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Tony Marlon

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O Ano Novo, segundo o poeta Sérgio Vaz

O poeta Sérgio Vaz, idealizador do Sarau da Cooperifa, na periferia da zona sul de São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress
O poeta Sérgio Vaz, idealizador do Sarau da Cooperifa, na periferia da zona sul de São Paulo Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress

14/12/2021 06h00

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É que se não fossem os saraus, eu não saberia até hoje que poetas estão no mesmo ônibus de quem sai para trabalhar às 5 da manhã: de Peixinhos, da Rocinha ou do Grajaú. Ou que tão importante quanto ser um imortal da Academia Brasileira de Letras é ser um imortal na imaginação de um garoto de 16 anos, indo para o primeiro estágio da vida.

É que se não fossem os saraus, eu não saberia até hoje que o mundo é bem maior do que sempre me contaram. E sem saber disso, eu não escreveria o que escrevo para você. E giraria em volta das mesmas histórias, das mesmas pessoas, sobre as mesmas coisas de sempre. Contando para o mundo todo, só uma parte dele.

Mandei uma mensagem ao Sérgio Vaz, pedi se poderia trazer uma das suas tantas e tão bonitas obras para dizer que essa coluna dá uma pausa agora, volta em meados de janeiro para começar tudo de novo. Mas, diferente. Ele disse que sim, o poema segue abaixo.

É que se não fossem os saraus, eu nunca teria conhecido o Sérgio. E sem conhecer o Sérgio, eu nunca teria lido este poema. E sem ter lido este poema, eu seria incompleto hoje. Daria voltas e voltas para dizer o que já foi dito por ele, lá atrás, que é exatamente tudo que eu precisava escrever agora: para alcançar utopias é preciso enfrentar a realidade. Seu poema:

Este ano vai ser pior
Pior para quem estiver no nosso caminho.
Então que venham os dias.
Um sorriso no rosto e os punhos cerrados que a luta não para.
Um brilho nos olhos que é para rastrear os inimigos (mesmo com medo, enfrente-os!).
É necessário o coração em chamas para manter os sonhos aquecidos.
Acenda fogueiras.
Não aceite nada de graça, nada.
Até o beijo só é bom quando conquistado.
Escreva poemas, mas se te insultarem, recite palavrões.
Cuidado, o acaso é traiçoeiro e o tempo é cruel, tome as rédeas do teu próprio destino.
Outra coisa, pior que a arrogância é a falsa humildade.
As pessoas boazinhas também são perigosas, sugam energia e não dão nada em troca.
Fique esperto, amar o próximo não é abandonar a si mesmo.
Para alcançar utopias é preciso enfrentar a realidade.
Quer saber quem são os outros? Pergunte quem é você.
Se não ama a tua causa, não alimente o ódio.
Por favor, gentileza gera gentileza. Obrigado!
Os Erros são teus, assuma-os.
Os acertos também são teus, divida-os.
Ser forte não é apanhar todo dia, nem bater de vez em quando, é perdoar e pedir perdão, sempre.
Tenho más notícias: quando o bicho pegar, você vai estar sozinho. Não cultive multidões.
Qual a tua verdade? Qual a tua mentira?
Teu travesseiro vai te dizer. Prepare-se!
Se quiser realmente saber se está bonito ou bonita, pergunte aos teus inimigos, nesta hora eles serão honestos.
Quando estiver fazendo planos, não esqueça de avisar aos teus pés, são eles que caminham.
Se vai pular sete ondinhas, recomendo que mergulhe de cabeça.
Muito amor, mas raiva é fundamental.
Quando não tiver palavras belas, improvise. Diga a verdade.
As Manhãs de sol são lindas, mas é preciso trabalhar também nos dias de chuva.
Abra os braços. Segure na mão de quem está na frente e puxe a mão de quem estiver atrás.
Não confunda briga com luta. Briga tem hora para acabar, a luta é para uma vida inteira.
O Ano Novo tem cara de gente boa, mas não acredite nele. Acredite em você.
Feliz todo dia.

Sérgio Vaz é escritor e criador do Sarau da Cooperifa, na periferia da zona sul de São Paulo. Um farol para uma multidão de nós. Para saber mais sobre ele e suas obras, clique aqui. Nos vemos do outro lado.