E o Feliz Natal vai para...
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Escrevo aos que abriram portas, fecharam portões. Aos que não dormiram para que os outros dormissem. Aos que cruzaram avenidas inteiras entre sirenes e urgências carregando um punhado de vidas. Àqueles e aquelas que as salvaram, aqueles e aquelas que as trouxeram ao mundo. Quem cuidou do último adeus a quem a importância transcendeu a própria passagem.
Aos que acordaram cedo para fazer o pão quente, às que acordaram ainda mais cedo para tirar os ônibus das garagens. E aos que não dormiram pelas noites escolhendo cabos, religando fios, recapeando ruas. Fazendo a água chegar às torneiras de todas e todos nós como se fosse um passe de mágica, e não é.
Escrevo àqueles e aquelas que saíram de muito longe, quando ainda era muito noite, para que o mercado que você mais gosta pudesse estar aberto muito cedo. A quem nos atendeu do outro lado da linha com um Maria, boa noite, em que posso ajudar? A quem explicou em detalhes como fazia para que o filme preferido aparecesse na TV, quando nossa saúde mental já entrava na fase vermelha. Aquela paciência foi importante naquele dia.
Escrevo a quem não parou, a quem não pôde parar. A quem trabalhou como nunca sem ser valorizado, como sempre. A sala de aula são todas as salas. A quem deixou as calçadas limpas e pouca gente percebeu. A quem carregou para longe dos portões de todas as casas incontáveis sacolas e caixas, muito mais nessa época do ano.
A quem descontaminou os botões do elevador a cada novo passageiro, e muita gente nem sabia que isso era trabalho de alguém. A quem entregou aquela comida quentinha mesmo em meio a uma chuva de render manchetes no programa de TV. Foi homem ou mulher?
A quem apareceu no mesmo programa dando um tchauzinho, ilhado num bar no centro da cidade. Pensando: é hoje que só chego amanhã lá em casa.
Escrevo para aqueles e aqueles que fizeram suas compras chegarem na manhã da quinta-feira, como foi prometido no site. Ou que atravessou a cidade para limpar três quartos, sala e cozinha. Pelo atraso de 15 minutos recebeu cara fechada e meias palavras durante toda a manhã. O vagão estava muito cheio, sabe. Não deu tempo de explicar.
Escrevo a quem só faz falta para alguns quando as coisas param de funcionar. Ou quando algo não chega no horário. Ou se demoram a dizer na fila do mercado, quase fechando: próximo, por favor?
Escrevo a todas e todos que não saíram das ruas neste ano infinito, para que a outra parte pudesse escolher não sair. Escrevo à minha mãe e ao meu pai que são dessa multidão. A vocês uma noite de Natal que chegue perto do impossível. Entre o meu sinto muito e meu respeito, sintam-se abraçadas eternamente.
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