Crise climática causa branqueamento massivo de corais na Austrália

A Grande Barreira de Coral da Austrália está sofrendo um "branqueamento massivo", anunciaram hoje (8) as autoridades do país. O fenômeno é provocado pelas mudanças climáticas. O maior recife de corais do mundo, que se estende por mais de 2.300 km ao longo da costa nordeste australiana, abriga cerca de 1.500 espécies de peixes e 4.000 tipos de moluscos. Com o aumento da temperatura das águas, o fenômeno se repete e passa a ser dificilmente reversível, segundo cientistas.

Sabemos que a maior ameaça para os recifes de coral no mundo são as mudanças climáticas. A Grande Barreira de Coral não é uma exceção, Devemos agir contra as mudanças climáticas. Devemos proteger nossos patrimônios naturais e também as plantas e animais que vivem neles. Tanya Plibersek, ministra do Meio Ambiente da Austrália

O novo episódio de branqueamento massivo, o sétimo desde 1998, foi confirmado por cientistas que trabalham para o governo da Austrália, com base em registros aéreos realizados em 300 recifes pouco profundos. Estudos complementares devem ser realizados para avaliar a gravidade e a extensão do fenômeno, de acordo com a autoridade australiana encarregada de recifes de coral.

"Os corais são animais que vivem em associação perfeita e em simbiose com pequenas algas que chamamos de zooxantelas. Quando existe um estresse térmico, como no caso da Grande Barreira, há um tipo de 'divórcio' entra a alga e o coral. As algas deixam o animal e o coral perde suas cores e passa a ser branco", explicou à RFI Pascale Joannot, oceanógrafo, integrante da IFRECOR (Iniciativa Francesa para os Recifes de Coral) e presidente do Conselho Científico da Fundação do Mar.

Ele explica que, com a separação da alga, se o estresse perdura, "pouco a pouco, o animal coral vai morrer". "É terrível de ver, porque a cor dos corais é, em grande parte, fornecida pelas algas", salienta.

"É grave porque os corais constituem um ecossistema extremamente rico em biodiversidade. Então, o fenômeno perturba e faz desaparecer ecossistemas e novos aparecem. Isso é, quando um coral morre, o recife de corais vai se transformar, vai haver uma recolonização por outras algas, outra população. Será um novo ecossistema que vai se estabelecer, mas muito degradado", diz.

"Para nós, evidentemente, os seres humanos, isso tem consequências sobre a proteção do litoral, porque não podemos esquecer que os recifes de coral são uma verdadeira barreira de proteção contra o oceano", explica o cientista. "Isso traz também um grave impacto econômico. Vimos que branqueamentos anteriores, em 98, 2002 e no ano passado, provocaram perturbações na pesca, no turismo", lembra.

Joannot também ressalta que o fenômeno pode provocar problemas de saúde pública. "Se os recifes de coral são danificados ou mortos podem ser recolonizados por algas tóxicas", acrescenta.

Recuperação

No ano passado, o fenômeno também se produziu no hemisfério norte, causando perdas importantes nos corais na Florida, nos Estados Unidos, e no Caribe. Os episódios de branqueamento de corais passaram a ser tão frequentes que muitos cientistas temem que os recifes não consigam mais se restabelecer.

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"Deveríamos conseguir todos juntos. Hoje, em 2024, sabemos que é necessário diminuir as emissões de gases do efeito estufa: é claro e simples para parar as mudanças climáticas", diz Joannot.

O futuro da Grande Barreira tem sido causa de tensão entre o governo australiano e a Unesco, que, em 2021, ameaçou incluí-lo numa lista de sítios do patrimônio mundial "em perigo". A inclusão é considerada uma humilhação para a Austrália, e um duro golpe na atratividade turística do complexo de corais, que gera US$ 4,8 bilhões em receitas.

Negociações diplomáticas nos bastidores e o lobby feroz da Austrália impediram até agora que o recife fosse incluído na lista. A Grande Barreira de Corais sofreu enormes branqueamentos em 1998, 2002, 2016, 2017, 2020 e 2022.

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