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Anielle Franco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A resistência em defesa de mais mulheres negras na política

Matheus Carvalho
Imagem: Matheus Carvalho

09/08/2021 06h00

Na última semana, representantes do Instituto Marielle Franco e da Coalizão Negra por Direitos estiveram em Brasília para barrar a reforma eleitoral proposta por parlamentares que estão em busca de uma reeleição em 2022 e atuando em causa própria para que isso aconteça. Durante a semana, foram algumas tentativas de pôr em votação na Comissão a PEC 125, mas nenhuma das tentativas pareceram ter dado certo. Mesmo com a manobra desesperada — até sessão às 23h vimos —, não foi o suficiente.

Apesar disso, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, parece estar decidido em seguir com essa reforma em plenário. Ao que parece, em um Brasil com mais de 560 mil mortes por covid-19, milhões de pessoas desempregadas e outras milhões passando fome, não temos assuntos mais urgentes para tratar senão uma reforma eleitoral que em nada beneficiará a maior parcela da população brasileira.

Em ato no Salão Verde, a socióloga Vilma Reis disse que "a reforma virá das ruas" e é com essa energia que quero iniciar essa importante discussão nesta segunda-feira para meus leitores. Não é possível que uma reforma que pode mudar todo o sistema eleitoral que temos hoje seja aprovada sem que haja uma ampla discussão junto da população, para que a mesma entenda o que está em jogo.

O tipo de reforma que estão propondo hoje legitima que criminosos que atuam em territórios periféricos a serviço de políticos antigos, possam intimidar e coagir eleitores para que seu voto seja no candidato escolhido por eles com, por exemplo, a aprovação do retorno ao voto impresso. Além de antidemocrático, trata-se de um sistema extremamente perigoso para a população e os trabalhadores que por exemplo ficariam responsáveis pelos comprovantes de votação. O modelo de distritão proposto também beneficia pessoas sem história na militância ou na política. Nesse modelo as propostas e ideias do candidato para o povo terão pouca relevância, e o dinheiro passará a definir quem serão nossos representantes, que devem ter, cada vez menos, a cara do povo brasileiro.

É importante que consigamos garantir que a população brasileira esteja representada e que quem quiser participar da vida política reúna as condições necessárias para tal. Diferente do que se pensa sobre parte da população negra ter um desinteresse pela política, na verdade, o que acontece é que os homens brancos que ocupam o poder há anos, estão sempre criando novos mecanismos e regras para se manter no poder.

Por isso, ao denunciarmos a Reforma Racista que estão tentando passar no Congresso hoje, também reinvindicamos a ampliação da participação negra e popular nos espaços de poder, a paridade da representação negra na política com acesso proporcional ao fundo partidário, ao tempo de propaganda partidária, bem como cotas de candidaturas e mandatos negros, termos 50% de candidatas e representantes mulheres nas casas legislativas, que a proposta de retorno de voto impresso seja derrubada e que tenhamos uma reforma eleitoral discutida amplamente com a sociedade civil organizada.

Enquanto nossos representantes forem majoritariamente brancos e seguirem agindo em benefício próprio, o avanço das pautas de pessoas negras e periféricas seguirá em passos lentos. É importante que quem está hoje no poder atue não apenas pelos seus, mas pelo conjunto da sociedade brasileira em toda a sua diversidade. Só assim um dia, teremos a chamada "Casa do Povo" refletindo nossa população.