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Rodrigo Hübner Mendes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Polarização: o que cada um tem a ver com isso?

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Imagem: iStock

12/11/2021 06h00

Meus amigos mais velhos dizem que o ambiente político, cultural e midiático jamais esteve tão polarizado. Não há quem não sinta na pele. Famílias começam a deixar de se encontrar, amigos de infância passam a se evitar, relacionamentos conjugais entram em crise. Quando radicalizadas a ponto de gerar intolerância, posições de qualquer natureza atuam como degradadoras da construção de acordos inerentes a qualquer democracia madura.

Limites existem e são decorrentes das leis vigentes. Um debate consistente não comporta argumentos advindos de notícias falsas, discursos de ódio ou crimes de qualquer ordem. Porém, antes mesmo de escutar ativamente, interditamos qualquer colóquio sob o pressuposto de que estamos em lados opostos, como se não fôssemos obrigados a compartilhar as consequências práticas das decisões tomadas na arena política.

Tenho me perguntado como se comportará, daqui a vinte ou trinta anos, uma sociedade formada pela cisão. Que tipo de nação seremos se o padrão de relações que, mal ou bem sempre teve um lugar para a troca de ideias, passar a ser o da divisão incondicional? Quanto seremos capazes de evoluir no caminho de um tecido social mais harmônico, justo, democrático e racional?

As respostas a essas questões ficam bastante nebulosas, se tomarmos como referência o quadro que temos hoje. Não se vislumbram iniciativas no sentido de recriar um campo de diálogo, algo que se apresente como o passo adiante da polarização. A crise em que o país mergulhou não será superada sem essa retomada desse campo. Os problemas crônicos, menos ainda. Como pensar, por exemplo, em uma reformulação na educação que nos faça equiparar aos países com melhores índices de aprendizagem, sem que se crie um pacto nacional em torno disso? Como promover a reconstrução econômica a partir de um estéril cabo-de-guerra? Como conviver em nossos núcleos mais próximos — família, amigos, colegas de trabalho — se partirmos de rejeições "a priori"? Será que discordamos em tudo mesmo? Jamais saberemos rompendo laços e queimando pontes.

É preciso exercitar a generosidade interpessoal para conversarmos com quem pensa diferente. Está cada vez mais explícito que trocar ideias somente com quem pensa igual, além de ineficiente, pode representar mais lenha na fogueira, acirrando as disputas e impedindo os avanços. O esforço pró-diálogo cria condições para que tomemos decisões mais maduras não só no longo prazo, mas para as urgências da ordem do dia, já que nos permite enxergar as questões por diferentes prismas. Vale, a todo tempo, nos perguntarmos se estamos seguindo o movimento da manada ou encarando nossa parcela de responsabilidade nesse árduo caminho de edificar um país em que nossa interdependência nos conscientiza a agirmos pautados pelo coletivo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL