensagem bem marcada: é possível, sim, explorar o solo de uma forma mais consciente à longevidade ambiental. O cultivo de alimentos de base essencialmente orgânica é um exemplo.

As duas pequenas agricultoras ouvidas para esta reportagem trazem em comum a experiência de mudança não somente na relação com a agricultura, como uma transformação drástica no modo de vida.

Em Parelheiros, extremo sul da cidade de São Paulo, a mudança na forma de produzir em áreas arrendadas ajudou a recuperar espaços que estavam extremamente prejudicados em função da pecuária extensiva e do desmatamento. É lá que vive Maria do Carmo de Brito, 65. Viúva desde o início deste ano, a agricultora familiar se tornou chefe de família e iniciou há nove meses a transição para cultivar apenas orgânicos. Cultiva de tudo um pouco: hortaliças, legumes e temperos.

A paraense chegou a São Paulo aos 13 anos para trabalhar como empregada doméstica em uma casa de onde saiu fugida aos 20, rumo à roça com o grande amor da vida, Laudelino Vaz de Brito. A reportagem esteve na chácara em que os dois se estabeleceram e criaram os cinco filhos duas semanas após a produtora ter perdido o companheiro, aos 76 anos. O sentimento de tristeza ora deixava Maria emotiva, ora dava espaço à alegria que a agricultora tem ao olhar onde vive. "Veja tudo isso em volta, minha filha, é bênção!"

Sobre a relação da sociedade com o alimento orgânico, a pequena agricultora defende que "a primeira mudança vem do olhar". Ela conta que não adianta chegar com o produto natural na feira, por exemplo, se as pessoas não ligam para o valor daquilo que estão comprando.

Maria mesmo não dava muita bola para a questão até participar de um programa da prefeitura de São Paulo que presta assistência técnica e extensão rural, além de acesso a mercados de orgânicos na capital. A iniciativa, chamada "Ligue os Pontos", é da Secretaria de Desenvolvimento Urbano de São Paulo e prevê assistência técnica e extensão rural, incentivo ao empreendedorismo, legalização de documentos e acesso a mercados de orgânicos na capital. No fim do ano passado, ela começou a transição para vender seus produtos para um público cada vez mais crescente e se prepara, agora, para cultivar frutas por meio de sistemas agroflorestais.

Os clientes escolhem a alface do vizinho de barraca só porque é maior, mas está cheia de veneno

Maria do Carmo de Brito, agricultora

Jardiel Carvalho/UOL Jardiel Carvalho/UOL

Também hoje na agricultura familiar e filha de lavradores, Marlene Borges de Oliveira, 44, já foi auxiliar administrativo, mas encontrou no plantio de hortaliças e no cultivo de frutas a realização profissional. Ela mora em uma chácara de cerca de 4 mil metros quadrados em Santo Antônio de Posse, próximo a Jaguariúna (interior de São Paulo), e desenvolve em metade da área o sistema de agrofloresta, com rotatividade de culturas, para a produção de orgânicos.

Na propriedade em que vive desde 2011, e, atualmente, onde segue com uma das filhas, Marlene, que ficou viúva em 2017, planta principalmente hortaliças - alfaces, rúcula, couve - e legumes, com mais de uma variedade por canteiro. Desde 2014, aderiu à produção 100% orgânica após visitar locais que já faziam o mesmo, com apoio da Embrapa. Cultiva ainda pitayas; algumas chegam a pesar 500 gramas.

"Para mim, o orgânico era simplesmente o alimento sem veneno, mas é mais que isso: é o cuidado com a terra em todos os sentidos, desde saber preparar o terreno a fazer a compostagem que a aduba. Não uso mais fertilização animal depois disso."

Marlene Borges de Oliveira com pitayas de sua horta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL Marlene Borges de Oliveira com pitayas de sua horta no interior de SP | Crédito: Flavio Moraes/UOL

Floresta (em pé) é lucro

Iniciativas micro como essas mostram como manter a floresta de pé é mais rentável e racional do que derrubá-la. No macro, esse é o cerne do projeto Amazônia 4.0, coordenado pelo climatologista Carlos Nobre, que se pretende uma alternativa sustentável contra o aumento do desmatamento na região.

Números do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, apontam que o desmatamento na Amazônia em junho quebrou novo recorde e chegou a 1.034,4 km². O índice é 10,6% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Na avaliação de Nobre, "é essencial atacar frontalmente as ilegalidades" no uso da terra se o país quiser reverter a tendência de devastação e cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris.

"Ainda que pessoas do atual governo sejam abertamente negacionistas [em relação ao aquecimento global], ele [o governo] anunciou em Davos, ano passado, que não sairia do Acordo. Agora, tem que honrar os compromissos voluntariamente aceitos - e no caso do Brasil, eles se referem especialmente ao uso da terra", aponta.

O projeto Amazônia 4.0, em desenvolvimento, vai exatamente nessa direção: mostrar a viabilidade de desenvolver a bioeconomia de floresta em pé na Amazônia, e, se possível, industrializar mais de 500 produtos da floresta - como andiroba, cacau, açaí - especialmente através de sistemas agroflorestais, mantendo a floresta em pé

Carlos Nobre, climatologista

Flavio Moraes/UOL

Embora a agropecuária seja um dos principais responsáveis pelo aumento da emissão de gases do efeito estufa do país, o Ministério da Agricultura destaca iniciativas na pasta que buscam reduzir o desmatamento e as emissões de carbono na atmosfera. Segundo Eduardo Sampaio Marques, assessor especial da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e ex-secretário de Política Agrícola, entre as medidas de maior ênfase está o Plano ABC - Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, que prevê a adoção de tecnologias de produção sustentáveis no período entre 2010 e 2020.

"Estimamos que no Plano ABC já foram recuperados cerca de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas, dos 170 milhões que há no Brasil — ou seja, quase um terço —, e este ano já aumentamos 30% em relação a 2019, também com aumento de investimentos no plano [R$ 1,8 bi aplicados ano passado, e previsão de R$ 2,1 bi este ano]", explicou ele em entrevista realizada quando ainda estava na função de secretário.

Outra medida é um programa vigente há pelo menos 13 anos de concessão de florestas públicas para exploração mediante manejo sustentável. A pasta estima que pelo menos 1 milhão de hectares de terras do tipo já foram concedidos para atividades que vão da exploração de madeira ao cultivo de culturas, e estima expansão do modelo.

De acordo com Marques, a proposta consiste em dividir essas áreas de floresta em lotes para que cada um deles seja explorado, um por vez, a cada ano, com número limitado de árvores a serem derrubadas — de seis a oito por hectare. O assessor nega que isso implique em mais desmatamento.

Ele também negou que o fato de o Brasil ser um dos maiores usuários e liberadores do uso de agrotóxicos no mundo prejudique a meta por um desenvolvimento sustentável. "É preciso usar insumos para aumentar a produtividade da área que é usada, ou seria necessário abrir outras áreas", defende.

Flavio Moraes/UOL Flavio Moraes/UOL

Da mata ao concreto, há caminho verde

Trazendo a discussão para os centros urbanos, onde vivem 70% da população, a questão são os meios de transporte e a matriz energética. A poluição nas cidades de grande porte afeta a qualidade do ar, mas também a saúde de quem nelas vive: no começo do ano passado, um estudo divulgado pelo Ministério da Saúde apontou que o número de mortes classificadas como decorrentes da poluição do ar aumentou 14% em dez anos - de 38.782 em 2006, o número saltou para 44.228 em 2016.

Para Carlos Nobre, em comparação com técnicas já adotadas na agricultura pela redução das emissões, ações com o mesmo objetivo no setor de transportes caminham a um ritmo vagaroso. "Temos tido um crescimento considerável de energia eólica, ainda distante de nosso potencial, e a energia solar vem crescendo, mesmo que lentamente. Onde estamos patinando é nos transportes: a maior parte da emissão de gases no setor de energia vem da queima de combustíveis fósseis", detalha.

O climatologista crê que os esforços pela eletrificação das frotas de ônibus do transporte público, por exemplo, contribuiriam significativamente para uma atmosfera mais limpa. "O que temos, basicamente, são projetos-piloto em cidades para transformar ônibus a diesel em elétricos, o que aliviaria demais a poluição urbana; no entanto, não vejo esforço político nesse sentido: mesmo o mundo desenvolvido indo em direção contrária, o Brasil segue estacionado na área mais atrasada de redução das emissões", critica.

A oficial sênior de programas da ONU Meio Ambiente, Regina Cavini, concorda. "Pensar outras formas combustíveis, que não só o fóssil, o elétrico, por exemplo, e outras formas de geração de energia, como os painéis solares, seria uma frente incrível de redução das emissões."

Jardiel Carvalho/UOL Jardiel Carvalho/UOL

Para colocar em prática medidas que garantam floresta em pé e transporte limpo, ou seja, um futuro mais sustentável onde haja lugar para todos, a advogada Karina Marzano, do Instituto de Estudos Avançados em Sustentabilidade (IASS), em Potsdam, na Alemanha, afirma que o País deve recuperar o protagonismo no debate ambiental. "Justamente as medidas de combate ao desmatamento, nos anos recentes, deram a força política que o Brasil tinha nas negociações. Sempre fomos um global player quando se pensava em negociações como Acordo de Paris, e agora o que vemos são retrocessos bastante graves."

Assim como Nobre e Cavini, ela destaca a urgência de repensar a matriz energética. "De 2004 a 2014, a emissão na proporção dos gases aumentou de 8% para 26%. Houve alguns avanços, mas não uma reestruturação a ponto de se pensar de uma saída desse modelo de petróleo, sem contar que subsídios aplicados a combustíveis fósseis continuam", desaprova.

O ambientalista Gustavo Pinheiro, do ICS diz que, em relação às fontes de energia renováveis, o país até que está "avançado em relação ao mundo", mas isso graças a fatores circunstanciais: presença de rios, uso grande de hidrelétricas e indústria da cana."Quando houve as crises de petróleo, que subiram os preços da gasolina e do diesel, o Brasil desenvolveu a indústria de etanol como combustível para veículos leves", aponta.

No entanto, Pinheiro lembra que a política de defesa do Pré-Sal, nos anos 2000, serviu como um elemento de desmobilização na produção do etanol da cana-de-açúcar. "Muito do que a gente vê hoje é ainda uma consequência de uma produção limitada de etanol que não cresceu. Assim como fazem na Venezuela e Arábia Saudita, a gente segurou o preço internamente e gerou distorções no mercado, limitando o Brasil a avançar como poderia", lamenta.

Para ele, é ainda essencial que as políticas de uso da terra — sobretudo pelo desmatamento ilegal e pelos impactos da produção agrícola, por exemplo — sejam revistas.

A mudança é grande, já que envolve modos de produção e também de olhar para o mundo. Mas as agricultoras Maria do Carmo e Marlene, no miúdo de suas práticas, talvez nos ajudem a entender que vale a pena.

Clareira agroflorestal em Jaguariúna (SP) | Crédito: Flavio Moraes/UOL Clareira agroflorestal em Jaguariúna (SP) | Crédito: Flavio Moraes/UOL

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