Estudo aponta ligação entre degelo recorde na Antártida e mudança climática

De acordo com um estudo publicado nesta segunda-feira (20), o degelo recorde registrado em 2023 na Antártida teria sido "extremamente improvável" sem as mudanças climáticas.

Cientistas do British Antarctic Survey (BAS) descobriram que o aquecimento global causado pelo homem resultou em um nível mínimo de cobertura de gelo oceânico em 2.000 anos ao redor do continente.

Comparado com uma média para os invernos nas últimas décadas, a extensão máxima do mar da Antártida coberta por gelo diminuiu em dois milhões de quilômetros quadrados — uma área quatro vezes o tamanho da França, segundo o BAS.

"É por isso que estávamos tão interessados em estudar o que os modelos climáticos podem nos dizer sobre a frequência com que perdas grandes e rápidas como essa são prováveis de acontecer", disse Rachel Diamond, autora principal do estudo, à AFP.

Os cientistas, após analisarem 18 modelos climáticos distintos, descobriram que as mudanças climáticas quadruplicaram a probabilidade de eventos de derretimento tão grandes e rápidos.

Entender a causa do derretimento do gelo marinho é complexo, pois há muitas variáveis — desde a temperatura da água do oceano até a temperatura do ar e os ventos — que podem afetá-lo, dizem os cientistas.

Mas determinar o papel das mudanças climáticas é crítico, já que a formação de gelo tem impactos globais, desde correntes oceânicas até o aumento do nível do mar.

O gelo marinho, que se forma a partir da água salgada já presente no oceano, não tem impacto discernível nos níveis do mar.

Mas quando a neve e o gelo altamente reflexivos dão lugar ao oceano azul escuro, a mesma quantidade de energia solar que era refletida de volta para o espaço é absorvida pela água, acelerando o ritmo do aquecimento global.

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Recuperação é improvável

Ao contrário do Ártico, onde o gelo marinho vem diminuindo desde que os registros de satélite começaram na década de 1970, a tendência de derretimento na Antártida é um fenômeno mais recente.

O gelo marinho da Antártida aumentou "ligeira e continuamente" de 1978 até 2015, segundo o BAS.

Mas 2017 trouxe um declínio acentuado, seguido por vários anos de níveis baixos de gelo.

No estudo publicado na revista Geophysical Research Letters, os pesquisadores do BAS também fizeram projeções para ver se o gelo retornaria.

"Ele não se recupera completamente aos níveis originais nem mesmo após 20 anos", disse Diamond à AFP. Isso significa que "a média do gelo marinho da Antártida pode continuar relativamente baixa por décadas", acrescentou.

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"Os impactos... seriam profundos, incluindo no clima local e global e nos ecossistemas únicos do Oceano Austral — incluindo baleias e pinguins", disse a coautora Louise Sime.

Estudos anteriores do BAS mostraram que o derretimento anormal levou à morte de milhares de filhotes de pinguim-imperador.

Criados nas placas de gelo, eles morreram quando foram lançados no oceano antes de terem desenvolvido suas penas impermeáveis.

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