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Incertezas no Brasil complicam planos de crescimento da Fiat Chrysler

28/10/2014 20h53

Por Agnieszka Flak e Alberto Alerigi Jr.

MIlÃO/SÃO PAULO (Reuters) - A Fiat Chrysler Automobiles espera elevar suas vendas de veículos na América Latina em 44 por cento nos próximos cinco anos, mas a piora nas perspectivas e forte queda recente nos volumes de venda no Brasil ameaçam minar suas ambições.

Dois anos atrás, a América Latina ainda era responsável por quase um terço dos lucros do grupo, ajudando a compensar uma queda nas vendas na Europa.

Mas essa contribuição caiu para 17 por cento em 2013 e para apenas 1 por cento no primeiro semestre deste ano, devido a menores incentivos fiscais no Brasil, custos de insumos mais elevados, efeitos cambiais e enfraquecimento das economias locais.

As vendas da montadora na América Latina foram responsáveis no ano passado por um quinto do total comercializado pelo grupo, que espera manter essa participação regional. O grupo estima que as vendas anuais devem crescer 60 por cento, para 7 milhões de carros, incluindo 1,3 milhão na América Latina, em 2018.

Quando revelou seus planos de maio, o grupo mencionou uma previsão de aumento das vendas do setor, feita pela IHS Automotive, para automóveis e comerciais leves na região de 17 por cento, para 6,9 milhões em 2018. Em sua última previsão, no entanto, IHS cortou esse número para 5,7 milhões de veículos, queda de 3,3 por cento ante o nível do ano passado.

"Os mercados do Brasil, Argentina e Venezuela caíram dramaticamente ao longo dos últimos cinco, seis meses", disse Stephanie Brinley, analista da IHS Automotive. "Até 2017 não veremos o mercado acelerar novamente."

Embora as perspectivas de enfraquecimento tenham levado a Ford, por exemplo, a reduzir suas projeções, o presidente-executivo da Fiat Chrysler, Sergio Marchionne, diz que a posição de liderança da empresa no Brasil, com cerca de 21 por cento de market share, lhe garante vantagem sobre as rivais para enfrentar um mercado mais difícil.

Apesar de continuar sendo líder no Brasil, a participação da empresa caiu ao menor nível em duas décadas no ano passado, com rivais como Toyota e Hyundai abrindo novas fábricas e oferecendo modelos de carros compactos mais novos. Além disso, o número de montadores no Brasil triplicou desde 1992.

 

FÁBRICA EM PERNAMBUCO

A Fiat Chrysler tem mantido sua participação de mercado no Brasil neste ano ao compensar parcialmente a queda de 18,7 por cento nas vendas de automóveis com um aumento de 20,5 por cento em comerciais leves, segundo dados da Anfavea.

A empresa também tem contado bastante com as vendas para frotas comerciais, o que pode reduzir suas margens no futuro, disseram analistas.

"Eles não estão apostando tanto quanto as outras marcas, porque já têm quase 45 por cento de suas vendas para locadoras e outras empresas de frota com grandes descontos", disse Raphael Galante, da consultoria especializada Oikonomia. Os descontos podem chegar a 25 por cento, acrescentou.

Galante disse que o preço médio de carros novos da Fiat podem ser cerca de 20 por cento menor que a média do mercado, sugerindo que a empresa tem dependido de clientes de baixa renda, a fatia de mercado mais vulnerável a problemas na economia.

A Fiat tem uma linha de produtos mais antiga do que as rivais na América Latina, mas isso pode mudar quando abrir uma nova fábrica no Brasil em 2015, esperando atrair a classe média mais alta e a demanda por utilitários esportivos. A fábrica de Pernambuco deve começar a produzir o pequeno Jeep Renegade no primeiro trimestre do próximo ano, com outros dois modelos em seguida.

Marchionne disse que a fábrica permitirá que a Fiat retome a margem operacional de dois dígitos no Brasil em 2017, primeiro ano que a nova fábrica irá operar com plena capacidade. A margem operacional da montadora na América Latina ficou em 5 por cento no ano passado.