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Rodrigo Hübner Mendes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A potência do discurso de Amanda Gorman

Amanda Gorman é a poetisa mais jovem a participar de uma cerimônia de posse presidencial  - Getty Images
Amanda Gorman é a poetisa mais jovem a participar de uma cerimônia de posse presidencial Imagem: Getty Images

19/11/2021 06h00

Apesar da incerteza inerente à pandemia, o Brasil dá sinais de uma retomada de rotinas e um fôlego para pensarmos na decisão que tomaremos quanto aos rumos do país. Assim, me parece saudável relembrarmos fatos recentes que nos ajudam a manter a crença na possibilidade de um futuro melhor viva e vibrante. Dado que estamos na Semana da Consciência Negra, relembrar o discurso da jovem Amanda Gorman na cerimônia de posse do presidente Joe Biden me parece uma ótima homenagem. Biden é sucessor de um legado extremamente negativo no campo social, marcado pela discriminação e pelo desprezo de conquistas a que os norte-americanos chegaram com muito esforço.

Amanda é uma poetisa de 23 anos, a mais jovem a participar da posse de um presidente dos Estados Unidos. Por apresentar problemas de fala e uma hipersensibilidade auditiva, a mãe a inscreveu em uma atividade promovida por uma ONG chamada WriteGirl, dedicada a estimular jovens garotas a escrever e se expressar. Amanda tinha, então, 14 anos. O resultado foi o nascimento de uma artista muito talentosa. Aos 16, ganhou seu primeiro prêmio, o Youth Poet Laureate, em Los Angeles, e aos 19, recebeu o National Youth Poet Laureate, este já um prêmio nacional. Seus poemas encantaram muita gente, a ponto de Hillary Clinton declarar no Twitter que Amanda poderia ser uma candidata a presidente em 2036.

E o que isso tem a ver com o Brasil de hoje? Muito. Conforme escrevi na última semana, vivemos um tempo em que a arrogância virou regra — diálogo franco, status de exceção. Ao ler o discurso de Amanda, independentemente do que haja ali de exagero ou floreio poético, somos realimentados pelo poder de suas palavras e estimulados a assumir nossa parcela de responsabilidade pelo que acontecerá amanhã. Por formar uma união com um propósito. Suas palavras merecem ecoar por muito tempo:

"... estamos longe de ser polidos
longe de sermos intocados
mas isso não significa que estamos
nos esforçando para formar uma união perfeita
Estamos nos esforçando para formar uma união com um propósito
Para compor um país comprometido com todas as culturas, cores, personagens e
condições do homem
E, então, levantamos nossos olhares não para o que está entre nós
mas para o que está diante de nós
Fechamos a divisão porque sabemos que, para colocar nosso futuro em primeiro lugar,
devemos primeiro colocar nossas diferenças de lado
Abaixamos nossas armas
para que possamos estender nossos braços
uns para os outros".